VI

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Me perdi em meus pensamentos, imagens de todas as guerras que eu estive apareceram como cenas de filmes, e por um momento eu achei que realmente estava nas batalhas novamente.
Não existe beleza nas guerras, não existe glória, só existe mortes e mais mortes.
Abaixo minha cabeça até os joelhos, passo minhas mãos pelos meus cabelos e tento me recompor novamente.
Levantei, peguei um cigarro que estava na mesa de centro e fui para a biblioteca.
Acendi o cigarro e na fumaça que subia, eu conseguia ver o rosto de cada amigo que foi morto em batalha. Sentei na grande cadeira e olhei para o teto, aonde tinha uma grande pintura de um dragão nas cores vermelho e dourado, tão bem desenhado que parecia estar vivo.
Coloquei os pés em cima da mesa, os braços atrás da cabeça e deixei meus pensamentos fluírem.
O rosto de Dardan surgiu em meus pensamentos, ele sorria ao me olhar, e eu senti a mesma sensação de quando  via o sorriso dele quando ouvia  minhas ironias, na minha visão ele estava caminhando ao meu lado e falava algo que eu não conseguia entender, virava para mim levava a mão até meu rosto, e o acariciava, passava suas mãos por entre meus cabelos e quando finalmente ia me beijar, ele se afastava e desaparecia.
Balancei a cabeça, essas memórias estão guardadas a muito tempo, não posso deixar que voltem.
Apoiei meus cotovelos na mesa e escondi  o rosto com as mãos.
Dardan fazia falta, como eu gostaria que ele estivesse ao meu lado falando:
" Sua ironia ainda vai te matar menina."
Passaram- se séculos e eu ainda o sinto presente.
Acendi mais um cigarro, a cada tragada, tentava afastar as imagens do meu passado e junto com elas a imagens de Dardan. Peguei um livro que estava jogado em uma pilha do lado direito da mesa, e comecei a ler.
Passei a tarde inteira lendo livro, precisava me distrair, quando olhei pela janela, vi o entardecer, então fiz uma ligação para Hugo me esperar em frente a casa.
Subi as escadas em direção ao quarto, abri a porta e encontrei Ciam folheando e registrando cada linha do livro.
- Vamos sair? Já está na hora e o motorista já está esperando - Falei encostando no batente da porta.
- Claro, onde vamos? - Falou  levantando da cama e colocando os sapatos.
- O local é surpresa, mas será a primeira pessoa que levo lá - disse sorrindo.
Ciam concordou com um sinal com a  cabeça e começou a andar ao meu lado.
Descemos a escada, passamos pela sala, abri a porta da sala  e o carro já estava esperando.
- Não acredito que você tem um Journey - Falou olhando pra mim, com cara de entusiasmo.
- Sim, esse é um dos meus carros de passeio - disse sorrindo.
Hugo saiu do carro e abriu a porta de trás e com um sorriso no rosto falou:
- Boa tarde senhora - Disse fazendo uma pequena reverência.
- Boa tarde  Hugo, como está o seu dia hoje? - Falei retribuindo o sorriso.
- Excelente, senhora.
Entramos no carro e como já tinha falado o destino pelo telefone, Hugo já começou a dirigir assim que entramos.
Percebi que Hugo não parava de olhar pelo retrovisor e então falei.
- Sim ele é humano, e sim ele é o humano que foi atacado.
Hugo me olhou rapidamente pelo retrovisor com o olhar de desculpas.
Ciam estava me olhando com cara de assustado que sinceramente achei engraçado.
- Por que está rindo? Perguntou Ciam erguendo uma sobrancelha.
- Porque a sua cara de medo foi fantástica, não precisa ter medo enquanto estiver ao meu lado.
- Olha, se eu estivesse em meio a uma guerra, eu ficaria feliz em estar ao lado dela.- Falou Hugo olhando para Ciam.
- Você é tão boa assim? Li que você é respeitada em batalhas, e que o exército inteiro de Lycan te seguem cegamente, mas vendo você assim, não dá pra acreditar.
