O Adeus a Lily

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Mais tarde, Deirdre e Shanna preparavam o quarto para Maura enquanto a ruiva tirava as roupas da mala e as pendurava em um armário.

- Nossa Maura. Você tem tantas roupas bonitas... - disse Shanna com admiração.

- É. Se você gostar, pode ficar com algumas. Temos quase o mesmo corpo. Eu emagreci bastante.

- Posso? Obrigada.

- Nos fale sobre a sua vida, Maura. O que você fez todos esses anos. - perguntou Deirdre sentando-se na cama.

Maura engoliu em seco. O momento que temia havia chegado.

- Bem, eu posso dizer que vivi um conto de fadas. Ao chegar a São Paulo, fui assaltada em uma lanchonete. O dono ficou com pena de mim e me deu um sanduiche. Sem dinheiro, andei pela cidade e acabei num banco de praça. Estava pensando no que fazer quando uma senhora se aproximou de mim e me levou para a casa dela.

- Assim do nada? - perguntou Shanna.

- Vamos dizer que ela era a minha fada madrinha. Madame Suzette era sozinha. Solteira, sem filhos. Tinha um negócio rentável. Uma casa de espetáculos. Fiquei trabalhando para ela e fazendo companhia. Mas ela ficou doente e morreu. Eu herdei o negócio.

- Sim, realmente é um conto de fadas. - Deirdre comentou brincando com sua trança. - Tenho certeza que essa senhora intuiu que você era uma boa moça.

O jeito que Deirdre O'Donnell olhou para ela fez Maura sentir seu coração parar uma batida. "Ela desconfia de algo..." pensou a moça. Muitas vezes Maura havia pensado que a magia de seus ancestrais ainda corria nas veias de sua mãe. A família de sua mãe era os O'Malley. Se as lendas estivessem corretas vários reis da Irlanda eram desse clã, embora Maura duvidasse que o ramo de sua família descendesse de algum rei. Mas assim como os O'Donnell, os O'Malley haviam lutado e muito pela independência da Irlanda no inicio do século vinte. Tanto que, se continuassem na Irlanda, aqueles que deram início à família de Maura seriam presos e executados. Então, homens e mulheres destemidos cruzaram o Atlântico, não em direção aos Estados Unidos, mas em direção a um país completamente desconhecido: o Brasil.

Eles se estabelecerem primeiramente no sul do país depois algumas famílias se deslocaram mais para cima. O estado de São Paulo, mas precisamente Alvorada com seus fundadores europeus foi o escolhido para os O'Donnell, os O'Malley e O'Hurley. Obtiveram autorização para se estabelecer nos arredores do centro, onde eles fundaram um grupo chamado de Eire. Com o passar do tempo o grupo de moradores cresceu e se tornou um bairro. O afinco dos imigrantes deu a eles a fama de bons trabalhadores e a inicial desconfiança da população de Alvorada foi vencida. Foi nessa época que Deirdre O'Malley conheceu o jovem Hugh O'Donnell que visitava os parentes no Brasil. A paixão foi imediata e, após a volta dele à Irlanda, os dois começaram a trocar correspondências. No Natal de 1978, Hugh voltou definitivamente ao Brasil e casou-se com ela. Dois anos depois Deirdre deu à luz a uma linda menininha ruiva, Maureen.

E Deirdre conhecia aquela menininha desde o nascimento. Sabia que ela lhe escondia algo. Mas, com certeza, com o tempo a filha poderia lhe dizer o que lhe afligia.

- E namorados? Aposto que bonita desse jeito você tem um príncipe encantado em São Paulo. - disse Shanna

- Ah... O príncipe encantado veio e passou. Eu perdi a oportunidade. "E o coração", pensou Maura.

Com sensibilidade de mãe, Deirdre pegou na mão da filha mais velha.

- Não se preocupe Maureen. Se ele for o homem da sua vida ele vai voltar.

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