Strike Dois

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Passei a noite inteira no hospital e o dia seguinte quase todo. Chris ainda estava sentindo os efeitos colaterais e dessa vez não foram os médicos que o privaram de sair, fui eu. Sabia que no seu estado o melhor a se fazer era deixa-lo sob os cuidados profissionais até que sua saúde estivesse cem por cento recuperada. Minha noite em especial foi mal aproveitada, Chris não demorou a dormir por conta de seu cansaço e dos remédios, e eu permaneci absorta em meus pensamentos, reavaliando os riscos que eu estava disposta a correr com a escolha que havia feito. Quando Camila passou era quase duas da manhã, ela me entregou uma mochila bastante cheia e partiu logo em seguida, já que não era permitido mais de um acompanhante durante a noite e eu estava preocupada demais para deixa-lo sozinho por muito tempo. Sentei na falsa aconchegante cadeira do quarto com o notebook no colo e encarei a tela por algum tempo até, finalmente, resolver seguir em frente com meu plano.

Acordei no outro dia com a conversa divertida entre meu irmão e uma enfermeira que avaliava seu estado, as vozes alegremente alteradas e os risos de uma piada besta fizeram o trabalho de me despertar. Já era tarde, eu havia perdido o almoço, mas eis que minha namorada me surpreende novamente com um lanche reforçado de sanduíches, frutas e verduras, todos cuidadosamente separados e arrumados em diversas vasilhas dentro da mochila, prontos para serem encontrados por mim em um momento de desespero. Peguei o celular e pedi um minuto para Chris enquanto me retirava para falar com a mais nova.

- Bom dia - ela gritou do outro lado depois de cinco toques da chamada, provavelmente havia fugido de alguma tarefa para me atender.

- Eu te amo - disse em um suspiro apaixonado enquanto soltava o corpo contra a parede do corredor - Muito. Não sei o que faria sem você.

- Own... - ela falou da mesma forma apaixonada e eu suspeitei que suas ações tenham repetido as minhas - Você achou a comida, não foi?

Ri com sua presunção, suprimindo os ruídos logo em seguida ao me deparar com a cara feia de uma mulher que vinha do quarto ao lado.

- Você me conhece tão bem - balbuciei me esticando ao sentir meu corpo pedir por uma boa espreguiçada.

- Não é tão difícil assim - eu sabia que um sorriso estava tomando seus lábios nesse momento graças ao seu tom brincalhão - Dormiu bem?

Eis que meu sossego foi por água a baixo. A vida é uma merda quando você tem segredos, e o que eu guardava nesse momento não era nada bom. Não sei se era coisa minha, provavelmente era Camila mesmo, mas eu não conseguia esconder nada dela propriamente. Me corroía os ossos e me consumia horrores. Droga, o que eu deveria fazer? Se eu dissesse a verdade sobre minha noite ocupada em frente ao notebook ela me questionaria o porquê e eis que esse eu não sabia ao certo como lhe contar. Se eu mentisse ela ia descobrir, porque ela simplesmente sempre descobre.

- Não muito, durei um tempo ainda conversando com o Chris e a cadeira não era tão confortável assim - não menti e nem contei toda a verdade, acho que foi uma boa escolha.

- Ele está melhor?

- Sim, ontem mesmo ele já estava bastante lúcido. Um pouco lerdo, mas lúcido. Onde você está?

- Vim para a casa dos meus pais, não quis passar a noite sozinha - meu coração se apertou ao saber daquilo, pior ainda era saber que eu não poderia ter feito nada realmente. Sua voz pronunciou algo, mas estava distante o suficiente para eu saber que não era comigo. Um zumbido se fez mais ao longe e logo o telefone gritava meu nome com uma doce e alegre voz.

- Lauren! - sorri feito boba ao reconhecer a voz de Sofia, animada, do outro lado da linha - Por que você não veio?

- Desculpe, é que eu estou cuidando do meu irmão.

RequiemOnde histórias criam vida. Descubra agora