Camila Cabello

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Dei milhares de voltas por aquela faculdade atrás daquelas duas e não vi nada além de vazio nos corredores. O horário de aulas já havia começado e com isso minhas chances diminuíram bruscamente, por mais que eu quisesse não poderia invadir todas as salas atrás delas. Me dei por vencida depois da minha terceira ronda pelo subsolo, eu já estava angustiada e levemente irritada por não conseguir o que queria. O último lugar em que lembrei de olhar foi o antigo salão de apresentações que ficava escondido em uma das extremidades do prédio. Até onde eu sei alunos não eram permitidos lá e muito menos aulas eram ministradas, pois estava tudo muito desgastado, mas fui mesmo assim lembrando que era para lá que eu fugia quando queria filar aulas ou pensar nos meus problemas.

Minha portinha secreta ainda funcionava. Entrei no salão e o clima de nostalgia se instalou em mim na mesma hora. Ele parecia mais limpo do que eu me lembrava, deveria estar sendo finalmente restaurado como prometeram por tantos anos. O lugar tinha a mesma estrutura de um teatro, o palco não tão grande ficava em um nível mais baixo enquanto as fileiras de cadeiras vermelhas iam crescendo de nível à medida que se afastavam. As paredes cobertas parte por um carpete avermelhado e parte por um papel que recriava a arquitetura clássica. Fui seguindo o olhar por todo o local, analisando todos os detalhes que me recordava, até que me deparei com uma silhueta na penúltima fileira. Estreitei os olhos e não acreditei quando notei encontrar justamente quem eu procurava.

Fiz meu caminho até ela cautelosamente para não chamar sua atenção, mas acabei esbarrando em um balde e ela moveu a cabeça em minha direção notando minha presença. Ela não parecia saber exatamente onde eu estava, mas aqueles curativos estavam direcionados diretamente em meus olhos. Aquilo era de certa forma assustador.

– Quem está ai? -­ meus medos se foram ao ouvir um traço de pânico em sua voz, ela com certeza estava mais cautelosa do que eu – Me desculpe por vir aqui, eu sei que é proibido, mas...

– Quer dizer que você descobriu meu lugar secreto? ­- a interrompi me aproximando lentamente. Pude ver sua expressão mudar, confusa.

– Me desculpe – pareceu mais uma pergunta do que uma afirmação – Eu vou sair.

Ela levantou e se apressou em fazer seu caminho para a entrada de uma forma rápida demais para alguém que não podia ver. Coloquei meu corpo em sua frente, mas do contrário que eu esperava ela se bateu contudo em mim.

– Você precisa parar com essa coisa de se chocar contra mim – grunhi massageando meu braço. - Aonde está o seu sexto sentido?

– Me desculpe! Eu não sabia que você estava aqui – o nervosismo já estava mais do que evidente em suas palavras. Será que eu a estava assustando tanto assim?

– Você se desculpa demais.

Um silêncio se instalou e eu olhava fixamente para aqueles enormes curativos que cobriam seus olhos, eles estavam curiosamente imóveis. Ela parecia assustada, eu podia notar o medo que estava sentindo naquele momento.

– Por favor, não faça nada comigo.

Sua voz saiu como um fiasco e me atingiu direto no peito. Voltei para o meu eu e percebi o que estava fazendo. Quão imatura eu poderia ser? Aquele tom me fez questionar se situações assim eram recorrentes em sua vida e eu desisti completamente do meu plano besta que envolvia mais medo do que ela sentia agora, todas as minhas atenções estavam voltadas para ela.

A analisei por um momento e só então retirei meus olhos dos seus me deparando com uma beleza inesperada. Meu olhar baixou lentamente pelo seu nariz empinado e fino até seus lábios carnudos avermelhados, o inferior preso entre os dentes. Seu rosto definido em traços firmes e leves, sinal de que já estava se moldando mulher, emoldurados pelos cabelos lisos que caíam despojados pelos lados. Meus olhos continuaram baixando por todo seu corpo magro e muito bem estruturado coberto por uma blusa de manga cumprida cinza sobre o que parecia ser um vestido branco que chegava a até metade de suas pernas.

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