"Por misericórdia és justo,mas por insanidade és cruel."
"Para cada verdade que supõe completude,uma mentira surge para supor vazio.É o jogo interminável e sufocante que predomina na alma humana,uma eterna jornada em busca de resposta alguma..."
As conspirações partem do princípio de que algo ou alguém controla a realidade do que conhecemos por simples superioridade ou talento nato.Algumas ideias supõe ainda que cada elemento das conspirações contribuí para resultados negativos,onde até a personalidade de cada pessoa é influenciada por fatores de domínio.Mas as teorias não definem as possibilidades finais para cada pensamento;é como se houvesse uma falha e é através dela que surge uma questão interessante:seria conspiração causar a dor e compreendê-la como justiça?
A rotina cada vez mais turbulenta estava o deixando exausto.Chegava na delegacia sempre as quatro da manhã para estudar casos arquivados ou ainda em andamento e só ia para casa por volta das dez da noite.Sua esposa já havia se acostumado,mas sempre que percebia seu cansaço discutia com ele a possibilidade de um pedido de afastamento temporário,pelo menos para que descansasse e tivesse mais tempo para sua família.
Olivetti sabia que já estava mesmo na hora de parar um pouco e reavaliar sua vida,dedicar-se mais à mulher a quem tanto amava e deixar um pouco de lado as armas e homicídios que tinha que tratar quase que diariamente.Mas o caso em que estava agora o impedia de imaginar férias,pois sem dúvida era um dos mais desafiadores em que já trabalhou:o caso Philip Mendel.Sempre que o assassino deixava seus rastros de sangue pela cidade,o delegado analisava cada detalhe minuciosamente em busca de respostas e a cada avanço da investigação se envolvia mais com o caso;já era algo definitivo em sua mente,precisava fazer Philip pagar por cada um de seus crimes.
Depois da descoberta de mais uma série de assassinatos,Olivetti começou à compreender que Philip deveria ter razões pessoais para matar como se fosse algo banal e sem consequências,afinal não se saí por aí destruindo vidas e famílias sem um propósito.Ele deveria ter problemas psicológicos graves ou um tipo de prazer em ver a dor dos outros,mas algumas vezes deixava para trás pequenas pistas que indicavam uma personalidade dupla. Olivetti notou por exemplo,que ao matar dez pessoas numa noite chuvosa,sem motivo aparente,Philip mostrou que para ele a morte é só um tipo de cumprimento da justiça,mesmo que essa ideia seja apenas dele e só faça sentido para o mesmo.
A investigação seguia em frente e cada nova informação se tornava preciosa.Lúcia contribuía da maneira que podia,mas Philip não retornou para ver a mãe depois do ocorrido.Após os assassinatos recentes,o homem parecia ter evaporado da cidade e a polícia já se preocupava com isso,pois sabiam que ele podia estar planejando algo maior.A única pessoa que se manteve constantemente distante das informações sobre Philip foi sua irmã,que preferiu seguir sua vida da melhor forma possível.
Helena estava mais leve e aberta à atividades das quais sentia falta.Viajou e ficou cerca de duas semanas com amigos numa serra distante da energia da cidade grande.O ar era mais agradável e permitia que se sentisse bem,e era isso o que queria.Depois de algum tempo,voltou a viajar mais com os amigos e sempre que podia dar uma pausa na empresa,estava em cinemas ou teatros.A vida parecia ter lhe oferecido um período de tranquilidade e ela iria aproveitar cada segundo.
O que Helena jamais poderia imaginar é que,enquanto se divertia e deixava no passado os momentos de dor intensa que já sentiu,seu irmão estava planejando sua morte.Os laços familiares são como uma fina camada de gelo;existe força mas a fragilidade rompe a superfície.Philip não reconhecia Helena como alguém importante agora,sua irmã havia se tornado apenas uma peça mal colocada em um jogo onde ele deveria agir sem interrupções.A morte de Helena seria uma forma de selar para sempre seu passado,deixar para trás as lembranças de uma família que só o fez sofrer e que o deixou de lado.
