A volta da ruiva

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O carro parou em frente ao hotel. As portas se abriram e duas mulheres desceram dele. A motorista era uma ruiva de corpo curvilíneo. Uma fivela grande de prata prendia os cabelos que caiam nas costas como uma cascata de fogo. Ela vestia um longo vestido que ia do azul escuro ao azul claro num degrade. Calçava sandálias de salto agulha que ressoaram no hall de entrada do hotel. Ela tirou os óculos escuros ao chegar na recepção. Sua acompanhante trajava um gracioso conjunto de saia e blusa creme. Os cabelos escuros estavam presos num coque frouxo de onde alguns fios escapavam emoldurando o rosto. Enquanto a ruiva se dirigia ao balcão de registros, a morena ficou parada, admirando um lindo lustre de cristal. A peça datava do século 19 e viera da Europa junto com os donos do hotel.

- Boa Tarde. Eu tenho uma reserva em nome de Maureen O'Donnell, por favor. Dois quartos.

A recepcionista a olhou por alguns minutos.

- É claro, senhora. Um momento. - E começou a digitar no computador.

Maura olhou para trás e viu que uma mulher conversava com Lily. As duas conversaram por algum tempo e se separaram. Lily veio na sua direção sorrindo.

- O que foi? Quem era aquela? - Maura perguntou.

- Era a dona do hotel, Dejanira Saldanha. Ela me confundiu com uma tal de Regina Almeida. Por uma coincidência incrível, ela estava usando roupas semelhantes às minhas.

- Pelo menos ela tem bom gosto.

As duas riram

- Sra. O'Donnell, suas chaves. - chamou a recepcionista. - Quartos 105 e 107 senhoras. Sejam bem vindas.

- Muito obrigada. - Maura e Lily pegaram as chaves e se dirigiram aos elevadores.

Ao entrar em seu quarto, Maura foi até a janela e abriu as cortinas. Ela olhou a cidade relembrando cada pedaço e descobrindo partes novas. É, Alvorada tinha crescido nesses quinze anos. Mas ainda permanecia calma. Será que sua mãe morava ainda no mesmo lugar? Ela se lembrava que a casa pertencia a eles, não era alugada. Mas pessoas podiam mudar. Ir para lugares melhores. E seus irmãos? Teriam feito bom uso do fundo que ela criara para eles? Maura queria saber as respostas e se Deus a ajudasse, queria revê-los também.

- Está bem, - disse Lily entrando no quarto. - dou minha mão à palmatória. Sua cidade é linda. Pequena, mas linda.

Maura voltou-se para ela.

- Alvorada foi fundada por imigrantes europeus fugindo da guerra no inicio do século 20. Uma mistura que só tornou a cidade mais bonita.

- E depois da poluição de São Paulo, isso aqui é o paraíso. - Lily foi até a janela parando ao lado de Maura. - Olha isso. Ar puro, verde. Não se tem isso na capital.

- Você gostaria de morar em Alvorada, Lily.

- Morar? Eu não sei. Acho que sentiria falta da movimentação da capital. Aqui é tranquilo. Tranquilo demais.

Elas ouviram um bater na porta. Lily foi atender. Dois rapazes uniformizados traziam as malas. Maura pegou sua bolsa e pegou duas notas de cem reais.

- Obrigada. - disse entregando o dinheiro a eles. - Por favor, vocês podem nos dizer se aqui existe algum shopping.

- Ah sim, senhora. Tem um anexo ao hotel. É só a senhora descer até o hall e seguir o corredor á direita. O corredor á esquerda vai para o restaurante e o salão de festas.

- Ele tem acesso externo também? Quer dizer é aberto ao público.

- Sim. O shopping e o restaurante.

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