Felix não via nada além da escuridão. O saco áspero sobre sua cabeça roçava em sua pele suada, o cheiro de poeira e sangue seco impregnando suas narinas. Cada passo dos guardas que o arrastavam ecoava nos corredores de pedra, pesados e impiedosos, como marteladas em sua mente já atordoada. Ele tentava manter os pés firmes, mas suas pernas vacilavam, incapazes de sustentar seu peso.
Suas mãos estavam presas por algemas de ferro bruto, que pareciam queimar contra sua pele. O metal drenava a força mágica que corria em suas veias como um rio congelado. Ele não precisava ver para saber que seu corpo estava coberto de ferimentos — cortes profundos, hematomas escurecendo em tons de púrpura e azul. Cada movimento fazia sua pele latejar, como se as feridas dançassem ao ritmo da dor.
Finalmente, o som de uma porta pesada sendo destrancada o trouxe de volta à realidade. Ele sentiu o cheiro azedo da umidade antes de ouvir a voz grossa de um dos guardas.
— Jogue-o dentro.
Antes que pudesse reagir, Felix foi empurrado com força, suas costelas batendo contra o chão frio e áspero da cela. Ele grunhiu de dor, mas o som ficou abafado pela mordaça apertada contra sua boca. O saco foi arrancado de sua cabeça com um puxão brusco, e por um momento, seus olhos castanhos arderam com a súbita exposição ao ar mofado e ao vislumbre de tochas fracas.
Os guardas se afastaram sem uma palavra, fechando a porta da cela com um estrondo. O som do trinco ecoou como um sino de condenação. Felix, deitado no chão, respirava com dificuldade, os pulmões ardendo. Ele moveu a cabeça lentamente, tentando se orientar na penumbra.
A cela era minúscula e sufocante, as paredes de pedra cobertas por musgo escuro. Um único feixe de luz fraca escapava por uma abertura alta e estreita, mal iluminando o espaço. As correntes das algemas estavam presas a uma argola na parede, limitando seus movimentos. Ele tentou puxar os braços, mas o metal mordia seus pulsos com brutalidade.
Seus cabelos loiros, antes brilhantes e lisos, estavam desgrenhados e grudados em sua pele pelo suor e pelo sangue seco. Ele sentiu um corte profundo na lateral do rosto, o líquido quente ainda escorrendo lentamente até seu queixo. Sua língua pressionou a mordaça, tentando aliviá-la, mas a tira de couro permanecia firme.
Seus olhos vasculharam a cela com atenção. A escuridão parecia mais densa ali, como se algo sombrio e opressor estivesse escondido nas sombras. Felix sentiu um calafrio que não vinha do frio da pedra — era algo mais profundo, uma sensação de que aquele lugar sugava mais do que sua magia; sugava sua essência.
Ele tentou se concentrar. Tentou invocar o gelo que corria por suas veias como um instinto natural. Sentiu o chamado familiar, uma faísca de energia... mas nada respondeu. As algemas fizeram seu trabalho, anulando o que o tornava poderoso. Ele soltou um grunhido de frustração, afundando contra a parede.
Os ecos das gotas de água pingando em algum lugar próximo eram os únicos sons que preenchiam o vazio. Felix fechou os olhos, respirando fundo. Ele precisava de um plano. Precisava pensar. Mas sua mente, entorpecida pela dor, só conseguia repetir uma verdade amarga: ele estava preso. Desarmado. Sozinho.
E pela primeira vez em muito tempo, Felix sentiu o gosto metálico do medo.
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Trono destruído
FanficNa terra distante de Terrasen, onde feéricos de poderes elementares governam vastos reinos, Felix, um assassino notório com a habilidade de manipular gelo, é capturado pelo Estado após uma missão fracassada. Preso em uma masmorra, ele aguarda sua ex...