Capítulo 2

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CAPÍTULO REVISADO.

Letícia acima. Boa leitura! 




-Então... -Falei, um pouco pensativa. Ela seria a primeira pessoa que iria saber de tudo! Do meu passado, do meu segredo, eu estava disposta a desabafar com ela. Mesmo ela sendo uma completa estranha pra mim, eu não poderia deixar aquelas coisas me sufocarem. Fiquei olhando pro nada pensando em como começar e ela me encarava esperando uma resposta. Ela seria a primeira pessoa a quem eu estaria disposta mesmo a confiar, a quem eu me abriria, mas e se ela não fosse confiável? E se usasse isso contra mim um dia? Ah, quer saber, dane-se! Eu preciso desabafar com alguém, isso me fará bem. Eu espero.

-Anne? -Disse ela estralando os dedos perto de meus olhos, assim me tirando do transe.

-Ahn?...Ah, sim. O que eu estava dizendo mesmo?

-Sua história, vamos, conte-a. -Ela falou autoritária.

-Bom, não sei por onde começar. -Falei a encarando.

-Que tal pelo começo? -Ela disse sendo irônica e eu sorri balançando a cabeça.

-Então...Começarei como você começou naquela hora... -ela assentiu e assim continuei. -... Me chamo Anne Stonne e tenho 15 anos. Moro com minha mãe e meu irmão. Não tenho amigos, nunca namorei. Quer dizer, já tive sim amigos e também já fui uma das populares mas pelo o que aconteceu comigo eles se afastaram de mim... -Ela me interrompe e eu abaixo a cabeça.

- O que aconteceu com você? -Perguntou assustada.

-Calma, deixa eu continuar. A seis anos atrás, meu pai morreu e acabei entrando em depressão, pois eu amava muito ele. No dia em que ele morreu eu tentei me matar usando remédio mas me salvaram a tempo e a partir desse dia eu jurei que nunca mais iria tentar suicídio. Desde então eu comecei a me auto-mutilar e os cortes eram cada vez mais profundos... -levantei a manga do meu moletom e mostrei-lhe as marcas. Ela passou os dedos por cima e eu continuei. -...Conheci uma menina chamada Ana, ela estuda na mesma escola que eu. No começo ela era  minha amiga e eu contei tudo para ela e ela me apoiou e dizia que sempre estaria comigo pra tudo. Mas a partir daí, as coisas pioraram, comecei a sofrer bullying na escola e cada palavra, por mais que eu não ligasse, me doía. Lá dentro, bem no meu coração, eu sentia uma pontada horrível. A cada palavra ruim que me direcionavam, uma lágrima caia dos meus olhos e é assim até hoje... -Falei em meio de um rio de lágrimas. Letícia enxugou elas e eu continuei. -...Eu me cortava cada vez mais, era viciante e não tinha como parar, eu não pensava direito. Recebi tantos apelidos, nerd esquisita, a cabelo de fogo, a doida que usava piercing. Eu sou julgada por tudo o que faço, todos criticam como sou, o que visto e tudo mais. Sabe, isso dói! Mas continuando, eu comecei a me envolver com drogas e isso me deixava alucinada e doida, cada vez mais. Eu estava tão doida de drogas que acabei cortando uma veia minha e ela estorou, fui para o hospital e de novo, quase morri. Ana e meus amigos souberam e depois disso se afastaram de mim. Eles me disseram dentro do hospital que sentiam nojo de mim e nojo da pessoa que eu tinha me tornado nos últimos tempos. Eu chorei bastante nesse dia. Minha mãe me internou em uma clínica de reabilitação à dois anos atrás e eu melhorei em relação as drogas, mas não dos cortes. Era e sou depressiva até hoje. Já não bastava minha mãe e meu irmão terem perdido meu pai, eu trazia mais problemas pra eles, mais despesa, mais sofrimentos e eu sabia que eu estava sendo o problema daquela família, o que seria mais um motivo pra desistir de tudo. Ver minha mãe chorar naquela clínica me fez partir o coração e me senti completamente um lixo por estar fazendo aquilo com eles. -Eu terminei quase não conseguindo falar, pois já soluçava demais.

-Nossa Anne, eu não sei o que dizer... Sinto muito pelo o seu pai. -Ela me abraçou e eu vi uma lágrima descer de seus olhos.

-Continuando, eu nem te falei que tinha uma outra amiga. Ela se chamava Carla e era tudo pra mim. Quando eu era pequena eu a conheci no parque que sempre vou e nós costumávamos brincar de boneca em uma casinha feita de pano, ela dizia que a boneca médica era eu e a boneca estilosa era ela, o sonho dela era ser estilista desde pequena... -Deixei um sorriso escapar quando lembrei das cenas do dia em que nos conhecemos. -...Ela se mudou depois de pouco tempo e ai ficávamos conversando virtualmente. Em 2013 ela disse que viria para cá no final do ano e eu esperei ansiosamente por isso. Dois dias antes de chegar em Brasília ela falou pra mim que me amava e não importava aonde ela estivesse, que iria me amar e que iria cuidar de mim sempre e depois disso não falei com ela. No dia 28 de dezembro de 2013, eu recebi a pior notícia que pude receber, a notícia que me matou por dentro, que me fez perder meu mundo e que me fez perder meu chão. Ela tinha morrido em um acidente de carro. Me disseram que ela iria tirar uma foto da onde estava para me mandar e acabou tirando o cinto, seu pai acabou perdendo o controle do carro e ela foi arremessada e perdeu a vida por causa de uma droga de foto. Tudo por minha culpa. Se não fosse por isso ela estaria aqui conosco e tenho a certeza de que iria me dizer que tudo ia ficar bem. Eu chorei bastante, quebrei a minha promessa e tentei novamente me matar. Por que eu perdi as pessoas que eu mais amava? Por que tenho que sofrer tanto? Por que meu Deus? Eu só queria sorrir, só queria uma família feliz como a de antigamente. Depois da morte do meu pai minha vida e minha família nunca mais foram a mesma. Ela estava desunida, triste e sofrida. Eu não quero isso, dói bastante. -Eu já soluçava de novo e minha blusa estava encharcada, olhei pra Letícia e ela estava chorando. 

Ela me abraçou e ficamos assim por um tempo, chorando abraçadas. Eu não sabia que teria coragem de contar isso a alguém, me sinto mais leve depois disso, talvez um pouco até bem. 

-Anne...E-eu não s-sei o que d-dizer. -Letícia me olhava dizendo as palavras soluçando. Sim, ela se emocionou com o meu passado.

-Por favor, não conte isso a ninguém. Agora se você for se afastar de mim eu irei me vingar pois... -Comecei a falar mas ela me interrompeu.

-EU NÃO VOU CONTAR A NINGUÉM, VOCÊ NÃO MERECE MAIS SOFRER. -Ela gritou o que acabou me deixando assustada, eu não esperava isso. -Eu sinto que já te conheço de outras vidas, eu não sou a Ana meu amor, eu vou te ajudar. -Ela diz me abraçando.

-Obrigada. -Sussurrei

Tive que concordar com ela, parece que já nos conhecemos do passado e até de outras vidas ou de algum lugar misterioso que eu não me lembro bem. Eu sinto que já vi aquele rosto delicado em algum lugar e ela foi a primeira pessoa que eu confiei e falei tudo o que eu sentia e tudo o que estava preso dentro de mim á anos. 

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Olá leitores, obrigada pelas visualizações, votos e comentários! Amo vocês. 

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