Capítulo 44

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CAPÍTULO REVISADO. 

Sabe quando você está rodeado de pessoas mas se sente sozinha? Quando tudo parece sem sentindo e quando quem se ama está longe? É exatamente desse jeito que eu estava me sentindo. Tentar esquecer o Niall é difícil, dói e eu juro por todos os deuses existentes que não queria que isso tivesse acontecendo.

Peguei um livro na estante, com a intenção de me distrair e esquecer o que estava acontecendo comigo. Cheiro de livros me acalmam, isso pode parecer estranho mas é um dos meus fetiches. As folhas corriam assim que eu as folheava rapidamente, mas algo brilhante e de metal entre as páginas me chamou atenção. Duas lâminas brilhantes que eu não faço a mínima ideia de como foram parar ali. Fechei-o fortemente e liguei a televisão.

''Repórter: -Hoje, o boing AL0777, da empresa aérea Barlines, decolou do Aeroporto Internacional de Brasília com destino a Londres e caiu em alto mar. Haviam á bordo duzentos passageiros e apenas cem deles foram resgatados. Ao todo, cinquenta passageiros foram feridos e estão no hospital em estado grave. Os outros cinquenta passam bem em casa e com leves ferimentos. O número de mortes é pequeno, sendo que dentro delas o comandante Geoff Clark e um casal brasileiro reconhecidos como Gustavo Becker Stonne Alcântara e Mariana Gonçalves Alcântara Stonne. A marinha britânica está em alto mar a procura dos outros...''

O meu coração tinha parado e meus olhos se encheram de lágrimas imediatamente. Meu cérebro se recusava a aceitar que o meu irmão e sua esposa estavam mortos. E tudo o que eu me pergunto agora é porquê disso. 

Nada mais estava fazendo sentindo pra mim e eu cheguei a conclusão que já não quero estar mais aqui. Eu estou perdendo aos poucos as pessoas que eu amo e a cada morte, eles levam um pedaço de mim. O cansaço na minha alma faz o meu corpo pesar. Está doendo tudo e está doendo tanto. Já cansei desse sistema estúpido, da humanidade e até de mim mesma. Me vejo em um beco sem saída, cercada pela escuridão. Estou tentando correr, gritar, mas nada sai de mim. Eu cheguei ao meu limite. 

Eu vi o sangue sair das partes que estavam cortadas, vi todo aquele branco pálido ganhar vida com o vermelho que surgiu depois de passar aquela pequena coisa cortante de metal nos meus pulsos. Isso está acabando comigo. É como se eu não tivesse mais em quem me segurar, é como se todos tivessem ido embora quando na verdade nunca estiveram ali. Os cortes profundos estavam fazendo todo o meu sangue ir embora. Fui até o armário e peguei todos os tipos de remédios encontrados ali. Um por um, descendo garganta abaixo e encontrando seu caminho. 

Mais uma vez eu fui fraca, mas agora eu tinha certeza de que iria encontrar as pessoas que eu amava. Eu fracassei e me entreguei a dor, talvez seja isso que as pessoas fracas fazem. Sim, eu acabei de destruir tudo aquilo que já estava construído. 

Suicídio não deveria ser pecado. Ninguém se mata porque querem acabar com sua vida, as pessoas se matam porque querem acabar com a dor que há dentro delas, pois simplesmente não aguentam mais tudo isso e apenas querem ter paz. Dormir profundamente e nunca mais acordar. 

Qual a razão de continuar existindo quando sua cabeça diz que exatamente tudo está errado com você? Perdida dentro de mim mesma, agora não tem mais volta e a minha dor terá um fim. 

O meu mundo estava em câmera lenta e preto e branco. A lâmina que tirava a minha vida e toda a minha essência caiu no chão, assim como o meu corpo. O escuro tomou conta de mim, é agora. 

Adeus. 



















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Eu não sabia aonde estava, talvez fosse outro mundo. Tudo era branco e apenas havia eu naquele quadrado. Tentei explorar o lugar, mas não tinha saída. Olhei para trás e vi o parque aonde eu costumava ir sempre. O branco do local foi sumindo assim que eu caminhava pelo parque, parecia um sonho bizarro. 

Uma menina pequena corria rapidamente pelo parque, enquanto um homem e um garoto estavam atrás dela. Todos eles pareciam estar bastante felizes de longe. Cheguei mais perto e percebi que era eu, o meu pai e meu irmão. Eram lembranças da minha memória. Logo apareci em outro lugar completamente diferente, e Letícia estava conversando alegremente com a outra eu. 

-Letícia! -Gritei e tentei tocá-la, mas ela não me escutou. Eu realmente consegui morrer? 

Vários lugares aparecem, outras memórias e pessoas do meu querido passado. O meu espírito parecia ter voltado para a minha casa, onde eu estava no chão inconsciente e cheia de sangue ao redor. Tudo era como um filme pra mim, mas eu não sabia quem estava comandando. Virei para trás com a ideia de não ver o que eu tinha feito e vi as pessoas que tanto amo. 

-Pai! Que saudades! -Abracei-o. 

-Você está tão grande Anne, eu senti tanto sua falta. -Ele disse e as minhas lágrimas caíram. Gustavo também nos abraçou e eu me sentia feliz naquele momento.

-Eu senti sua falta, amiga! -Karol me abraçou e não me largou mais.

-Por favor, fiquem comigo. 

-Não podemos. -Gustavo falou.

-Todos nós vimos o que você passou Anne, mas não podíamos tem ajudar e muito menos fazer nada. Mas juntar você e Letícia fez preencher a falta que eu fazia pra você. -Karol falou pra mim e eu sorri. 

-Aonde eu estou? -Perguntei olhando em volta. 

-Isso não importa agora, querida. -Meu pai disse e uma luz apareceu no meio da minha sala. Abracei-os e eles se posicionaram na luz. -Nós queríamos poder te levar Anne, mas ainda não podemos. Tem muitas coisas para acontecer ainda. Sim, nós sabemos o quanto você precisa de nós e o quanto você está triste com o mundo. Mas saiba que você é forte e não importa aonde esteja, nós sempre estaremos com você. 

-Por favor, eu não sou feliz aqui...-Supliquei chorando, a saudade falava mais alto agora. 

-Você ainda vai ser feliz, apenas espere. Eu sei que vai querer ficar pra ver o seu casamento. Nós te amamos. Seja forte, minha filha! -Meu pai disse. Tudo havia ficado preto, eles tinham sumido e eu estava sozinha novamente. 


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