"A tênue linha que separa o homem do fim sempre foi muito curta..."
"Não deixe a luz acesa se não quiser seu brilho;apenas encontre um motivo para desejar essa luz.Não vá embora sem avisar,não tenha medo de afundar(...)Não tenha medo."
Ninguém tem controle diante da vida,e toda noção disso é superficial e imperfeita.Não se pode controlar o poder avassalador de uma tempestade,nem mesmo a chuva que invade uma noite e se estende por horas até a neblina;na verdade,não há controle algum.O que existe é apenas a necessidade humana de nomear e entender o mundo à sua volta,de transpor os muros construídos por nós mesmos em épocas diferentes.O ser humano não se conforma quando posto diante de sua infinita fragilidade e imperfeição,pelo contrário;ele contesta e vai além,para mostrar que é capaz de dominar as forças que nem mesmo conhece,mas por capricho insinua desejo.
Essa falta de controle é impactante em cada um de nós,e mesmo que alguém acredite estar longe disso,é apenas uma ignorância banal.Contudo,esse ausência é uma das únicas forças que difere no destino;que por si só o assusta e faz recuar.Nada é mais insano do que compreender isso,que mesmo com orações e promessas,nada importa além de nossa total fragilidade...Um dia,todos dizem adeus.
Toda a tranquilidade que ocupava aquela casa era como uma brisa matinal sem fim.Helena e Ben estavam juntos,um casal fiel aos seus sonhos individuais e conectados a união de uma família feliz.O pequeno Gabriel estava no berço e era a joia mais rara do mundo;um pequeno milagre que nasceu para colorir e expandir o universo de ambos.Depois de sua chegada,a leveza tomou conta de todos,que mesmo sobrecarregados em seus trabalhos diários conseguiam tempo para visitá-lo,além dos presentes que não paravam de chegar.Entre todos os que adoravam mostrar esse carinho,Lúcia se tornou a avó mais atenciosa e prestativa,disposta a levá-lo no parque nos finais de semana ou simplesmente sentir aquele pequeno e indefeso corpo em seu colo;isso era mágico para ela.
Para Lúcia os passeios no parque eram ótimos e sempre cheios de carinho.As pessoas paravam para ver o pequeno no berço e se encantavam com aquele olhar sereno e despreocupado,isso quando estava acordado já que dormia durante metade do caminho.A avó gostava de ver ele assim,tão lindo e sem nenhum tipo de promessa que não fosse o futuro escolhido um dia,apenas uma decisão sua e mada mais.Seus pais estavam em um novo tipo de divisão de funções agora;Ben trabalhava na empresa de administração de um amigo e com o salário conseguia manter um padrão de vida confortável para ambos.Já Helena,continuava no mundo da moda e com cada vez mais reconhecimento e apoio de empresas de fora do país.Estava planejando uma nova coleção de outono e em breve voltaria à Paris para um série de quatro desfiles grandiosos e seria também a oportunidade esperada por eles para que os pais de Ben finalmente conhecessem o neto pessoalmente.
Distante dessa nova era mas no mesmo caminho de renovação e tranquilidade,Caroline se preparava para dar uma notícia à Philip.Ela estava com um pequeno cilindro plástico nas mãos e seus olhos oscilavam entre a expressão de alegria e medo ao mesmo tempo.Ele havia saído naquela manhã fria para fazer sua caminhada de rotina,mas disse para que não o esperasse para o almoço então tentou se acalmar diante da novidade.Philip estava estranho nos últimos dias,mais do que o habitual,ou talvez fosse apenas impressão sua.Apesar de ainda demonstrar carinho em seus beijos e em seus olhares apaixonados e cheios de entrega,ele parecia mais calado e distante dela.As vezes sentava na varanda e ficava ali por horas,apenas olhando o horizonte e desenhando círculos na terra.
Helena se aproximava e com todo cuidado perguntava se estava bem,e na maioria das vezes a resposta era a mesma,de modo curto e direto:
-Sim,está tudo bem.
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Os Irmãos Mendel
Ficción GeneralAté onde a loucura pode levar alguém?Existem limites?