Porto Seguro

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Finalmente chegou a hora de ir até a casa da Camila para a tal conversa. Eu estava tão nervosa que me sentia como quem marcou uma sessão no terapeuta pela primeira vez, mas meu medo não era abrir minha vida para um estranho e sim relembrar a minha vida até então. Eu era o tipo de pessoa que preferia não lidar com os sentimentos ao invés de enfrenta-los, confrontos físicos, pelo contrário, eram mais fáceis para mim. O fato de guardar essas coisas me desgastava de uma forma nada saudável e piorava cada dia mais.

Apesar dos meus medos eu estava ansiosa para falar de forma mais profunda com alguém e Camila parecia ser a pessoa mais indicada no momento. Ally era a minha amiga dessa horas, não que eu não confiasse em Normani, mas eu e Ally tínhamos essa relação mais profunda, mais permissiva. Isso acontece na vida de todo mundo, nenhuma amizade é igual a outra e cada uma tem seu lado mais desenvolvido. Mas minha confidente não estava aqui e nem eu sentia como se pudesse descarregar aquilo sobre ela, já que sua situação estava pior do que a minha.

Dispensei o táxi e congelei na entrada de sua casa. Alejandro realmente não era tímido quando se tratava de esbanjar seu poder aquisitivo, mas uma ponta de dúvida me fazia acreditar que aquilo era mais a cara da mulher dele. Por falar nela, se eu a surpreendesse em sua casa procurando por Camila com certeza me mataria, pelo menos é o que eu faria depois da insinuação que fiz sobre uma futura amizade com suas filhas. Rezei até o momento em que toquei a campainha, pedindo a Deus para que dona Sinu não estivesse em casa.

- Só um momento - reconheci a voz de Camila do outro lado e relaxei quase que imediatamente. O ar deixando meus pulmões. - Oi - a porta se abriu e eu me assustei ao me deparar com a cena à minha frente.

- O que...

- Laur, vai entrando que eu estou terminando de trocar os curativos. - ela me cortou dando espaço para que entrasse.

Esbanjei um sorriso ao ouvir a variação do meu nome que saiu de sua boca e fiz meu caminho porta a dentro com um sorriso enorme e observando uma Camila atordoada se movendo de um lado para o outro, parecia perdida em suas próprias ações. Suas mãos iam segurando o que parecia ser um pano sobre seus olhos.

- Você quer ajuda para alguma coisa? - segurei o riso, ela parecia uma barata tonta. Parou por um momento parecendo ponderar minha solidariedade, fechou a porta e me pegou pelo braço puxando-me através do cômodo.

- Nunca fiz isso sozinha então vou precisar de sua ajuda. - ela contornava os móveis com uma habilidade que nem eu, na plenitude da minha visão, possuiria.

- Então seus pais não estão em casa?

- Não, papai está trabalhando e minha mãe está em uma viagem de negócios. - Ok, com certeza eu estava bem mais relaxada com a certeza de não poder esbarrar com a megera a qualquer instante.

Subimos a escada e deduzi correto quando fomos direto para seu quarto. Mal tive tempo de reparar nele e já corremos diretamente para seu banheiro.

- Eu mando e você faz, está bem? - ela disse ofegante.

- Calma, o que eu vou fazer?

- Trocar meus curativos porque eu não consigo - ela rosnou as duas últimas palavras, me arrancando um riso.

- Relaxe que Lauren está aqui - um sorriso surgiu em seus lábios enquanto balançava a cabeça. - Como eu começo?

- A pior parte eu já fiz, você só tem que pregar a fita em cada extremidade do curativo e colocar pressionado sobre meus olhos.

- Entendido.

Em cima da pia já estavam todas as coisas que me pareciam ser necessárias para a tarefa, me apressei o máximo possível porque ela parecia sentir um certo de desconforto, não sei se incomodava de alguma forma não tê-los ou se ela se sentia desprotegida sem eles, mas seu corpo sacudia impaciente ao meu lado e aquilo já estavam me dando nos nervos. Depois de ter os dois prontos me virei em sua direção e o pano não cobria mais seus olhos. Pela primeira vez eu tinha uma visão completa de seu rosto, mesmo que seus olhos ainda permanecessem fechados com alguns esparadrapos, era como se tudo se encaixasse perfeitamente na sua feição.

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