Capítulo 4

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Milena on

Ainda não acredito que essa garota vai morar em frente minha casa. É um castigo, só pode! Depois de nos vermos da varanda do meu quarto, eu entrei logo. Já não basta olhar para ela na escola, agora vou ter que aturar no condomínio. Decidi ir estudar. Quando deu umas 18:00 vi que a piscina estava vazia e fui me sentar lá. Um dos únicos locais do meu condomínio que eu fico bem. Nunca entrei. Só fico com os pés na água e sentindo o vento bagunçar meus cabelos.

Estou sentada pensando na vida quando vejo alguém se sentar ao meu lado. "Porque você é tão sozinha?" a Lua me pergunta. "Não sou sozinha, só não tenho paciência para aguentar pessoas como você." Digo o mais fria possível. "Calma garota, só estava tentando ser legal. Nunca te fiz nada e você só me trata com pedras." Aí que sínica!! "Nunca me fez nada? Me derrubar três vezes no futebol acha pouco?", já estava perdendo a minha paciência. "Desculpa, só fiz aquilo pois você estava olhando para mim diferente. Não sou de deixar barato." Será que foi só isso mesmo? "Hm". Me levanto e vou andando. Ela vem atrás de mim. "Podemos ser amigas, não acha?" Oi? Amigas? "Não, pessoas como você não são amigas de pessoas esquisitas." Digo. "Como eu? Como eu sou?". "Você é patricinha". Ela me olha com uma cara estranha. "Desculpa Milena, não me julgue sem saber. Posso ser tudo, menos patricinha. Eu só queria fazer amigos aqui no Rio, desculpa." Ela virou e foi embora.

Será que eu fui muito rude? Não, claro que não. Isso é só papinho para se aproximar de mim e depois me pirraçar. Mas pensando bem, eu não tenho amigos. Seria ótimo ter uma! Eu só tenho amigas virtuais, as conheci pelo Twitter. Tem a Sophia e a Júlia, são de Salvador. Me conhecem melhor que muita gente. A Sophia sempre que estou estressada, ela canta para mim. É tão bom. Daria tudo para tê - las morando aqui.

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Uma semana se passou e eu passei a conviver com a Lua todos os dias. Desde o dia da piscina que não trocamos nenhuma palavra se quer.

No dia da aula de Educação Física, íamos fazer natação. Eu não podia ir de jeito nenhum, ninguém podia ver meus cortes. Tudo bem que eles estão mais claros, à uma semana que não consigo me cortar. Falei para professora que não iria, ela mandou eu ficar sentada.

Uns vinte minutos depois que estava sentada a Lua senta do meu lado. "Engraçado como só conversamos perto de piscina." Sorri. "Olha, você sorri" fechei a cara para ela. "Calma, não feche a cara, estava brincando. Seu sorriso é lindo, devia fazer isso mais vezes." Como assim? Ela sendo legal comigo? Tudo bem, iria baixar a guarda. "Sério?" a encarei. "Claro que sim, todo mundo tem uma coisa em especial. Em você vejo o sorriso e uma falta de alguém." Como essa menina pode ser tão zen? "Talvez seja mesmo." Ela me olhou séria. "Posso te fazer uma pergunta?" Eu assenti. "Porque você sempre está de blusas compridas? E nunca tira a calça?" Me lasquei. "Eu gosto" disse virando o rosto. "Você gosta de passar calor? É impossível isso, Milena" Só abaixei a cabeça. "Ei, não fica assim" ela pegou em meu braço e eu puxei com tudo. "O que foi? Você está machucada?" Não disse nada, só virei o rosto e sai. Não podia falar nada. Ninguém podia saber.

Lua on

Ela é estranha. Quando pensei que estava se sentindo a vontade comigo, ela foge. O que tem no braço dela? Será? Não pode ser. Meu Deus!

Corri atrás dela e tentei para - lá. Foi em vão. "Milena, espera" eu gritava. Ela se virou para mim. "O que você quer?" Ela me disse com os olhos cheios de lágrimas. "Te ajudar." Eu disse. "Não preciso de sua ajuda, faço terapia." Uau! Afiada ela. "Eu sei o que você faz, não posso te julgar. Tenho meus vícios." Ela olhou para mim estranho. "Você também...?" Ela se sentou. Me sentei também. "Não, não com cortes, mas de outro jeito. Sei como é difícil parar. Direto tenho minhas quedas." Ela me olhava surpreendida. "Mas o que você faz então?" Enfim ela falou. "Eu me dopo com remédios. Para mim é a melhor saída." Ela fez um uau com boca. "Desculpe, eu não sabia." Ela abaixou a cabeça. "Tudo bem, ninguém sabia. Eu te disse aquele dia quando me chamou de patricinha. Sei que pareço, mas quase ninguém me conhece de verdade." Ela se sentiu envergonhada com minha fala. "Me desculpe por isso também." Ela me disse. "Fica tranquila, saiba que você não é sozinha nessa." Sorri para ela que retribuiu. Será? Uma nova amiga? Mas ela é tão arisca.

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