Bem Acompanhada

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A conversa com meu pai havia tomado um rumo completamente diferente do esperado por mim ao ir à seu encontro essa manhã. Eu não estava pronta para aquilo, por mais que eu demonstrasse ser a pessoa mais impassível do mundo, não era sempre que eu tinha forças para manter as aparências e aquilo definitivamente me deu uma rasteira. Me condenei amargamente por ter demonstrado fraqueza na frente daquele monstro, eu até chorei. Onde eu estava com a cabeça quando me permiti ser tão transparente? Não cometeria esse erro de novo, não mesmo. A esperança é persistente, é brava, é egoísta, mas morreu dentro de mim assim que pisei fora daquele prédio deixando para trás todos os meus erros, as minhas fraquezas... As coisas agora seriam diferentes.

Cheguei no apartamento de Normani dando graças por não encontrá-la ali, por mais que eu sentisse que precisava descarregar eu não queria fazê-lo e se ela me visse nesse estado com certeza saberia que havia algo de errado. Tomei um banho frio para acalmar os nervos e deitei na cama, meu corpo dava os mais fortes sinais de cansaço e desgaste, mas eu teimava a segurar os olhos abertos o máximo possível, atentos a um programa qualquer que passava na tv. Eu não tive nem a coragem de pegar o controle sobre a bancada para mudar de canal. Quando finalmente cedi ao sono meu celular tocou.

- Senhorita Jauregui? - uma voz masculina desconhecida. Tirei o celular do ouvido para olhar o visor, não conhecia esse número.

- Quem gostaria?

- Sou o advogado do seu pai, ele me mandou que te procurasse para resolver algumas questões. - suspirei sem acreditar, eu havia mesmo assustado o velho. - Essa é uma boa hora?

- Na verdade, essa é uma péssima hora. O que você acha de amanhã? - cocei os olhos, minha voz já estava pesada com o sono.

- Podemos nos encontrar para almoçar então?

- Claro.

- Até amanhã, senhorita.

Grunhi algo que nem eu mesma entendi e joguei o celular no chão, afundando minha cabeça contra o encosto do sofá. Não sei por quanto tempo apaguei, mas o céu la fora já estava escuro e a calmaria denunciava ser depois das dez. Me revirei sentindo cada centímetro do meu corpo reclamar pela má posição que fiquei e por ter me atrevido dormir por tanto tempo naquele espaço apertado, corri os olhos pela sala, procurando sinais da tv, quando vi Normani sentada na cadeira ao lado perdida em seus pensamentos.

- Mani? - chamei com cautela, eu conhecia aquela expressão. - Aconteceu alguma coisa?

Ela pareceu despertar de seu transe e me olhou desolada, a dor visível em seus olhos mesmo com toda a escuridão do lugar. Despertei imediatamente me colocando sentada ao ver que não receberia uma resposta se não insistisse mais.

- Mani? O que aconteceu? - seus olhos se encheram rapidamente de lágrimas como se tivessem lutado muito tempo para impedir que elas saíssem.

- O avô da Ally - ela pausou quase que dramaticamente, a visível luta dos lábios para finalizar a frase - Ele faleceu ontem à noite.

Senti meu coração parar de bater por alguns longos segundos ao ouvir aquilo. Meus olhos se arregalaram em espanto como seu eu tivesse presenciado tudo ali na minha frente, naquele exato momento. O senhor Brow, que era como ele me fazia chamá-lo desde pequena, não estava mais entre nós e eu senti a dor em um único baque não sobrando nem tempo para raciocinar o que havia acontecido. Minha mente então correu diretamente para Ally, a pequena deveria estar sofrendo muito, ela era tão apegada a ele. Os dois tinham um relacionamento muito bonito e eram quase como pai e filha, não tentava nem em imaginar como ela estava se sentindo.

Me coloquei de pé quase que abruptamente decidida que iria a seu encontro, ela precisava de mim e não seria um medo meu que iria me impedir de estar ao seu lado. Não depois de todo esse tempo longe dela.

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