Regina abriu os olhos e sentiu na mesma hora o aroma de café. Sentando-se na cama, ela viu que Isaias carregava uma bandeja com um bule de café, duas xícaras e um prato com várias torradas que ainda fumegavam.
- Humm... Café na cama? O que eu fiz pra merecer isso?
- Depois de todo o trabalho que você teve ontem, eu achei que era justo. – Isaias depositou a bandeja na frente dela.
Regina pegou o bule e colocou café nas duas xícaras. Entregou a dele, sem açúcar e colocou três colherinhas de açúcar na sua.
- Achei que há essa hora você estaria no culto com seus pais.
- Há muito tempo que eu acho que as preleções de meu pai não condizem com a nossa realidade.
Regina olhou para ele surpresa. Em quinze anos, ela nunca o ouvira falar do pai daquela maneira.
Em silêncio, os dois continuaram a tomar seus cafés. De repente, Regina levantou cabeça e disse:
- Isaias, em relação à nossa conversa de ontem, eu...
- Regina, antes que você diga alguma coisa eu preciso deixá-la a par de certas coisas. – ele a interrompeu. A expressão estava séria, compenetrada. Era como se ele fosse expor um caso em um tribunal. Colocando a xícara sobre a bandeja, ele sentou-se mais perto dela na cama.
- Logo depois do nosso noivado, não sei se você lembra, eu parti numa viagem com meu pai para São Paulo.
- Eu me lembro. Você estava eufórico quando me contou. Por que seu pai estava reconhecendo seu valor.
- Sim foi o que eu pensei na época. Como você sabe meus pais não tem um exemplo de casamento feliz. Eles apenas se toleram, presos a um compromisso ajustado. Diferentemente de nós que baseamos o nosso em carinho e compreensão.
- E estamos satisfeitos com isso, não?
Ele esquivou-se de responder continuando a sua história.
- Quando chegamos a São Paulo, como já era noite, achei que íamos para o hotel onde ele sempre se hospedava com os outros pastores. Mas dessa vez, ele foi para a região central de São Paulo. Higienópolis.
- Sério?! Higienópolis é uma região de classe alta.
- Isso. Paramos em frente a um sobrado. Sabe daqueles antigos do ciclo do café.
- Lindos. Pelo menos por fora.
- Então. Esse também o era por dentro. Eu comecei a estranhar quando a porta foi aberta por um homem que parecia um armário. Quando nós entramos, vários homens de terno estavam sentados confortavelmente enquanto eram servidos por moças belíssimas. Eu não era tão inocente a ponto de não perceber que meu pai, o honrado pastor João Almeida, havia me trazido para um... Uma casa de diversões.
- Isaias, - Regina pegou na mão dele percebendo o quanto ela estava fria. Depois de quinze anos, ele ainda se chocava com o episódio. – era um bordel. Pode falar. Eu não me incomodo.
Ele deu um sorriso agradecido.
- Uma mulher magra de cabelos na altura do queixo se aproximou dele e o cumprimentou. Vi que meu pai era frequentador assíduo do estabelecimento.
"- Senhor Almeida! Que prazer recebê-lo."
"- Boa noite, Madame Suzette. Este é meu filho. O rapaz vai se casar e precisa aprender algumas coisas de homem."
Olhei para ele com desgosto. Tudo bem que um rapaz aos vinte e três anos ainda virgem era algo estranho, mas meu pai não precisava me expor dessa maneira.

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A Festa
RomanceVocê está convidado para a Comemoração dos quinze anos da formatura dos estudantes do Ensino Médio do Colégio Alvorada. Uma festa onde amores antigos ressurgirão com força total, novas experiências que vão acontecer e o passado baterá em cada porta...