Teresa

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Estocolmo - Suécia

Só mais um concerto e estaria livre para viajar. Teresa podia escolher para onde queria ir. E quem a acompanharia em mais uma viagem. Homens não faltavam. Poderia ser qualquer um: artistas, profissionais da televisão, jornalistas músicos... Qualquer um daria a alma para viajar, ou até ter uma única noite de amor com Teresa Andersen.

Rica, famosa e... Solitária. Fora o que ela se tornara. Desde a traição de Pedro, ela jamais tinha sido a mesma.

Teresa deitou-se na cama e fitou o teto. Lembrou-se de há quinze anos estar na mesma posição em seu quarto em Alvorada. Olhando para o teto, cansada de tanto chorar. Seu pai a carregara no colo como se ela fosse uma criança, desde que ela recebera o fatídico telefonema.

Teresa ainda podia ouvir a empolgação em sua própria voz ao contar para Pedro sobre a formatura...

"- Você precisava ver... Como não podia deixar de ser, a Regina era a oradora da turma. Ela fez um discurso tão lindo, que me trouxe lagrimas aos olhos. Depois dos diplomas, ela recebeu uma menção honrosa. A minha amiga é muito especial. Tenho certeza que ela vai fazer muito ainda na vida."

"- Que bom, Teresa. Você está feliz?"

"- Muito. Agora que tudo acabou. Mas estaria mais se você estivesse aqui. Quando iremos nos ver, Pedro?"

Houve um silencio do outro lado. Teresa até pensou que a linha tivesse caído.

"- Pedro? Pedro? Você está ai?"

"- Sim, eu estou. Teresa, eu não vou voltar mais para Alvorada."

Ela riu. Um riso engasgado, tenso.

"- Como assim? Não volta mais? Você está de brincadeira, Pedro?"

"- Não, Teresa. Não estou brincando. É que... Eu fiz muitos amigos aqui na Universidade e dentre eles, houve uma que... Salete é especial, batalhadora, companheira. Trabalha duramente pra estudar aqui. Ela é tão diferente de você..."

"- Você está com ela, Pedro? Você está me deixando?"

"- Teresa, você é admirável. Uma pessoa boa, amorosa. Tenho certeza que você vai encontrar alguém que a ame como você deve ser amada. Eu nunca a mereci."

"- Nunca mesmo Pedro Alves!"- ela esbravejou. "-Eu merecia pelo menos a coragem de você vir aqui e me dizer isso pessoalmente e nem isso você é capaz de fazer. Espero que você vá para o inferno"

Assustados com a voz alta da filha, Silvia e Maximillian Andersen correram para o lado dela.

"- Eu sinto muito, Teresa. Sinto mesmo. Adeus"

Por muito tempo, Teresa não teve consciência de que ainda estava com o fone na mão e que a ligação já havia sido cortada há muito tempo. Seu pai retirou o fone de sua mão.

Ela olhou para o Sr. Andersen e balbuciou:

"- Ele não vem... Ele não vem..."

Teresa sentiu que o chão sumia aos seus pés e o seu pai a amparou, evitando a queda. Ele a levou até o seu quarto e depositando na cama. Sua mãe jogou-se ao lado dela, acariciando-lhe os cabelos loiros. Sua filha era tão jovem, seu coração despedaçado se curaria, mas agora doeria tanto...

E doeu. Como doeu. O choro de Teresa era de despedaçar qualquer um.

Lentamente, sua vida foi entrando nos eixos. Ela acompanhou os preparativos do casamento da amiga Regina, consolando-a toda vez que esta tinha crises de choro. Teresa atribuiu ao nervosismo, embora achasse que algo mais acontecera. Mas Regina nunca dizia o que era.

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