Lycan's - O último guardião

VIII

Acordei com meu celular tocando, ainda sonolenta atendi.
- Alô?- Falei passando as mãos nos olhos, afim de expulsar o sono.
- Alô senhora, estou te ligando para informar que o enterro do senhor Anael será realizado daqui duas horas.
- Obrigado por me avisar , tenha um bom dia - Falei desligando o celular e me virando e vendo Ciam dormir tranquilamente.
Tem algo nele que me atrai, que me prende, que me faz querer ele perto, que me faz querer proteger- lo sempre.
Em um movimento de impulso, abracei Ciam, senti seu corpo debaixo das minhas mãos, senti seu cheiro, seu calor.
O cheiro dele era embriagante, era como uma droga que me anestesiava.
Com a mesma rapidez que abracei, eu o soltei e me afastei.
Fazia séculos que eu não me sentia assim por alguém, e não podia colocar ele em perigo, porque a última pessoa que amei foi morta simplesmente por ser meu ponto fraco.
Balancei a cabeça e comecei a acordar Ciam.
- Acorda, vai acorda bela adormecida, meu Deus, como dorme - falei balançando os ombros dele devagar.
- Já acordei, já acordei, bom dia - falou se virando e abrindo um sorrisinho.
- Até que fim achei que teria que te derrubar da cama, bom dia.
- Nossa delicada como mula.
- obrigado pelo elogio, você pode ir comigo no enterro do Anael ?
- Claro, posso sim que horas? Falou abaixando as cobertas.
- Daqui duas horas - Falei soltando um sorriso.
- Então vou tomar um banho e tomar café da manhã, aí vamos - Falou se levantando e indo para o banheiro.
Me levantei e fui para o meu armário, peguei uma caixa que estava na última prateleira atrás de várias caixas, abri a caixa na cama e tirei um terno, exatamente como pensei ,vai servir direitinho.
Andei em direção a porta do banheiro, bati na porta e falei.
- Posso entrar? Tenho algumas roupas para você usar.
- Pode entrar Kira.
Abri a porta e ele estava deitado na banheira, com apenas a cabeça e os pés para fora. Coloquei as roupas em cima da pia e fechei a porta rapidamente.
Me deitei na cama para esperar ele sair do banheiro para tomar banho.
Alguns minutos depois Ciam saiu do banheiro com uma calça social preta, uma camiseta social branca com ótima costura, e um terno preto perfeitamente colocado em seu corpo. Ele realmente estava lindo, peguei uma roupa no meu armário, junto com um sapato e fui para o banheiro.
Liguei a banheira e fiquei me olhando no espelho, eu tinha mais de mil anos e meu rosto não envelheceu, está do mesmo jeito de quando eu tinha dezoito anos, por um momento eu tive vontade de ser normal e envelhecer como qualquer pessoa.
Desliguei a banheira e me deitei, comecei a me limpar, passando levemente a espuma em meu corpo, e por alguns momentos podia jurar que senti as mãos de Ciam percorrendo meu corpo. Abri os olhos e vi que estava sozinha no banheiro, terminei o banho e comecei a me secar e me vestir.
Estava usando um vestido preto até o joelhos com a parte acima dos seios e as  mangas rendadas. Usava saltos pretos, Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, passei apenas um lápis de olho preto e um delineador nos olhos e sai do banheiro.
Ciam se virou e ficou parado me olhando, ele simplesmente paralisou.
-  Está tudo bem com você? - Perguntei olhando a roupa dele combinada com um belo par de sapatos de couro de ótima qualidade.
- Estou sim, desculpe - Falou se virando para o espelho em frente ao armário.
- Ainda bem, achei que tinha virado a medusa e tinha petrificado você.- falei dando uma gargalhada.
- Você é irônica assim mesmo ou é só comigo?
- As duas coisas - falei ajeitando meu vestido.
Ciam desceu para tomar café da manhã enquanto eu me joguei na cama.
Mil pensamentos passaram na minha cabeça, eu estava indo ver Anael morto, ia ver o corpo dele virar cinzas, ia ver sua existência se esvair.
Levantei tentando conter esses pensamentos e abri a porta, comecei a descer as escadas e vi Ciam se matando em bolo de chocolate.
- Aonde você arruma essas comidas?
- Hugo me trás desde que você está aqui, assim você não fica com fome.
- Preciso agradecer ele por esse bolo maravilhoso - Falou colocando o último pedaço  na boca.
- Poderá agradecer, agora vamos ? - Falei abrindo a porta de casa.
Caminhamos até o carro, Hugo abriu a porta como sempre.
- A senhora está bem ? - perguntou me olhando pelo espelho enquanto começava a dirigir.
- Estou sim, obrigada e você? Vai entrar para ver a cremação?
- Sim, vou dar meu último Adeus ao meu amigo.
- Então vai entrar comigo - Falei sorrindo.
Hugo fez um sinal positivo com a cabeça.
Ficamos em silêncio o caminho todo até chegar no cemitério em que a cremação seria feita.
Ciam se limitou apenas em segurar minha mão o caminho todo.
- Chegamos senhora.
Hugo abriu a porta e parou ao meu lado junto com Ciam.
O velório tinha poucas pessoas, no máximo quinze, esse é o preço de viver a nossa vida, estar na maioria das vezes sozinho.
Entramos até a sala em que a cremação ia acontecer.
Sophia estava parada olhando para o caixão.
Me aproximei dela e coloquei a mão em seu ombro enquanto falava :
- Eu sinto muito, eu daria tudo para estar ao lado dele para que isso não acontecesse.
- Eu sei Kira, sei o quanto você gostava dele, e o quanto ele se orgulhava de você. Infelizmente esse é o risco de ser um Lycan, e ele sabia disso, e ele não deixaria de ir até lá mesmo se soubesse o final.
- Eu prometo que irei matar quem fez isso - Falei abraçando ela para tentar amenizar a nossa perda.
Hugo se aproximou do caixão, e falou algumas coisas em tom baixo, que eu não quis ouvir, acho que esse momento era só deles.
Ficamos parados perto do caixão vendo, as pessoas que estavam ali, eram todas conhecidas nossas, Anael tinha com certeza feito algo  importante na vida dessas pessoas.
Algum tempo depois Sophia chegou perto de nós e avisou que a cremação já ia acontecer.
Caminhamos para perto da televisão pela qual podíamos ver o caixão ser queimado.
Tiraram o caixão da sala, e segundos depois ele apareceu na televisão, o colocaram na máquina e ascenderam o fogo, em minutos Anael se transformou em cinzas, tiraram as cinzas dele e colocaram em uma caixa de madeira, com desenhos de dragões.
Eu lutava para não deixar uma lágrima cair, ele não ia gostar de me ver assim.
Minutos depois saímos e fomos em direção ao carro.
Hugo abriu a porta, e ficamos em silêncio o caminho todo, Ciam não tirava os olhos de mim.
Eu olhava a paisagem cinzenta, o dia estava de luto, e no meio do caminho começou a chover, era como se o mundo estivesse chorando a perda dele.
Chegamos em casa, me despedi do Hugo, subi até o quarto e me joguei na cama,  pegando no sono.