Requiem

Ex-Burguesinha

Voltei para o térreo sem me dar o trabalho de desviar os olhos de Camila, ela estava simplesmente linda demais para eu conseguir fazê-lo. Meus lábios estavam umedecidos, minha língua corria por eles em um ato do qual eu não sabia distinguir ser desespero ou ansiedade. Ela havia feito tudo aquilo para, no final, me seduzir? Foi uma ótima tática por sinal, eu não estava com meu pensamento no lugar desde que a vi ali dentro. Naquele vestido. Vestindo aquele seu sorriso.

Atravessei o emaranhado de gente com leveza, estava tomando meu tempo, admirando-a enquanto a situação não havia se tornado estranha como eu sabia que logo mais se tornaria. Camila ainda estava reclinada sobre o balcão e, apesar do péssimo ângulo de visão, eu sabia que ela estava com aquele seu sorriso mordedor de língua espalhado em seu rosto, porque algo rosa estava pulando por entre seus dentes. Troy foi o primeiro a me notar já que eu me aproximei por trás. A saliva me desceu com esforço ao vê-la tão mais de perto, tão mais linda, tão mais cheirosa. Ela estava usando um de seus perfumes adocicados, eu os amava e achava muito a sua cara. Ela definitivamente é o tipo de pessoa que combina com algo assim, pensei. Diferente de mim, minha acidez pede algo no mesmo patamar.

- E ai, lobo mau - Troy se manifestou e eu tive certeza que eu estava divagando novamente
com o olhar fixo na mais nova. Camila girou em seus pés no exato momento em que eu forçava
um sorriso tosco e nossos olhares se encontraram na metade do caminho. No mesmo instante
senti algo dentro de mim se acender, incendiar talvez.

- Oi - ela deixou seu sorriso se esvair aos poucos, mas logo ele estava de volta, ainda maior,
com o avaliar de seus olhos sobre meu corpo.

- Não me julgue, é tudo culpa sua - falei quando ela conteve uma gargalhada dentro de sua boca.

- Eu ainda não disse nada... - ela voltou a me encarar nos olhos com um certo brilho a mais - Ok, o que é isso que você está vestindo?

- Sou um lobo mau, não consegue ver? É tão óbvio - mostrei a mim mesma com um deslizar de mãos pelo meu corpo.

- Me desculpa, meu reconhecimento de figurino de contos de fadas anda meio arranhado - dei
de ombros me fazendo de desinteressada. A mais nova deu um passo em minha direção e me olhou cheia de esperança e... um pouco de desejo, talvez? Eu sei que ela está querendo algo mais essa noite e sei que também está se esforçando ao máximo para se manter sutil e não forçar nada comigo, o que torna ainda mais difícil resisti-la hoje - Mas sabe uma coisa que não anda enferrujada?

Ergui uma das sobrancelhas com sua fala e a observei se aproximar ainda mais, as mãos parando em meu colo, os olhos fixos nos meus até não poder mais.

- Não sei - sua libido? seu apetite? suas indiretas? suas safadezas?

- Meus passos de dança - ela sorriu e se impulsionou para trás, nos colocando separadas novamente. Demorei uns segundos até perceber o que ela realmente havia dito e assim que aconteceu minha testa franziu. - Pensei que você não gostasse de dançar.

- Bom... - ela voltou para perto de mim desviando do meu rosto para encostar a boca em minha orelha - Eu gosto de dançar para você.

Eis a minha primeira frustração sexual da noite. Droga, Camila. Seu rosto voltou lentamente, roçando em parte com o meu até que eles estavam frente a frente novamente. Meus olhos baixaram afoitos para encarar sua boca, tão próxima, tão convidativa, no exato momento em que seus lábios se partiram para sua língua passar sobre eles. Parecia que eu estava vendo tudo em câmera lenta, era frustrante e excitante ao mesmo tempo. Ela sabia exatamente como mexer comigo.

- Seja lá o que tenha sido isso, você tem que me ensinar Camila, porque ela ficou quietinha ó - o loiro brincou de novo do outro lado do bar. Poderia não parecer, mas ele estava me salvando de tornar tudo ainda pior com essas minhas reações desnecessárias. A mais nova gargalhou em minha frente, girando brevemente para encara-lo, antes de me pegar pela mão.