Diferentes Realidades

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Acabou que não passei apenas uma noite com Camila e sim todo o fim de semana. Nada demais ocorreu, pelo menos nada ligado a relações físicas mais aprofundadas, não pelo fato de não querer porque pra mim ela era bastante irresistível, mas porque não parecia a hora certa. Camila não facilitava para mim, suas investidas estavam cada vez mais ousadas e seu beijos cada segundo mais experientes. Ela não parecia fazer de propósito, era tudo como um impulso desconhecido que ela ainda não sabia controlar.

Fora a parte física, nós nos aproximamos bastante nesses dois dias grudadas, pude ter um gostinho do que seria uma rotina ao seu lado e não me pareceu nada mal. Eu estava certa quando disse que ela não era uma pessoa matinal, acordar ao seu lado me fazia arfar, seu corpo sempre grudado ao meu em um certo tipo de posse, sua expressão serena, os cabelos soltos e completamente desgrenhados, o corpo coberto por uma blusa maior do que ela; mas quando ela era obrigada a levantar vinha o sufoco. Além das reclamações ela sabia fazer o pior: choramingar. E nisso ela era perfeita. Eu me divertia tentando convencê-la a deixar as cobertas.

Sai de seu apartamento apenas para pegar o essencial. Me bati com Normani enquanto arrumava minha pequena mala e, como esperado, recebi um batalhão de questionamentos, mas não resolvi entrar em detalhes. Prometemos conversar com as meninas assim que tivéssemos a chance e seria algo que faríamos juntas. Pra mim não fazia diferença, eu não estava nem um pouco preocupada com o que pensariam disso. Não que a opinião delas não me importasse, mas eu de certa forma sabia que iriam gostar de saber e mesmo que não fosse esse o caso, eu estava apaixonada demais para me deixar abater.

O tempo com Camila parecia voar e realmente foi o que aconteceu. Quando me dei conta já era domingo e seria nossa última noite juntas. Não sei até que ponto era saudável estarmos assim, uma na cara da outra, por muito tempo e tem coisas que eu precisava resolver ainda, então deixá-la era um mal necessário. Passamos os dois dias enfurnadas dentro de casa, não saímos nem para comprar comida já que eu tive a incrível ideia de testar meus dotes culinário ao seu lado. Para minha surpresa ótimas refeições foram preparadas todas as vezes, boas risadas foram dadas à todo momento e muitos beijos partilhados. Eu já sentia como se aquela fosse minha vida. Mas ainda não era.

Chegamos juntas na faculdade na segunda-feira chamando a atenção de todos novamente, as pessoas pareciam reparar em tudo e eu estava começando a me perguntar quando isso acabaria. Foi esperado e engraçado no começo, mas agora já atravessava alguns limites, inclusive por ter Camila no centro das atenções e, com certeza, na mira de alguns idiotas. Evitamos muito contato durante o tempo que passamos juntas em público, era difícil manter minhas mãos longe dela e eu notava que esse não era um sofrimento exclusivo meu. Nos encontramos algumas vezes após as aulas e mais tarde para um almoço com Normani e Dinah, tudo correu normal e o mais comportado possível já que nenhumas das meninas fez piadinhas com relação a nós duas.

- Laur, espera! - ouvi Normani me gritar ao longe me fazendo cessar os passos no meio do corredor. - Nós temos aula juntas agora.

- Nós temos? - perguntei confusa, ela era um semestre à minha frente, logo isso não era possível.

- Sim, não peguei história da música semestre passado porque, você sabe, história não é muito a minha praia e resolvi me inscrever quando lembrei que você pegava dia de hoje.

- Esperou para colar de mim?

- Claro, até porque eu sabia de sua volta. Foi tudo calculado.

- Quase tudo, você não calculou o fato de que eu não vou assistir aula hoje. - ela fechou a cara em um mix de raiva e confusão. - Preciso resolver umas coisas e volto tarde para casa. Não me espere acordada, baby.

Me despedi com um beijo em seu rosto e me retirei antes que ela pudesse contestar ou até mesmo tentar me manter ali. Eu não menti quando disse que teria coisas a resolver, sabia que ela pensava que eu estava apenas inventando uma desculpa para filar aula, mas eu não podia adiar mais meus afazeres. Por um momento, um breve momento eu me deixei levar pela ideia de boa vida que estava levando, Camila, meu pai, a faculdade... aquilo era muito, mas não era tudo. Ainda havia assuntos a serem tratados e outros a serem resolvidos, quanto mais rápido eu me livrasse deles, mais rápido poderia retomar o sonho que estava adorando viver de olhos bem abertos.

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