Eu não fui atrás dela. A indecisão dentro de mim não permitiu que eu me movesse durante uns bons minutos e quando me dei conta já era tarde demais para qualquer coisa. Essa sou eu, a pessoa que não precisa de ninguém, que não se apega a ninguém e muito menos corre atrás de alguém. Por mais que tentasse me convencer dessas coisas agora, havia um peso dentro de mim, algo semelhante ao remorso, o arrependimento de uma chance perdida que batia forte contra minha cabeça em um castigo intermitente. No fundo no fundo eu sabia a merda que tinha feito, mas meu instinto de manter as aparências era mais forte e vinha à tona. Nem uma lágrima escorreu por mais intenso que fosse meu desejo de chorar naquele momento, nem uma ideia maluca me veio à mente para consertar aquilo tudo e nem um traço daquela trama toda dentro de mim foi externado. Eu vestia a máscara perfeita.
De repente a festa se tornou mais perturbadora do que já estava sendo para mim, era quase um purgatório do qual eu queria sair, mas não conseguia e aos poucos eu ia sofrendo. Sentei em um dos bancos da cozinha e avistei uma garrafa de vodca bem à minha frente com um copo ao lado. Parecia uma armadilha premeditada, e eu estava prestes a cair como um coelho. Dessa vez eu não tive muitas forças para combater meus instintos, me deixei levar trazendo o copo para mais perto e virando um pouco do líquido da garrafa para dentro dele logo em seguida. Encostei o rosto na beirada para sentir aquele cheiro forte e azedo de álcool, do qual eu tanto fugi recentemente, e pensei de novo se deveria ou não fazer aquilo. Aquele cheiro me trazendo parte do juízo de volta.
- Olha o que temos aqui, quem é vivo sempre aparece. - Torci o rosto em uma careta ao reconhecer aquela voz e me virei sem acreditar.
- Pelo amor de Deus, você não. - bufei me voltando para frente novamente e pegando o copo em minhas mãos.
- Bom te ver também gatinha.
- Sai daqui Keaton. - alertei vendo-o fazer exatamente o contrário, parando encostado no balcão ao meu lado.
- É assim que você me recepciona depois de tanto tempo? Não sentiu minha falta? - seus dedos correram pelo meu braço me fazendo chegar mais para o lado oposto.
- Desejei sua morte, mas to vendo que não deu muito certo. Vou tentar de novo mais tarde.
- Por que tão bruta? Você sabe que o que eu mais gostava em você era isso né? Essa grosseria... Me dá vontade de te agarrar. - ele se aproximou sussurrando as últimas palavras em meu ouvido. Não vou mentir negando o arrepio que percorreu minha pele ao ouvir sua voz tão próxima e provocante, eu estava me condenando amargamente por sentir qualquer coisa depois do que ele fez, mas uma coisa que aprendi hoje é que nem sempre nosso corpo faz como a gente quer.
Desviei novamente de sua proximidade exagerada e pulei para o banco ao lado levando a garrafa de vodca comigo.
- Eu não vou sobreviver essa noite sem isso aqui, foda-se. - encaixei a ponta na boca e virei o líquido com tudo para dentro do meu organismo, grunhindo a cada gole dado com a queimação que se fazia garganta à dentro. Apertei meus olhos e me mantive firme até que não pude mais, já não havia sensibilidade em nenhuma parte da minha boca e a tontura me bateu assim que baixei a cabeça junto com a garrafa.
- Nossa, você está ainda pior do que me lembro. - Keaton brincou me lembrando de sua presença indesejada ali.
- Você não sabe nada sobre mim.
- Na verdade eu sou a única pessoa aqui que te conhece muito bem. - enfatizou o muito me fazendo notar suas intenções.
- E daí que a gente transou? Pelo amor de Deus, pare de ser uma criancinha que ganhou um doce. Foi só uma transa e fim, você mesmo fez o favor de terminar isso transando com todo o restante do colégio. - sorri ironizando e ele se sentou no banco que antes eu estava.
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Requiem
FanfictionLauren Jauregui é uma herdeira multimilionária, que, após afastada de sua vida contra sua vontade, por um ano inteiro, consegue retornar a Nova York para acertar as coisas com seu pai. Ela tem tudo sob controle até conhecer Camila, uma garota que va...