- A guerra muda as pessoas, e você não consegue a lealdade de pessoas pela violência e sim pela lealdade com elas.
Virei o rosto para a janela afim de contemplar a paisagem de várias árvores que ficavam a beira da estrada.
Trinta minutos depois chegamos ao local, Hugo abriu a porta para que eu e o Ciam saíssemos.
Começamos a caminhar por uma trilha estreita, a noite já havia caído, e enquanto andávamos, dava para ouvir o barulho do mar batendo nas pedras ao nosso lado. Andamos por dez minutos até chegar em uma praia pequena, de areia branca e algumas árvores, andamos em direção as pedras e comecei a subir e a andar entre elas.
- Eu não vou conseguir andar por aí - Disse Ciam tentando se equilibrar na primeira pedra.
- Vem segura a minha mão, eu te ajudo até lá - Falei pegando em sua mão  puxando para o meu lado.
Andamos até perder a areia de vista, quando chegamos ao lugar.
- Pronto, chegamos ao meu porto seguro - Falei saindo da frente dele para que ele visse a paisagem.
O mar estava na cor azul escura, estava agitado, e batia com bastante fúria nas pedras abaixo de nós, o céu estava estrelado e dava para ver o reflexo das estrelas no mar, junto com a lua nova, tão linda.
- É perfeito, como eu não sabia da existência desse lugar? Falou olhando com admiração o mar a sua frente.
- Poucas pessoas sabem daqui, o que o torna especial, vem deita aqui comigo, é mágico ver as estrelas com o barulho do mar.
Deitamos e em silêncio contemplamos aquela obra de arte.
Três horas depois decidi que já era a hora de ir embora, pois não era muito cuidadoso andar de noite sendo que os Vampiros queriam ele a qualquer custo.
- Vamos embora? Já está tarde e os Vampiros já estão na rua. - Falei  levantando e esticando a mão para ele.
- Vamos sim - Disse pegando na minha mão e se levantando com um sorriso no rosto.
Voltamos o caminho todo em silêncio, ele parecia ainda estar contemplando a paisagem que acabara de ver.
Chegamos até o carro, Hugo abriu a porta e entramos.
- Para casa Hugo, por favor.
Começamos a voltar para casa, e vi que Ciam olhava para as paisagens com um olhar diferente como se estivesse procurando beleza nelas.
Quando meu celular tocou:
- Alô?
- Oi senhora, Aqui é o Tenente Abigor, a senhora pode falar?
- Sim, o que aconteceu?
- Senhora, o treinador Anael foi assassinato agora no começo da noite-olhei para Hugo e fiz sinal para encostar o carro.
- A esposa dele já sabe?
- Não senhora, estamos esperando a sua decisão sobre o que fazer.
- Deixa que eu dou a notícia para a mulher dele, quanto ao assassinato estou a caminho, enquanto não chego, examine cada milímetro do local para achar alguma pista entendeu?
- Sim senhora, até mais.
Desliguei o celular e olhei para Hugo com os olhos cheios de água.
- A senhora está bem? - Perguntou Hugo se virando para me olhar nos olhos - Você está pálida.
- Anael está morto, acabaram de matar ele - falei lutando para não derramar uma lágrima.
- Sinto muito Kira - Falou pegando  na minha mão.
- Obrigado, vou dar a notícia para a Sophia.
Peguei o celular e comecei a digitar os números dela.
- Alô Sophia?
- Oi Kira, quanto tempo, aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, preciso que fique calma, Anael foi morto, no começo da noite, estou a caminho do local, e prometo matar quem fez isso.
Ouvi um grito do outro lado do telefone e o celular ficou mudo, desliguei o celular falando para o Hugo.
- Vamos para  o parque industrial, em frente ao teatro.
Hugo fez sinal que sim com a cabeça, eu olhei para Ciam e vi seu olhar de consolo, sua mão segurou firme na minha, e me senti consolada.

Lycan's - O último guardiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora