Droga, Você é Bonita

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Saímos do consultório em um clima muito mais alegre, dessa vez Camila demonstrou algum tipo de sentimento positivo com relação ao seu estado. Eu já esperava por isso, era impossível ela se segurar impassível daquela forma por muito tempo, ou ainda mais depois de uma ótima notícia como essa. Seu olho parecia recuperado. apenas sua visão precisava ser exercitada, até onde entendi e isso com certeza seria o de menos agora, o pior já havia passado.

Para minha surpresa ela não quis voltar para casa imediatamente, pelo contrário, pediu para ser mantida o máximo possível longe de seu apartamento. Não entendi bem da onde veio aquela súbita revolta, mas o sorriso em seu rosto me deu uma dica de que essa não seria uma tarde normal. Acabamos por rodar boa parte da cidade de carro e a pé. O mal trânsito não me impediu de continuar, porque em um certo ponto até eu estava curtindo essa deriva espontânea.

Nosso último ponto de passagem foi o Central Park. Descobri que em quase cinco anos morando lá, Camila nunca tinha visitado o local por mais de dez minutos. O que era um absurdo. Nova York era uma cidade incrível, cheia de locais marcantes, maravilhosos, mas um dos maiores pontos de fuga era a imensidão verde do Central Park e o ar puro que por ali passava, ninguém deveria ser privado de desfrutar tal coisa. Resolvi que lhe levaria em um tour rápido pelo lado sul, não daria nunca, nesse resto de tarde, levá-la por toda sua extensão, então fiz o que pude.

A mais nova parecia entorpecida com tamanha beleza, mesmo sua visão dali sendo feita através da minha descrição ela parecia deixar sua imaginação correr solta, me enchendo de perguntas sobre os mínimos detalhes até do gramado que nos rodeava. Nossas mãos iam entrelaçadas o tempo todo, eu já mencionei o quanto amava caminhar assim com ela, não é mesmo? Estava me tornando chata para mim mesma, os pensamentos bobos que me vinham à mente quando estava ao seu lado eram intermitentes e incessáveis. Eu ficava extremamente besta.

- Meu Deus, minhas pernas. Eu não sinto minhas pernas. - ela chorou pela milésima vez desde que chegamos em seu prédio, mesmo não tendo nada do que reclamar já que estava pendurada em minhas costas.

- Quanto drama você ainda pode fazer? - revirei os olhos rindo baixo e dando graças à Deus pela porta do elevador se abrir a minha frente. Camila era magra, mas algo dentro dela parecia pesar algumas muitas toneladas.

- Depende, quanto você ainda consegue aturar? - seus braços se cruzaram em meu pescoço e ela abaixou o rosto para apoiar o queixo em meu ombro esquerdo.

- Na verdade meu limite já se foi a muito tempo. - menti. Se eu contasse que meus limites para com ela eram assustadoramente mais altos do que com qualquer outra pessoa, seria o meu fim.

- Então eu ainda tenho muito drama comigo. - seus lábios se pregaram ao meu rosto rapidamente.

- Você é insuportável.

Parei em frente à sua porta esperando pacientemente até que ela encontrasse suas chaves, mas então a mesma se abriu nos assustando.

- Onde vocês estavam? Já tem anos que estamos aqui esperando por vocês para comermos. - mais uma dramática, não é à toa que são tão amigas.

- Cheechee - Camila gritou em meu ouvido com seu sotaque espanhol que sempre acompanhava o apelido. - Você sabe. O de sempre, estava ajudando a Laur a ser uma pessoa melhor.

O que? Virei meu rosto para olhar o sorriso provocador que se formava no exato momento, era como se ela já soubesse meu tempo de resposta à suas brincadeiras. Bufei divertida a largando sobre seus pés e fazendo meu caminho para dentro do apartamento. Normani estava sentada no sofá focada demais com seu celular, me joguei deitada com a cabeça repousando em seu colo a fazendo pular no lugar.

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