Regina

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15 anos depois

O envelope estava ali piscando em sua caixa de email. Regina não tinha coragem de abri-lo. Sabia o que era. Tinha visto o emblema da escola em que se formara 15 anos antes. Era a comemoração de 15 anos de formados.

Rever todos seus amigos de outrora até que podia ser maravilhoso. Se não fosse pelo fracasso que tivera na vida. Tinha tantos sonhos, tantos projetos. Se tornar universitária e depois uma profissional de sucesso, viajar, conhecer lugares diferentes, aprender coisas novas... Mas tudo isso tinha isso embora por que...

Um grito interrompeu seus pensamentos:

- Regina! Onde está minha gravata?!

... Havia se tornado esposa e mãe.

Regina apenas havia recebido a comunicação que iria se casar com um jovem de família tão tradicional e religiosa quanto à dela. Quando ela tentou argumentar com o pai de que era muito jovem pra se casar e que queria terminar os estudos, foi duramente repreendida tanto pelo pai quanto pelo pastor de sua igreja.

Isaias até que não era tão ruim. Apenas... Era ele mesmo. Em nenhum momento, nos cinco anos que duraram o namoro e depois durante noivado, ela se sentiu arrebatada por uma emoção forte. E em apenas dez anos de casamento ela já se sentia entediada com se já estivesse casada há quarenta anos.

A única recompensa era sua filhinha. Miriam era a luz de sua vida. Pela filha, ela suportava a vida vazia que ela levava numa casa em que nem podia decidir o jantar, pois eles moravam com seus sogros e seu marido acatava tudo que eles decidiam.

Regina havia perdido todos os sonhos que tinha quando jovem e aos 33 anos se sentia com 50.

As recordações daquele dia voltaram à sua mente e um sorriso brincou em seus lábios. Como será que estariam Maura e Teresa? De Maura nunca mais soubera noticia. Todos os emails que mandara, nunca foram respondidos. Por dias, Regina procurou em jornais ou nos noticiários alguma noticia sobre Maura, mas sem sucesso. Chegou até ir à casa dela para saber alguma coisa. Encontrou sua mãe inconsolada e seu padrasto furioso. Ele chegou a declarar que seria melhor se ela tivesse morrido em algum buraco. Regina foi embora da casa dos irlandeses arrasada.

Teresa foi até a sua casa e Regina contou-lhe sobre a amiga fugitiva. Assim como ela Teresa também se preocupou, mas estava apática demais com o término do namoro.

Mas houve uma lembrança que surgiu em sua mente sem que ela esperasse. O beijo roubado em sua formatura. E como se essa lembrança abrisse uma comporta, outras lembranças inundaram sua mente.

Naquela noite, Regina custou a dormir. De uma hora para outra seu principal inimigo tornava-se o amor de sua vida com quem ela iria fugir deixando família, noivo e tudo que conhecia para trás. Mas ela não tinha medo. Era inteligente e maior de idade. Podia lutar por sua independência.

Na manhã da fuga, o dia amanheceu nublado, cinzento, triste. Sem deixar se abater, Regina preparou-se. Ela pegou seus documentos, cartões e dinheiro em espécie e os colocou numa bolsa. Como era sua bolsa favorita, seus pais não estranhariam o uso da mesma. Ao descer, seus pais Paulo e Helena e Priscila Moraes, a filha do primeiro casamento de seu pai a esperavam junto à porta. Vê-los assim juntos provocou um nó na garganta da moça, o que a quase fez desistir da empreitada. Ela abraçou os pais e os beijou afetuosamente.

Ao chegarem à igreja, ela reparou que Priscila sentou-se junto de sua futura sogra. Regina não estranhou o fato, já que Iolanda Almeida era prima da mãe de Priscila. Exatamente as oito e trinta e cinco, Regina pediu licença aos pais para ir ao toalete. Entrou em um corredor encaminhando-se para a saída lateral. Abriu a porta, mas antes que pudesse descer os degraus, sua futura sogra segurou-lhe o braço.

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