"Alguns caminhos não tem volta,por isso é preciso saber onde ir."
"É impossível determinar com total certeza por que algumas pessoas se sentem confortáveis causando o mal de outras.Pode parecer simples explicar um criminoso,determinar que seus atos tem lógica ou sentido,mas será mesmo?Nem sempre há sentido no que se deseja,e as vezes nos deparamos como o caos..."
O tempo age sorrateiro em sua jornada de silêncio e mistérios,mas as vezes nem ele é capaz de esconder marcas profundas,registros de atos cruéis e dolorosos que trouxeram e ainda podem trazer consequências.Helena tentava seguir sua vida sem lembranças ou situações que pudessem trazer a imagem de Philip de volta a sua mente;estava determinada a encontrar paz mesmo que em seu inconsciente e isso era mais que uma simples prioridade,era uma meta de vida.Por incrível que pareça,depois de seu depoimento relatando os crimes cometidos pelo irmão,seus dias tornaram-se menos turbulentos e mais tranquilos do que esperava;era como se sua tranquilidade a tanto tempo perdida estivesse voltando gradativamente.
As investigações agora estavam em um nível maior,pois a polícia descobriu o assassinato do policial Marcos e todos os indícios apontavam para Philip,com quem tinha sido visto pela última vez no dia anterior ao crime.Uma equipe foi até a casa onde morava e chegando lá encontraram cenas aterrorizantes.Na sala,o corpo do policial já apresentava deterioração devido aos dias exposto ali e o cheiro era forte e impregnante.Os policiais encontraram no quintal da casa escavações recentes e seis corpos foram descobertos,aparentemente das crianças desaparecidas há mais de um mês.O delegado Olivetti,responsável por toda a investigação estava perplexo com tudo;em mais de seus 30 anos de profissão nunca tinha visto um criminoso como Philip,capaz de uma frieza sobrenatural e sem remorsos.Tinha deixado todas as provas ali de forma que a polícia soubesse que era realmente o responsável e isso lhe parecia uma demonstração de sarcasmo e ousadia desmedida.
As buscas continuavam mas ninguém sabia do paradeiro dele,nem mesmo sua mãe que depois de descobrir tudo passou a chorar constantemente e se condenar por não ter visto tudo antes;não ter percebido que seu amado filho,a quem dedicou todo seu amor era na verdade um assassino.As pessoas que amamos são sempre as primeiras ou as últimas a descobrirem nosso lado oculto.Helena estava longe de todas as informações sobre o caso e isso foi algo que deixou claro para Olivetti,o desejo de não se envolver mais em nada relacionado ao irmão.A polícia realizou buscas na cidade e nas regiões vizinhas mas Philip não foi encontrado.
Helena estava bem mas sabia que sua mãe não,e isso a incomodava agora.Ver ela sofrendo por descobrir tudo sobre Philip a deixava com raiva,pois afinal como um filho podia decepcionar tanto a própria mãe,e acima de tudo a si mesmo?Houve um tempo em que ela questionou como o irmão pensava e quanto mais presenciava seus crimes ou sabia de novas vítimas chegava a conclusão de que sua alma já não era a mesma,de que sua vida chegou ao fim quando matou uma criança.Ele parecia não ter limites,movido por um desejo inexplicável de causar dor em pessoas inocentes;como se sua vida só tivesse esse propósito,causar dor.
Ver o sofrimento de sua mãe a fazia pensar no quanto foi culpada por tudo isso,por não ter dito a verdade por tanto tempo por medo,um medo insano.Foi até sua casa algumas vezes e ficavam ali,apenas na varanda falando sobre moda e doces de cereja;Helena queria fazê-la esquecer um pouco de tudo e aos poucos sabia que iria conseguir.Aquela mulher forte e sempre com um sorriso no rosto parecia agora escondida,dando lugar a uma senhora receosa e com olhar profundo.A decepção era evidente em sua voz quando sem querer lembrava de Philip,como se fosse um manto capaz de envolver a conversa e tornar tudo cinza.As semanas passavam depressa e a polícia ainda não tinha informações sobre Philip que já era considerado um foragido perigoso.
Helena continuo a visitar a mãe para assegurar que estava bem e evitar que seus dias fossem menos tristes.Algum tempo depois,enquanto colocava roupas num cesto,Lúcia percebeu que um homem a observava entre as árvores e com medo caminhou de volta pra casa,mas antes que entrasse uma voz familiar a surpreendeu:
-Mãe sou eu,Philip...
A voz parecia rouca mas não perdeu seu tom já conhecido por Lúcia;era seu filho,ou apenas um homem parecido com ele.Ela ficou imóvel na escada na varanda e ele se aproximou rapidamente.Estava vestido de maneira simples e com um capuz preto para esconder o rosto;parecia bem e seu olhar parecia embargado agora:
-Eu não posso demorar mãe,só vim até aqui dizer que não posso pedir seu perdão pois realmente não mereço algo assim de você.Quero que saiba que eu te amo e,mesmo que não acredite esse amor é a única coisa que me mantem seguro.Aconteça o que acontecer saiba que eu nunca desejei nada disso...-Disse ele com lágrima nos olhos
Tocou sua mão e com um leve beijo de despedida,foi embora sem dizer mais nada.Lúcia não sabia o que sentir;ver seu filho ali,tão perto mas ao mesmo tempo tão distante fez seu coração sentir-se fraco e sem apoio.Ela o amava,pois uma mãe ama seu filho até o fim e isso é incondicional,mas ver ele partindo depois de tudo o que aconteceu era como um adeus definitivo,como se aquele momento nunca mais pudesse acontecer entre os dois.E realmente não iria.
Com certo receio,Lúcia decidiu contar a polícia sobre a visita inesperada do filho e,mesmo acreditando estar fazendo o certo,ainda queria o melhor para ele. Olivetti solicitou que uma equipe de policiais realizasse uma nova busca na região,mas Philip já não tinha mais rastros,aprendera a fugir e esconder-se como uma sombra.Ele estava ciente de que era foragido e isso não lhe incomodava tanto,afinal para ele era só um reflexo de ter feito justiça.Sua mente estava paralela à realidade,envolvida por uma lógica que só ele conhecia e entendia bem.Não se achava um criminoso e sim alguém disposto a fazer justiça pelo simples fato de parecer correto,mesmo que à sua maneira.
A polícia não comunicou nada a Helena como a mesma havia pedido,por isso não soube de que o irmão estava na região.Sua mãe ainda estava pensativa e resolveu não contar nada a filha por enquanto,seria melhor assim pra ela também.O problema é que naquele exato momento,a mente de Philip já preparava um cenário trágico para própria irmã e sua vida corria perigo.Ele estava disposto a acabar com uma parte de seu passado que ainda o atormentava e Helena era culpada por isso acontecer.Philip estava cada vez mais distante do que se entende por alma.Era preciso tirá-la do caminho para seguir em frente.
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Os Irmãos Mendel
General FictionAté onde a loucura pode levar alguém?Existem limites?