CAPÍTULO REVISADO.
Segunda
Mais um dia de aula, mais um dia onde eu terei que ver Ana e seus fiéis seguidores fazerem algo comigo. Isso com toda a certeza do mundo me deixa triste. Estava com a leve sensação de que hoje não seria um bom dia e que algo de ruim aconteceria. Mesmo assim me levantei e tomei um banho, me vesti e tomei meu café. Como minha mãe não estava em casa fui a pé para a escola.
(...)
-Oi amiguinha. -Ana disse me puxando.
Não a respondi e continuei andando depois de me puxar. Mas Johnny, um de seus amigos, me puxou e pegou a minha mochila, abrindo a mesma. Ele jogou tudo o que eu tinha dentro da mochila no chão enquanto Bruna, uma outra amiga de Ana e minha ex amiga, pegou meu celular que estava dentro de um dos bolsos da minha mochila.
-Me dá meu celular! -Puxei da mão dela.
-Não! -Ela pegou de novo da minha mão e colocou no alto. Pulei para pegar mais a minha altura não ajudou muito, Bruna tinha sua vantagem, ela era bem mais alta que eu. Ana e seu grupo riam da minha cara e todos que estavam no pátio viram e não fizeram nada, como sempre. Ela me empurrou e viu as marcas em meus braços, droga. Agora eu tinha certeza de que a tortura começaria.
-Olha só... -Ela disse puxando o meu braço. -... A nerdzinha continua se cortando. -Ela riu. Vi um de seus amigos pegando alguma coisa e dando pra ela. Me virei para pegar minha mochila mas Ana se jogou na minha frente e abriu o vidro com o líquido e derramou a substância em meus braços cortados.
Aquilo ardia, queimava e doía bastante e mais do que tudo. Com certeza uma das piores dores que já senti. Eu comecei a chorar por que aquilo era ruim, até que me lembrei que isso só causava se você jogasse álcool. Cheirei o meu braço e logo pude confirmar. Álcool! Todos riam de mim. Todos me viram chorando, me viram com dor, sofrendo e não fizeram nada. Peguei minhas coisas e sai correndo. Meu braço estava doendo muito e eu não tinha condições de ficar na aula, novamente.
Corri em direção ao parque onde meu pai me levava e me sentei de frente pro lago. Comecei a chorar e chorei mais que tudo. As pessoas que passavam me olhavam tentando decifrar o que tinha acontecido comigo para está daquele jeito. Fiquei 15 minutos chorando de soluçar, nunca chorei tanto. Meus braços estavam doendo ainda e mais lágrimas brotavam dentro de mim quando eu via aquilo, mesmo eu não querendo chorar. Eles estavam vermelhos e inchados por causa do álcool. Coloquei uma música em meu celular e liguei no último volume. Vi alguém se aproximar mas não me dei o trabalho de ver quem era já que estava chorando e não conseguia ver o que estava na minha frente.
-Anne? -Uma voz grossa disse. Eu conhecia essa voz, eu acho. Me virei e vi quem eu menos esperava.
-Augusto? -Falei surpresa. Escondi os meus braços e limpei as lágrimas. Tudo o que eu mais queria era que ele não visse meus cortes.
-Por que está chorando?
-Não quero falar sobre isso.
-Tudo bem. -Virei minha cabeça e continuei encarando o lago. Augusto me fitava, até que parou os olhos... AH MEU DEUS !
-O que foi isso? -Ele me perguntava pegando nos meus braços.
-Não foi nada. -Puxei meu braço de volta.
-Nada? COMO ISSO NÃO FOI NADA? -Ele falou gritando e confesso que isso me assustou. Eu sempre me assusto.
-Não foi nada, eu já disse. Não quero falar sobre isso. -Falei com os olhos cheios d'água.
-Desculpa... -Ele virou a cabeça e fitou o lago. -...Se você não quiser falar sobre isso tudo bem. -Assenti.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, fiquei observando o lago enquanto ele olhava para as pessoas.
Flashback on
Eu e meu pai estávamos andando no parque e vendo outras crianças brincarem.
-Papai, eu quero ir no escorregador. -Falei pra ele.
-Está bem minha pequena. -Ele falou me pegando no colo. Brincamos o dia todo.
-Minha pequena, vamos, quero te levar em um lugar. -Papai disse me dando a mão até pararmos embaixo de uma árvore.
-Querida, vire-se. -Ele falou e assim eu fiz. Quando me virei me deparei com uma cena linda. Era dia e o Sol raiava e aquele momento em que eu observei aquele lago, me senti feliz.
-Papai isso é lindo. -Falei de boca aberta com aquilo. Era a coisa mais linda que tinha visto. Nos sentamos em baixo de uma árvore que tinha ali.
-Pequena, quero que se lembre de mim toda vez que você ver esse lago. Toda vez que você sentir esse vento. Toda vez que você sentar embaixo dessa árvore, lembre-se de mim. Quando eu estiver longe ou você estiver triste, venha aqui. Aqui poderá ser o seu refúgio e faça dessa árvore e desse lago, o seu mundo.
Aquelas palavras eram diferentes de tudo o que ele já disse. Seria isso uma despedida? Mas por que?
Flashback OFF
-Anne, você está chorando. -Augusto me fitava enquanto eu chorava. Eu nem tinha percebido isso. Lembrar daquelas palavras que meu pai me disse naquele dia, me fez ficar triste e sentir a falta dele. Sentir falta do abraço dele, das suas palavras, de seus carinhos e de tudo o que ele era. Eu encarava Augusto chorando mais ainda e ele me olhava com pena e sem entender nada.
-Anne não chore... -Ele me abraçou. -...Por que está chorando pequena? -Sorri fraco quando ele me chamou de pequena. Meu pai me chamava assim. Eu sentia a sua falta, a falta da sua presença. Agora eu chorava ainda mais e a camisa de Augusto já estava encharcada.
-M-me d-desculpe. -Disse soluçando.
-Está se desculpando pelo o que?
-P-por s-sua c-camisa. Está encharcada. -Falei ainda entre soluços.
-Isso...-Ele apontou para a mancha e deu um sorriso de lado. -...Não foi nada. -Dei um sorriso falso e enxuguei minhas lágrimas. Ele me deu um abraço apertado.
-Tudo bem.
-Quer dá uma volta?
-Pode ser. Para onde vamos? -Perguntei.
-Que horas são?
-São...- Peguei meu celular e vi a hora. -... 11:10. Nossa, mas já?
-Passou rápido o tempo. Quer ir em uma sorveteria?
-Está bem.
Me levantei e peguei minhas coisas. Ele pegou em minha mão e fomos.
(...)
-Você quer de que sabor? -Ele falou.
-Chocolate. -Dei um sorriso.
-Moça, dois sorvetes de chocolate por favor. -Ele falou para a garçonete e depois voltou a me fitar. Ficamos nos olhando por um bom tempo, até a moça entregar os nossos sorvetes.
Depois de uma longa briga sobre quem iria pagar, ele pagou e fomos embora. Ficamos andando sem rumo até que vi uma pessoa vindo em minha direção. Vi que conhecia muito bem essa pessoa, era Lucas.
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Além dos Cortes
Teen FictionA vida tem dessas não é? Mudar quando menos esperamos e quando nos damos conta o nosso mundo está de cabeça pra baixo. A típica adolecente de quinze anos solitária, Anne Stonne, possuí olhos verdes e cabelos vermelhos como o fogo. Também denominada...