A Paz que Eu Encontro

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Acordei pelo que deveria ser a terceira vez só naquela noite para checar o sono da mais nova. Depois de seu pedido para me deitar ao seu lado foi quase inevitável não fazê-lo, mas então percebi que foi só um delírio inconsciente. Resolvi que dormiria no sofá, além de ser meio termo para ambos o quartos, também era o mais próximo que eu poderia ficar de Camila no momento. Eu queria ter dormido com ela, mas algo em mim dizia para respeita-la, já que eu não sabia o quão alterada ela havia ficado.

Espiei pela porta e encontrei-a em uma posição completamente diferente de todas as outras vezes. Era divertido ver que sozinha ela se espojava por todo o espaço que lhe era dado e, quando dormíamos juntas, ela se agarrava a mim por toda a noite. Voltei para o sofá, ajeitando as almofadas que eu estava usando de travesseiro e estirei o cobertor sob mim, a noite estava fria e minha melhor fonte de calor estava em outro cômodo. Me fiz confortável novamente e encarei o teto branco enquanto sentia minha mente esvaziar.

- Por que você está dormindo aqui na sala? - Camila surgiu na porta de seu quarto com os cabelos desgrenhados e com a mão aflita roçando em seus olhos.

- O que? - foi tudo que eu manejei dizer, eu estava um pouco assustada com sua presença ali. Agora a pouco havia constatado a intensidade de seu sono e fui surpreendida pela má interpretação da minha visão.

- Por que você não está lá comigo? Eu não quero dormir sozinha - seus murmúrios eram como os de uma criança emburrada e me arrancavam sorrisos despercebidos.

- Me desculpe, pensei que não seria uma boa ideia...

A mais nova se pôs a andar e quando me dei conta ela estava sentada sob minha cintura, uma perna de cada lado do meu corpo e as mãos sendo usadas de apoio para segura-la próxima ao meu rosto.

- Por que não seria? - ela estava tão perto e tão sexy. Seus cabelos correram para o lado quando ela jogou a cabeça na mesma direção. Eles estavam cheios e desgrenhados. Me fazia lembrar nossas noites mal dormidas. - Eu sinto sua falta.

Aquelas palavras me pegaram de surpresa e nossos olhos se fixaram como em validação de nossas ações.

- Me desculpa. Desculpa por ser idiota, por ter feito aquelas coisas, por ter te tratado daquele jeito e por ter te assustado, eu juro que a última coisa que eu queria era...

Eu nem percebi quando ela se aproximou e juntou nossas bocas, interrompendo minha fala e arrepiando todos os fios de cabelo do meu corpo. Meus olhos se mantiveram abertos, ainda em susto, e eu observava a expressão branda em seu rosto enquanto me beijava. Como se ela pudesse sentir que eu a admirava, seus olhos se partiram abertos, lentamente, e sorriram para os meus antes de nossas bocas se separarem novamente.

- Já passou e eu não te culpo, as duas agiram errado - a doçura daquele momento pairava no ar e ia muito além de qualquer palavra e gesto dito ali. Com uma das mãos ela me acariciou o rosto ternamente e continuou com nossa troca de olhares que pareciam chegar diretamente na alma. Ela se curvou novamente e juntou nossos lábios da mesma forma de antes.

Por que ainda me restavam dúvidas? Por que eu ainda temia o futuro de nossa relação? Se ela tinha tanta fé em mim, por que eu não era capaz de fazer o mesmo? De novo eu não retribuí seu gesto da forma esperada; de novo meus olhos se mantiveram abertos, ainda presos à realidade dos meus medos e inseguranças. Mas, dessa vez, ela não recuou totalmente e muito menos de deu ao trabalho de abrir os olhos.

- Me beija - ela pediu com os lábios sobre os meus, o polegar acariciando meu rosto levemente.

- Camz, e se...

- Me beija - ela me interrompeu reafirmando sua fala anterior - Eu preciso de você.

Aquele foi o meu limite, seus lábios dançando cada palavra sobre os meus, seu hálito quente atiçando todas as partes do meu corpo. Usei das minhas mãos, antes duvidosas em como agir, para segurar-lhe a cintura enquanto eu erguia corpo em busca de outro beijo. Camila segurou meu rosto e levantou junto comigo, juntando nossas bocas apenas quando estávamos ambas sentadas.

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