Um encontro (in)esperado

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- Então, o que você achou Dejanira? - perguntou Regina levantando-se da cadeira e indo até a janela.

Dejanira Saldanha olhou novamente para o projeto sobre a sua mesa.

- Como sempre Regina, vocês me surpreenderam. Ficou ótimo. A distribuição das mesas permite movimentação livre dos garçons e convidados.

- E quase todo o corpo docente daquela época ficará numa mesa principal.

- Só não a minha Valéria... - Dejanira falou triste.

Regina tornou a sentar-se e segurou as mãos da senhora.

- Ela está com a gente, Dejanira. Sua irmã está sempre em nossos corações.

Dejanira fungou e enxugou uma lágrima no canto do olho.

- É difícil de acreditar que já faz seis meses que ela se foi...

- É mesmo. Ainda me lembro dela olhando para mim sobre os óculos. "Ainda na biblioteca, Regina? Ainda na sala de aula, Regina?" - Regina colocou os óculos na ponta do nariz e imitou a antiga diretora do colégio.

- Ela fazia bem assim mesmo. - Dejanira riu com a imitação.

- E com os fios de pérola balançando... - lembrou-se Regina.

As duas mantinham o sorriso relembrando fatos da vida da ex-diretora do colégio Alvorada.

- Você trouxe o DVD da homenagem? - perguntou Regina.

Dejanira abriu uma das gavetas da mesa pegando um estojo de disco.

- Está aqui. Fotos, vídeos. De todos os períodos da vida dela.

- Ótimo. Vou entregar para a Mari. Ela vai rodar no momento em que a Adriana Silviano der início a homenagem.

- Ela está se esmerando muito nisso. A festa, a homenagem à Valéria, tudo. - elogiou Dejanira saindo de trás da mesa e indo até uma mesinha onde estava uma bandeja com xícaras e uma garrafa térmica.

- Está sim. As ideias dela foram ótimas. A gente não se bicava muito durante o colégio, mas tenho que admitir que ela sabe dar uma festa.

- Mas ela só faz isso, não é? - Dejanira comentou com um sorriso malicioso, servindo duas xícaras de café.

Adriana Silviano era a primeira dama de Alvorada. Mas ela não era muito ligada na política da cidade, limitando-se a participar de eventos sociais da cidade e ser peça decorativa do prefeito, Augusto Silviano.

- Bem, ela teve as ideias e eu as executei. Ela aprovou dizendo que nós éramos almas gêmeas no quesito festas. A aprovação dela é muito boa para o Cerimonial.

- Com certeza essa festa vai-lhe abrir mais portas, Regina. Sua mãe teria ficado orgulhosa.

Regina sentiu um nó em sua garganta ao lembrar-se da mãe. Parecia incrível que já havia se passado dez anos da morte dela e de seu pai. Ela sempre se perguntara, como o pai, que era cuidadoso ao volante, conseguira colidir numa velocidade de 120 km/h numa estrada onde o limite era a metade disso. A polícia havia lhe dito que o cabo de aceleração estava danificado. O carro acelerava sozinho. Mas, por que seu pai não sentira que o carro estava com problemas. Quando ela questionava as autoridades, sempre ouvia as mesmas respostas. A morte de seus pais foi classificada com acidente. Um lamentável acidente.

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