As razões que moviam Philip ainda eram desconhecidas,mas sua mente era um infinito labirinto de dor e ódio.Não se pode decifrar a todos,e no caso dele isso era impossível.Estava escondido no mesmo local de antes,uma fábrica abandonada que ficava nos arredores da cidade.Passava seus dias assistindo TV e planejando cenas de tortura onde Helena fosse sua principal vítima,e isso o fazia rir como uma criança sem preocupações.As buscas da polícia já o irritavam,afinal para ele era uma perda de tempo querer condenar alguém só por que tem coragem de fazer justiça enquanto os outros preferem viver uma realidade de mentiras.
Ainda não haviam realizado buscas no local onde estava por ser um ambiente considerado assombrado e com estrutura que ameaçava desabamento.O local era um antiga fábrica de tecidos,onde há mais de vinte anos houve um grande incêndio que matou cerca de 45 funcionários,a maioria mulheres que trabalhavam no setor interno.Desde então o local passou a ser considerado assombrado,além de ter uma estrutura comprometida.
Depois de quase dois meses sem sair do local,Philip decidiu por em prática seu plano de vingança,um tipo de compensação por seu sofrimento quando era mais jovem.Ficar tanto tempo internado numa clínica psiquiátrica e ter sido abandonado pelo pai deixaram marcas difíceis de apagar,era hora de fazer as pessoas sofrerem um pouco mais.Saiu naquela noite pois era seu período preferido para cometer crimes.Depois de uma longa e silenciosa caminhada pela mata que ficava próxima da entrada da cidade,Philip chegou à praça central onde poucas pessoas ainda passeavam para aproveitar o clima noturno.
Ninguém viu seu rosto pois estava com um capuz grande e andava rapidamente,o que facilitava sua fuga caso fosse preciso.Depois de mais algum tempo caminhando,se aproximou do prédio onde Helena morava.O homem carregava uma mochila escura no ombro e com uma sensação de que seu plano seria um sucesso,foi até a recepção do local.Atrás de uma bancada de aço cromado,um senhor que aparentava ter entre 50 ou 60 anos admirava o jornal do dia enquanto tomava um café.Philip tirou o capuz que cobria sua cabeça e revelou o rosto de um jovem bonito,o que fez o home acreditar ser alguém de bem.
-Olá,meu nome é Marcelo,trabalho com a senhorita Helena Mendel e ela pediu para que eu viesse lhe entregar alguns papéis.Posso subir?-Mentiu Philip descaradamente.
O homem,mesmo com a breve sensação de já ter o visto antes em algum lugar e sabendo que Helena não gostava de visitas durante a noite,presumiu que seria importante e o deixou subir.Philip entrou no elevador e lá dentro,se preparou para o que estava por vir.Diante da porta do apartamento 547,sorriu ao tocar a campainha.Quando abriu a porta e viu aquele rosto novamente,Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha e um medo profundo voltar do passado.
-Olá querida irmã.Vim resolver algumas questões com você essa noite.Está com medo?-Disse Philip com uma voz doce e olhar fixo.
Helena tentou fechar a porta num impulso improvável,mas foi atingida por um soco no rosto que a fez cair e manchar o carpete com sangue.Philip parecia mais decidido do que nunca quando entrou e trancou a porta atrás de si.Helena tentou se levantar mais a dor era muito forte e sua boca sangrava muito devido ao soco do irmão.Philip tirou a mochila das costas e começou a falar:
-Você achou mesmo que eu iria deixar tudo assim Helena?Achou que eu iria permitir que abrisse a boca e saísse de mansinho?Escute bem o que vou dizer: você vai se arrepender de não ter me esquecido!-Disse ele.
Helena se arrastou até uma pequena mesa da sala,e com a mão tateou o telefone,precisava avisar a polícia e pedir ajuda.Quando o homem percebeu o que estava tentando fazer,se aproximou e com uma junção de pena e ódio,a atingiu com um chute violento no estômago.Helena sentiu seu corpo se contorcer e desmaiou.Aquela seria um noite sem precedentes para os irmãos Mendel,e de uma forma ou de outra,a verdadeira justiça estava por vir...
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