"Talvez a existência seja apenas um esboço de algo maior..."
"Alguns caminhos podem nos levar a lugar nenhum,basta entender isso.Talvez seja só um pretexto para realizar a busca,que no fim das contas,é o mais importante meio de ascensão dos seres humanos.Compreender que não existe controle sob o destino e que nada é tão definitivo;é isso que nos impulsiona a criar uma nova história..."
Quando temos apenas a certeza de que somos fortes o suficiente para suportar tudo o que acontece ao nosso redor,ou mesmo quando expressamos uma fortaleza espiritual sem limites,estamos diante do que pode-se entender como o conhecimento mais profundo de nossas forças.Entretanto,quando deixamos que tal imagem seja percebida como apenas um disfarce para esconder a realidade existente em nossa alma,estamos apenas permitindo que a existência passe sem sentido e sem a simples oportunidade de recomeçar.
Novas rotas estavam sendo traçadas no destino,e contra essa realidade nada poderia ser feito.O tempo cumpria seu papel de grande mestre das mudanças,trazendo para cada dia novas e intensas promessas de que tudo seguiria em frente sem interrupções.As memórias pareciam ter encontrado seu porto seguro para ancorar e,definitivamente isso era algo que sempre se tornava cada vez mais necessário na vida de todos,em especial da família Mendel.
As reações de cada sentimento que carregavam parecia mais real com o decorrer dos dias,e as novas experiências compensavam qualquer vazio do qual pudessem recordar,não por completo mas de forma intermediária.Lúcia estava cada vez mais satisfeita na escola onde estava trabalhando agora como cozinheira voluntária,já que se tratava de uma creche comunitária para ajudar pais que não podiam deixar seus filhos em outros locais enquanto estavam em seus respectivos empregos.A sensação de ajudar crianças tão puras e com sonhos talvez ainda tão inocentes era algo que enchia o coração daquela mulher de esperança e fé.
A vida nunca foi gentil para Lúcia,desde a ausência de um marido a quem amou intensamente mas que preferiu usar o abandono como meio para escapar de algo pleno,até quando perdeu seu filho,sem entender exatamente como isso ocorreu e se,de alguma maneira tinha culpa por isso.Mas agora sentia que estava no lugar certo e para as pessoas certas,algo que esteve fora do seu alcance.Sempre foi uma mãe presente para os filhos,mas as vezes acreditava ter falhado em algum momento,talvez tenha deixado escapar um pequeno detalhe que pudesse ser no futuro a indicação de reações maiores.Helena sempre foi a menina mais doce do mundo,inteligente e com um coração do tamanho do mundo,mesmo que em determinadas situações deixasse isso escondido.
Quanto à Philip,sempre foi um garoto quieto,mas apesar de ser muito brincalhão e cheio de vida deixava uma imagem de distante as vezes,como se apenas o momento que estava vivendo fosse importante e que mais nada poderia interferir em seu silêncio quando optava por isso.Lúcia acreditava que seus filhos eram um grande reflexo de si mesma quando criança,por isso não conseguia nem podia identificar tantas distinções entre cada um deles,nada além do que uma mãe entende e aceita para desejar que sua felicidade aconteça acima de tudo.Enquanto estava com as crianças,servindo suas refeições e testemunhando em cada rosto um sorriso diferente,percebeu que isso deveria acontecer sempre,sem receios e apenas com a sensibilidade e a pureza que elas transmitiam mesmo sem entender isso.
Em outra área,com o mesmo empenho e retorno emocional,Helena estava cada dia mais próxima de conquistar algo que sempre sonhou.Quando ainda era só uma estudante de moda e tinha como maior ambição trabalhar numa revista conceituada,ela acreditava que para cada tentativa,duas opções sempre viriam em seguida:ou teria a chance,ou seria apenas a moça da lista de espera.Ainda na faculdade,fez vários trabalhos pequenos para mostrar que tinha capacidade de administrar sua própria empresa e que a moda era para ela mais que os conceitos e esboços que os livros traziam;a moda para Helena era um meio de ligação entre as pessoas e seus desejos.
Hoje,de volta ao trabalho afim de tornar os acontecimentos recentes apenas mais uma página do seu passado,a mulher que criou grandes conceitos e lançou nomes de sucesso no mundo da moda deixava de lado a menina que chorou por tanto tempo e seguia em frente.Sua agência estava se preparando para um edital novo e se tudo saísse como planejado,seu nome seria homenageado na próxima semana de moda de Paris.Helena ressurgiu com a mesma força de vontade que no inicio de sua carreira motivou seus funcionários,principalmente Fernanda,uma das mais competentes agentes com quem trabalhava e uma de suas melhores amigas.As duas se conheciam há mais de cinco anos e amizade pessoal só fortalecia a sua cumplicidade profissional.
O que mais chama atenção é que de formas paralelas porém positivas,o destino começou a agir sem rodeios lineares,com propostas simples e que traziam a realização como maior resultado.Não haviam faíscas de dor,apenas memórias que aos poucos se escondiam em seus corações para dar lugar ao novo.O destino também provou sua capacidade de ser intenso para uma outra pessoa,que começava aos poucos e ainda sem ter noção disso à entender que existem razões maiores que a dor para continuar a existir.
Ainda no quarto de uma casa até então desconhecida,Philip Mendel se recuperava gradativamente dos ferimentos,com a ajuda de pessoas que se tornariam parte de sua vida para sempre.Depois de mostrar grande receio em estar ali,principalmente sem saber o por que abrigariam um assassino,Philip começou a aceitar a atenção que recebia da jovem mulher que cuidava de seus ferimentos e do homem que parecia mais um antigo proprietário de fazendas no interior.
Depois de ficar na cama por dias,recebeu a visita do homem que o acolhera e então soube um pouco mais sobre ele e o lugar onde estava.
-Bem rapaz,você deve estar cheio de perguntas mas não se preocupe,está seguro aqui.Meu nome é Carlos e minha filha Caroline está cuidando de você.Eu te encontrei muito ferido num casebre aqui perto e quase inconsciente enquanto cavalgava na semana passada e mesmo sabendo quem é e o que fez,não consegui deixá-lo morrer ali,por isso o trouxe para cá...-Contou o homem
Philip sentiu um calafrio e as palavras daquele homem tocaram fundo em sua mente,imagens do passado bombardearam suas lembranças mas logo entendeu que aquele homem só queria ajudá-lo.
-Eu sei de tudo o que fez mas,não acredito que seja a pessoa certa para lhe condenar,por isso estamos cuidando de você.Mas quero lhe ajudar de uma outra forma rapaz,mostrar coisas da vida que talvez ainda não tenha visto e se você entender,vai encontrar a resposta que procura para sua própria vida.-Continuou Carlos
Suas palavras eram firmes e pareciam realmente direcionadas para Philip,que se tornou um ouvinte quieto e com muitas questões para resolver.À partir daquele momento,o destino guardava novas possibilidades para um homem que estava com a alma ferida,cheio de dor e sem fé.
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Os Irmãos Mendel
General FictionAté onde a loucura pode levar alguém?Existem limites?