Pais e filhos

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Isaias ouviu a porta de a frente abrir. Bebeu mais um gole do uísque.

- Pai?

Almeida voltou-se ao ouvir a voz.

- Isaias? Ainda acordado?

- Onde o senhor estava? O esperei na sede do partido e o senhor não foi.

- Fui à Igreja. Pedir orientação ao Senhor em relação ao problema que você me contou.

- E conseguiu?

- Ah... Às vezes o Senhor nos fala por enigmas. Às vezes ele mostra de forma clara o que devemos fazer. E sua esposa?

- Regina ainda está no evento.

- Ás duas da manhã? Isaias, às vezes, sou obrigado a concordar com a sua mãe. Sua esposa não é um exemplo a ser seguido.

- Você não tem moral nenhuma para falar da Regina! – ele se levantou enraivecido. - Ela está trabalhando, eu sei bem disso. Você se esquece de que eu sei tudo a seu respeito? Pois bem, eu não vou admitir qualquer comentário contra a integridade dela. Nem de você nem de ninguém.

- O que foi Isaias? Apaixonou-se? Por sua esposa depois de tanto tempo? Ora... Não me venha com arroubos de cavaleiro medieval. Você não é tão ou mais correto quanto eu. Você sabe tudo a meu respeito? É claro que não sabe. Você não sabe nada, rapaz. E eu acho bom continuarmos essa conversa numa outra hora, ou poderemos falar algo que nos seja prejudicial no futuro, não acha?

Um ruído os fez olhar para cima e Iolanda estava no alto da escada.

- Vocês estavam discutindo? O que houve?

- Nada, mamãe. Por favor, volte a dormir.

- É, pode voltar pra cama, Iolanda.

- Está tarde, Almeida. O que fazem ainda acordados?

- Eu estou sem sono. Vim pensar um pouco. – declarou Isaias. – Papai chegou agora da Igreja.

- Ah... – Iolanda enrolou-se no penhoar de algodão que vestia. – Então não demore muito, João. Sabe que eu não durmo enquanto houver alguém se movimentando no quarto.

- Eu já vou. – ele aproximou-se de Isaías. – Pense bem em suas palavras rapaz. Tem tanto a esconder quanto eu.

O telefone de Isaias tocou e ele o tirou do bolso.

- Alô?

- Isaias? É Regina. – ele ouviu do outro lado.

- Regina? Não reconheci o número.

- É o telefone da Dejanira. Isaias, eu preciso de sua ajuda.

- O que aconteceu, minha cara?

- Houve um crime no hotel...

- Você está bem? – Ele a interrompeu já pegando o paletó na cadeira.

- Sim. Eu estou. Mas Maura...

- O que tem ela? – ele a interrompeu novamente.

Se Regina percebeu o tom de urgência na voz dele, não demonstrou.

- Maura também está bem. Foi a amiga dela, Lily. Acharam o corpo na piscina.

Isaias olhou para cima na direção do quarto dos pais. Será que...?

- Existe toda aquela burocracia... Queria saber se você pode ajudá-la nesse ponto. Você cuidou de tudo no funeral dos meus pais. Então eu pensei...

- É claro, Regina. O delegado O'Donnell ainda está ai?

- Sim. Ele vai conversar com os convidados e os funcionários do hotel. Ainda vai levar um tempo até ele ser liberado. O corpo foi levado para o IML.

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