Capítulo 6

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CAPÍTULO REVISADO.



Segunda

Mais um dia de aula, mais um dia onde eu terei que ver Ana e seus fiéis seguidores fazerem algo comigo. Isso com toda a certeza do mundo me deixa triste. Estava com a leve sensação de que hoje não seria um bom dia e que algo de ruim aconteceria. Mesmo assim me levantei e tomei um banho, me vesti e tomei meu café. Como minha mãe não estava em casa fui a pé para a escola.

(...)

-Oi amiguinha. -Ana disse me puxando.

Não a respondi e continuei andando depois de me puxar. Mas Johnny, um de seus amigos, me puxou e pegou a minha mochila, abrindo a mesma. Ele jogou tudo o que eu tinha dentro da mochila no chão enquanto Bruna, uma outra amiga de Ana e minha ex amiga, pegou meu celular que estava dentro de um dos bolsos da minha mochila.

-Me dá meu celular! -Puxei da mão dela. 

-Não! -Ela pegou de novo da minha mão e colocou no alto. Pulei para pegar mais a minha altura não ajudou muito, Bruna tinha sua vantagem, ela era bem mais alta que eu. Ana e seu grupo riam da minha cara e todos que estavam no pátio viram e não fizeram nada, como sempre. Ela me empurrou e viu as marcas em meus braços, droga. Agora eu tinha certeza de que a tortura começaria.

-Olha só... -Ela disse puxando o meu braço. -... A nerdzinha continua se cortando. -Ela riu. Vi um de seus amigos pegando alguma coisa e dando pra ela. Me virei para pegar minha mochila mas Ana se jogou na minha frente e abriu o vidro com o líquido e derramou a substância em meus braços cortados. 

Aquilo ardia, queimava e doía bastante e mais do que tudo. Com certeza uma das piores dores que já senti. Eu comecei a chorar por que aquilo era ruim, até que me lembrei que isso só causava se você jogasse álcool. Cheirei o meu braço e logo pude confirmar. Álcool! Todos riam de mim. Todos me viram chorando, me viram com dor, sofrendo e não fizeram nada. Peguei minhas coisas e sai correndo. Meu braço estava doendo muito e eu não tinha condições de ficar na aula, novamente.

Corri em direção ao parque onde meu pai me levava e me sentei de frente pro lago. Comecei a chorar e chorei mais que tudo. As pessoas que passavam me olhavam tentando decifrar o que tinha acontecido comigo para está daquele jeito. Fiquei 15 minutos chorando de soluçar, nunca chorei tanto. Meus braços estavam doendo ainda e mais lágrimas brotavam dentro de mim quando eu via aquilo, mesmo eu não querendo chorar. Eles estavam vermelhos e inchados por causa do álcool. Coloquei uma música em meu celular e liguei no último volume. Vi alguém se aproximar mas não me dei o trabalho de ver quem era já que estava chorando e não conseguia ver o que estava na minha frente.

-Anne? -Uma voz grossa disse. Eu conhecia essa voz, eu acho. Me virei e vi quem eu menos esperava.

-Augusto? -Falei surpresa. Escondi os meus braços e limpei as lágrimas. Tudo o que eu mais queria era que ele não visse meus cortes.

-Por que está chorando?

-Não quero falar sobre isso. 

-Tudo bem. -Virei minha cabeça e continuei encarando o lago. Augusto me fitava, até que parou os olhos... AH MEU DEUS !

-O que foi isso? -Ele me perguntava pegando nos meus braços.

-Não foi nada. -Puxei meu braço de volta.

-Nada? COMO ISSO NÃO FOI NADA? -Ele falou gritando e confesso que isso me assustou. Eu sempre me assusto. 

-Não foi nada,  eu já disse. Não quero falar sobre isso. -Falei com os olhos cheios d'água.

-Desculpa... -Ele virou a cabeça e fitou o lago. -...Se você não quiser falar sobre isso tudo bem. -Assenti.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, fiquei observando o lago enquanto ele olhava para as pessoas. 



Flashback on

Eu e meu pai estávamos andando no parque e vendo outras crianças brincarem.

-Papai, eu quero ir no escorregador. -Falei pra ele. 

-Está bem minha pequena. -Ele falou me pegando no colo. Brincamos o dia todo.

-Minha pequena, vamos, quero te levar em um lugar. -Papai disse me dando a mão até pararmos embaixo de uma árvore.

-Querida, vire-se. -Ele falou e assim eu fiz. Quando me virei me deparei com uma cena linda. Era dia e o Sol raiava e aquele momento em que eu observei aquele lago, me senti feliz.

-Papai isso é lindo. -Falei de boca aberta com aquilo. Era a coisa mais linda que tinha visto. Nos sentamos em baixo de uma árvore que tinha ali.

-Pequena, quero que se lembre de mim toda vez que você ver esse lago. Toda vez que você sentir esse vento. Toda vez que você sentar embaixo dessa árvore, lembre-se de mim. Quando eu estiver longe ou você estiver triste, venha aqui. Aqui poderá ser o seu refúgio e faça dessa árvore e desse lago, o seu mundo.

Aquelas palavras eram diferentes de tudo o que ele já disse. Seria isso uma despedida? Mas por que?

Flashback OFF



-Anne, você está chorando. -Augusto me fitava enquanto eu chorava. Eu nem tinha percebido isso. Lembrar daquelas palavras que meu pai me disse naquele dia, me fez ficar triste e sentir a falta dele. Sentir falta do abraço dele, das suas palavras, de seus carinhos e de tudo o que ele era. Eu encarava Augusto chorando mais ainda e ele me olhava com pena e sem entender nada.

-Anne não chore... -Ele me abraçou. -...Por que está chorando pequena? -Sorri fraco quando ele me chamou de pequena. Meu pai me chamava assim. Eu sentia a sua falta, a falta da sua presença. Agora eu chorava ainda mais e a camisa de Augusto já estava encharcada.

-M-me d-desculpe. -Disse soluçando.

-Está se desculpando pelo o que? 

-P-por s-sua c-camisa. Está encharcada. -Falei ainda entre soluços. 

-Isso...-Ele apontou para a mancha e deu um sorriso de lado. -...Não foi nada. -Dei um sorriso falso e enxuguei minhas lágrimas. Ele me deu um abraço apertado.

-Tudo bem.

-Quer dá uma volta? 

-Pode ser. Para onde vamos? -Perguntei.

-Que horas são?

-São...- Peguei meu celular e vi a hora. -... 11:10. Nossa, mas já?

-Passou rápido o tempo. Quer ir em uma sorveteria?

-Está bem. 

Me levantei e peguei minhas coisas. Ele pegou em minha mão e fomos.

(...)

-Você quer de que sabor? -Ele falou.

-Chocolate. -Dei um sorriso.

-Moça, dois sorvetes de chocolate por favor. -Ele falou para a garçonete e depois voltou a me fitar. Ficamos nos olhando por um bom tempo, até a moça entregar os nossos sorvetes.

Depois de uma longa briga sobre quem iria pagar, ele pagou e fomos embora. Ficamos andando sem rumo até que vi uma pessoa vindo em minha direção. Vi que conhecia muito bem essa pessoa, era Lucas. 

Além dos CortesOnde histórias criam vida. Descubra agora