A Festa

O segredo de Iolanda

"Antes de a outro julgares, julga-te a ti mesmo"  

Iolanda andava pelo corredor do hospital com passos duros, a boca de lábios finos unidos fortemente formando uma linha. Atrás dela, Ruth e Joana andavam de mãos dadas numa afronta à indignação da outra.

Avistaram Isaías sentado ao lado de uma ruiva desconhecida. Eles se levantaram quando o grupo de mulheres se aproximou.

- Isaías, o que aconteceu? Ruth foi à nossa casa com essa outra mulher dizendo que você e Regina tinham vindo para São Paulo atrás de seu pai. Que ele tinha sequestrado Miriam. Que absurdo é esse?

- Mãe, ele realmente sequestrou Miriam com ajuda de Priscila. Regina descobriu que ele era o chefe de uma rede de cassinos clandestinos. Eu sinto em dizer que eu sabia de algumas coisas. Tenho minha parcela de culpa e vou responder por isso. – nesse momento, Maura segurou na mãe dele lhe dando apoio. Ele olhou para ela.

O gesto não passou despercebido à Iolanda que olhou para Maura de cima a abaixo.

- E essa quem é?

- Essa é Maura. A mulher com quem eu deveria ter me casado há quinze anos. – os dois sorriram um para o outro.

- E Regina, sua mulher, onde está? – ela ignorou afrontosamente a mão de Maura estendida.

- Você não vai apertar a mão dela? – Isaías perguntou à mãe.

- Ah Isaías, me poupe! Sua irmã resolve ter um caso com outra mulher, você diz que seu pai é um criminoso procurado e agora você me apresenta a sua amante. É muita besteira!

- Pare mãe! – Isaías gritou. – Com todo o respeito, eu não admito que a senhora se dirija à Maura como minha amante. Nunca traí Regina em todos esses anos. A senhora e meu pai nos chantagearam e manipularam por quinze anos. Não mais, entendeu? Eu e a Regina assinamos nosso divorcio amigavelmente e vamos viver com os verdadeiros donos de nossos corações. A Maura do meu e Sérgio Campos do coração de Regina. E se Ruth é feliz vivendo com uma mulher, dou graças a isso. Sem julgamentos nem preconceitos de agora em diante nessa família. – Isaías decretou indo abraçar a irmã. Maura o acompanhou. Vencida, Iolanda sentou-se na cadeira.

- Ruth, eu estou feliz por você. E você deve ser Joana, a parceira de Sérgio. – ele apertou a mão de Joana depois de abraçar a irmã. Ruth apresentou Joana a Maura e as duas também apertaram as mãos.

- Sim. Você pode me falar onde ele está?

- Ele está na sala de curativos. – esclareceu ele.

- Levou um tiro novamente?

- Não. Mas está com escoriações. Regina também, cheia de arranhados e hematomas.

- Vou ver como ele está. – ela começou a andar.

Maura não queria ficar perto daquela mulher preconceituosa que seria sua sogra e correu atrás de Joana. – Espere! Vou com você. – ela olhou para trás e jogou um beijo para Isaías.

Apesar de não concordar com a postura da mãe, Isaías sentou-se ao lado dela para aguardar notícias sobre a cirurgia do pai. A velha senhora ainda manteve uma postura rígida ao lado dele, mas por pouco tempo, pois ao sentir a mão de seu filho sobre sua perna confortando-a, ela posicionou a sua sobre a dele. Os dois trocaram um olhar, mas não conseguiam traduzir em palavras o conforto que queriam transmitir um ao outro. Encostada na parede, Ruth fitava os dois, ignorando o nó formado em sua garganta crescer à medida que os ponteiros do relógio corriam.