Maura se mexeu desconfortável.
– Não sei do que você está falando.
– Acho que sabe sim. Maura, eu também não tive sorte na minha vida amorosa.
– Mas você não se transformou numa prostituta de luxo! – ela esbravejou.
Algumas pessoas olharam surpresas para mesa delas por causa da voz elevada.
Maura arrependeu-se da explosão e abaixou a cabeça. Regina continuava olhando para ela como se nada tivesse acontecido e Teresa olhava de uma para a outra não entendendo nada.
– Maura, eu sei que é difícil, mas somos suas amigas. Você não pode nos deixar de fora.
– Você não deixou a Teresa?
– Era diferente.
– Em que?
– A Teresa não precisava compartilhar do meu sofrimento. A escolha tinha sido minha. Eu assumi ceder a chantagem da dona Iolanda. Para proteger os meus pais. Sua vida, é claro, não nos diz respeito. Mas se a felicidade de duas pessoas depende de você, eu vou insistir.
– O que você quer saber? Se eu vou me meter no seu casamento? É isso? Por que eu não vou. Tem gente demais na sua história.
– Ô mulher burra! – Regina bateu na mesa exasperada. Novos olhares para mesa delas. – Eu não estou falando do meu casamento, criatura. Estou falando do sentimento que uniu você e o Isaias naquela noite a quinze anos.
– Espera ai! – pediu Teresa. – A Maura e o seu marido já se conheciam antes de ontem?
– Já. – respondeu Maura no lugar de Regina. – Eu vou contar para vocês o que aconteceu comigo depois da nossa formatura. – ela pegou mais uma taça de vinho. – Quando eu voltei para casa minha mãe não estava. Tinha ido levar meu irmão no médico por que ele havia caído de uma arvore e quebrado o braço. Enquanto ela estava fora, meu padrasto voltou para casa. Sozinho comigo ele se revelou. Tentou me violentar. – Maura fitou as próprias mãos que tremiam. Ela as fechou com tanta força que feriu a carne com as unhas. – Minha mãe nos flagrou, mas eu estava aterrorizada demais para falar. Eu só chorava e chorava. Ele distorceu tudo e minha mãe acreditou nele. Eu fugi naquela mesma noite. Quando eu liguei pra você, Regina, eu já estava na rodoviária.
– E por que você não foi para o endereço que eu te dei?
– Você já andou em São Paulo? A cidade é enorme. Logo nas primeiras horas eu fui assaltada. Perdi-me e, quando anoiteceu, eu fiquei sentada em um banco de praça. Foi quando Madame Suzette me encontrou e me levou para casa dela. Dormi por dois dias. O médico que me viu disse que era resultante de uma grande crise emocional. Quando acordei, descobri onde estava em um bordel. Falei com Madame e expliquei que era virgem. Ela me prometeu que meu primeiro cliente seria jovem e virgem como eu. E foi assim que eu conheci Isaias Almeida.
– Ele me contou que o encontro de vocês foi mágico. Amor à primeira vista mesmo.
– Eu me senti segura nos braços dele. Nossos corações batiam no mesmo ritmo descompassado. Estávamos os dois nervosos. Desajeitados – ela sorriu com a lembrança. – Quando ele foi embora foi como se meu coração tivesse ido com ele.
– E o dele ficou com você. – respondeu Regina. – Por isso nosso casamento é estável apesar da falta de amor. Nossos corações foram dados a outras pessoas. Ele ainda a ama, Maura.
– E o meu tornou-se pedra. – concluiu Teresa. – Agora é a minha vez. Regina, eu lhe contei que o Pedro desmanchou nosso noivado por telefone.
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A Festa
RomanceVocê está convidado para a Comemoração dos quinze anos da formatura dos estudantes do Ensino Médio do Colégio Alvorada. Uma festa onde amores antigos ressurgirão com força total, novas experiências que vão acontecer e o passado baterá em cada porta...