A Festa

Maura

 

Eu descobri essa música por acaso quando procurava um tema para Maureen. Me apaixonei pela letra.

Música Corpo e Luz (da ópera Tristão e Isolda)Interpretada por Ithamara Koorax

Composição : Richard Wagner / adapt.: André Sperling / Paulo César Pinheiro 

 Mulher que tem vida sofrida
Desfaz qualquer trama da vida
Quem sabe ser só
Depende de ninguém
E vive pras coisas que tem

Mulher que tem a alma forte
É flor de luz
Não há quem porte
Mas seu coração anseia por prazer
Quem vai nesse fogo se arder

Mulher que tem os pés na terra
Não vive em paz
E a vida é guerra
Mas sua paixão precisa saciar
Quem vai nesse corpo deitar  

São Paulo

Maura viu o convite em seu e-mail. Ela nunca havia apagado seu e-mail da rede. A única coisa que ainda mantinha desde a juventude. Festa de 15 anos de formados. Rá! Uma piada! Por que ela voltaria a uma cidade que lhe trazia más lembranças?

Maura voltara da formatura no finalzinho da tarde. Esperava encontrar a mãe para contar-lhe a novidade. A Dra. Campos havia conseguido para ela uma bolsa no curso técnico de Enfermagem e de quebra, ela poderia fazer um estagio no hospital da cidade.

"- Mãe! Máthair! Já cheguei!" - ela gritou ao entrar. Mas a casa estava silenciosa. Maura viu um bilhete sobre o balcão da cozinha.

"Maureen, estou no hospital com Sean e Shanna. Seu irmão caiu da arvore e quebrou o braço. Volto logo. Amor. Mamãe."

Maura então resolveu se trocar e quando ela estava em seu quarto, ouviu a porta da frente bater. Colocando um vestido rapidamente, ela correu para a sala certa que a mãe voltava.

Mas não era sua mãe. Era seu padrasto Carlos.

"- Pensei que era minha mãe."

"- Ela ainda está no hospital com a peste do filho dela. Aquele garoto só dá problema." - ele respondeu de má vontade.

"- Não fale assim do meu irmão!" - Maura brigou com ele.

Carlos levantou-se do sofá, indo na direção dela.

"- Essa é a minha casa, moleca. Aqui eu mando e falo como quiser." - ele se aproximou dela a ponto de Maura sentir a respiração quente dele. - "Mas me diga o que eu quero ouvir e você me terá como escravo seu."

Maura olhou para ele assustada e enojada ao mesmo tempo. Como aquele canalha podia estar no lugar de seu pai? Hugh O'Donnell era um homem calmo e amoroso. Era visível o amor entre seus pais. Bastava ele chegar do trabalho para que os olhos de sua mãe brilhassem ao vê-lo. Maura e os gêmeos haviam nascido e crescido numa casa permeada de amor e respeito. Mas há três anos, ao ir visitar um casal amigo seu pai fora atropelado por um motorista bêbado. Sua mãe suportara dois anos de viuvez. Foi quando Carlos Gonçalves surgiu. Muito bem apessoado, era gentil com Deidre e com seus filhos. O relacionamento já durava um ano quando eles se casaram. Nesse momento a índole perversa e autoritária de Carlos fez-se presente. Quando Maura completou dezoito anos os olhos de Carlos voltaram-se para a garota. Mesmo um pouco acima do peso, Maura era uma moça bonita. No começo, ela não deu atenção ao excesso de cuidado de seu padrasto. Mas, há dois meses, num dia que a mãe de Maura estava no supermercado, Carlos a surpreendeu na cozinha e a pressionou contra uma parede fazendo-a sentir sua excitação. Maura percebeu que seu padrasto havia se tornado um perigo para ela. Incapaz de fazer a mãe sofrer, Maura não contou sobre o episódio.

Mas agora, ela não tinha saída a não ser lutar por sua honra.

"- Nem morta canalha. E eu vou denunciar você a policia por assédio." - ela desviou-se dele virando-se para sair.