Crimes Noturnos

78 2 0
                                    


O descontrole é o princípio da loucura.Uma vez nesse caminho,é difícil voltar...

As pessoas subestimam a inocência infantil,desde duvidar que uma criança com olhar meigo tenha bagunçado a casa à acreditar que a mesma tenha cometido crimes sangrentos.Foi por esse ângulo que Helena começou a pensar depois do segundo momento de horror que Philip a causou.Ela sempre foi uma menina inteligente,e isso era notável.Apesar da idade,sempre pensou coisa mais avançadas do que os colegas de escola,e os professores rendiam elogios sinceros a menina e sua mãe nas reuniões mensais.Helena sabia que a primeira coisa que aconteceria se ela contasse tudo aos pais seria a negação,eles não iriam acreditar que seu amado filho,tão quieto e tranquilo fosse capaz de matar crianças.Além disso,ela sabia que não se pode acusar alguém sem provas,coisa que ela não tinha além dos seus olhos amedrontados pela dor e da touca cor de rosa,que sem querer levou consigo depois da morte no parque.

A situação começou a vir à tona de forma gradativa.O corpo da menina de 12 anos foi encontrado no parque da cidade e uma investigação policial foi aberta.Não haviam sinais de tortura ou abuso,apenas um corte na barriga,e ao lado do corpo,um círculo de areia com sangue em seu interior.Helena ainda estava com a família na casa de seu tio Alfred quando a rádio local começou a noticiar o ocorrido.

-"Na tarde do dia 24 de dezembro,o corpo da jovem Louise Silver foi encontrado próximo a um dos brinquedos do parque Cosmos.A polícia ainda não tem informações sobre a possível causa da morte e investiga o crime com a ajuda dos moradores locais.Para mais informações,ouça a rádio..."

Helena e a família voltaram para casa uma semana depois do ocorrido e até aquele momento a polícia não tinha suspeitos.Seu tio Alfred e a esposa estavam assustados pois a cidade apesar de movimentada nunca tinha registrado um crime tão sinistro.As pessoas não deixavam mais seus filhos irem para o parque sem supervisão de um adulto,a polícia estava sempre tentando achar informações através de depoimentos,mas cerca de um mês depois do ocorrido,nada foi encontrado.Afastados da euforia,a família de Helena também sentia que aquilo era algo ruim e sem explicação,afinal por que alguém mataria uma jovem tão linda?Onde estaria o monstro que fez isso?Mal sabia ela que naquele momento,ele estava no quarto mergulhado num devaneio particular e que dentro de alguns dias iria causar mais terror...

Na semana seguinte,Helena começou a pensar se não seria melhor realmente contar tudo e tentar viver,mesmo que de certa forma fosse impossível.Philip era seu irmão,e o amor de um irmão pelo outro é algo que não evapora,só se perde quando a alma de um deles se dissipa nas sombras.Ele estava cada vez mais estranho;ficava no quarto conversando sozinho e nas noites em que não fugia para o lago,ficava sentado na cama olhando pela janela e murmurando.Entretanto,mais uma vez ele iria lhe surpreender com o terror que a tinha invadido.Numa outra noite,uma daquelas que Helena começou a achar repetitivas,o irmão pulou a janela e foi direto para o lago.Ela estava decidida a ficar na cama,a não sair de seu cobertor e ir atrás do irmão para,provavelmente ver mais uma cena de medo...Mas não foi o que fez.

Depois de percorrer o mesmo caminho que ele,dessa vez não deixou que percebesse que estava ali.Escondeu-se atrás de algumas árvores que eram próximas ao lago,um lugar de onde poderia ver claramente o irmão.E lá estava ele,mais uma vez de pé e com o olhar fixo na água tranquila.Mais algo estranho chamou sua atenção:ele não estava só:ao seu lado direito 3 crianças de alturas variadas estavam de pé,também olhando para o lago.Helena não sabia o que pensar,afinal da última vez só tinha visto uma criança e sabia como aquela cena havia terminado.Obrigou-se a ficar ali,com seu pijama cor de rosa e em silencio observando o que iria acontecer.Esse é o problema de testemunhar uma morte,por mais medo que sua alma possa sentir,ela sem querer se adapta...

Depois de quase uma hora ali,Helena observou um ritual estranho começar a acontecer.As três crianças,uma de cada vez,iam até a beira do lago e de lá traziam uma pedra.Depois disso,se ajoelharam ao pés de Philip e entregaram as pedras.Helena estava realmente impressionada,era como se o irmão fosse mais forte ou importante pra merecer aquilo.O mais terrível aconteceu em seguida:com um golpe com algo pontudo em uma das mãos,Philip mata uma das crianças e coloca em sua boca a pedra escolhida.Faz o mesmo com os outros dois e com uma expressão de tranquilidade leva os corpos até o lago e deixa que a água os leve.Ela percebe ali que tudo o que seu irmão está fazendo ultrapassa qualquer explicação possível;ela só vê um monstro assassino e não alguém que amou um dia.Ela já está chorando e se preparando para ir embora,quando ainda observando os corpos na água,Philip grita:

-"Agora vocês estão livres,não há mais dor nem choro,só paz!"

O tempo passa depressa e os crimes começam a aparecer.Crianças boiando no lago,algumas com pedras na boca e outras sem roupa.Todos os crimes ocorrem à noite,pois só no dia seguinte as pessoas sentem falta de seus filhos na cama e recebem a terrível notícia.Por este fato,a onda de terror fica conhecida apenas como Crimes Noturnos ,e a notícia logo se espalha por todo o estado como uma das maiores ameaças de todos os tempos.Pais não deixam mais seus filhos dormirem sozinhos e são poucas as crianças que ainda vão a missa noturna da quinta-feira,pois podem ser pegas pelo assassino em qualquer lugar.Helena já não dorme no mesmo quarto que o irmão,e ele se isola cada vez mais,preocupando a mãe.

Seus delírios começam a se intensificar,chega a ficar horas falando sozinho e a mãe já começa a pensar em pedir ajuda.Sua irmã sente uma mistura de pena e medo,mas não o segue mais quando foge durante a noite,pois já sabe o que vai encontrar.Philip começa a se tornar um monstro e com o passar dos anos,a dor e a loucura seriam artigos presentes em seu cotidiano...




Os Irmãos MendelOnde histórias criam vida. Descubra agora