Requiem

Ordens

- Me liga assim que chegar, tá? - ela falou pela milésima vez ainda agarrada ao meu corpo com aquele olhar de quebrar qualquer coração de pedra.

- Pode deixar, Camz. Avisa as meninas pra mim, não queria falar por mensagem e você vai saber explicar melhor. - ela sacudiu a cabeça e me roubou um último beijo antes de me soltar. - Eu te amo.

- Também te amo.

- Volto já. - sorri para ela e joguei o corpo para dentro do carro preto que me aguardava na frente de seu prédio. O motorista já deveria estar impaciente com nossa longa despedida, realmente parecia que íamos passar meses sem nos ver, mas na verdade era só amor demais.

Dei o sinal para que partíssemos e assim ele o fez. Não me permiti nem olhar pela janela, eu sei o quão difícil de lidar seria isso e Camila já parecia triste o suficiente para que continuássemos alimentando a situação. Fechei os olhos buscando o descanso e reconforto que me foi abstinente noite passada, eu queria ficar tanto com a mais nova que mal preguei os olhos, nem mesmo quando ela já o havia feito. Eu apenas fiquei lá a observar, a admirar a suavidade do seu sono e a tranquilidade de seu descanso.

Olhando-a naquele momento eu via um resumo de toda a minha vida e via também um fim. Eu não sei se acredito em almas gêmeas ou pessoa perfeita para você, mas eu acredito que existe uma tampa para cada panela. Não precisa ser a tampa que se encaixa perfeitamente, é ai que as pessoas se enganam e tentam fazer da vida um conto de fadas. Você não precisa de um encaixe perfeito, você precisa encontrar um encaixe que funcione e o resto, bom, o resto dá pra ajustar com o tempo. Camila era a panela, uma daquelas bujudas, coloridas e que te seduzem todas as vezes que você decide cozinhar fazendo que a use sempre.

Eu era uma tampa. Daquelas antigas, sem muito adereço, sem muita graça e desgastada. Eu já vaguei por algumas panelas e acho seguro dizer que já achei meu encaixe perfeito uma vez, mas simplesmente a perfeição não era o que eu estava buscando. Então, no meio das mudanças eu vim parar na mesma cozinha que ela, Camila, e foi amor à primeira vista. Como aconteceu com todas as outras. Mas comigo foi especial, porque aconteceu dela se apaixonar de volta.

Abri os olhos assim que percebi que estava sorrindo demais sem nenhum motivo aparente, sempre que eu pensava na mais nova era quase inevitável fazê-lo. Ela era sinônimo de felicidade na minha vida. Deixei meus pensamentos flutuarem desenfreados enquanto acompanhava o trânsito caótico que tomava as redondezas. Nova Iorque era uma cidade difícil, não era qualquer um que conseguia se acostumar com a vida de torturantes rotinas e movimento intenso. Seria bom voltar para Miami. Respirar novos ares e relembrar o que hoje me era passado.

- Bom dia senhorita Jauregui - um loiro alto e forme, bastante formalizado, me recepcionou com um sorriso no rosto e um aperto de mão.- O seu pai já saiu e mandou que a senhorita seguisse para a cobertura, lá receberá instruções e os papéis das transações.

Concordei com a cabeça e seguimos todos para o elevador exclusivo de CEO, era uma das poucas vantagens de ser dono da empresa. Quando entrei na caixa de metal que me dei conta de como estava sendo seguida. Havia quatro seguranças, uma mulher que parecia ser assistente e o tal brutamontes. Oliver, dizia o crachá em seu paletó.

Quando chegamos à sala do meu pai foi como estar de volta ao colégio novamente, só que em tempo recorde de aprendizagem e memorização. Foram cuspidos diversos casos, temas, enquetes e valores da empresa em menos de quarenta minutos. Sempre que se terminava um, pediam minha confirmação e então seguiam para o outro. O que eu pensei que seria simples estava se mostrando um tanto complicado e eu teria que me envolver mais do que desejava. Dei uma longa suspirada e me coloquei a analisar os protocolos e arquivos que me foram dados assim que cheguei. Cada um trazia uma informação diferente, todos com uma análise aprofundada do tal problema e no final, uma pequena nota do meu pai.