Justiça

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"A vingança é o ato de covardia mais semelhante à justiça,a diferença é que uma funciona."


"A escolha nos leva ao ato,e isso independe de outras características.Quando se escolhe seguir um caminho,é necessário compreender as implicações do mesmo para que não exista arrependimento ou dor.Em determinados casos,a dor é apenas um ingrediente que fornece mais possibilidades,mesmo que negativas para que o caminho seja encurtado..." 

Logo após a saída da clínica onde havia sido internado,Philip foi para a casa da mãe passar alguns dias antes do retorno.Sua saída seria breve pois era de costume do estabelecimento liberar determinados pacientes de acordo com seu comportamento para que voltassem a ter contato familiar,pois acreditavam colaborar para a melhora no tratamento.Philip estava apto para este breve momento pois apresentava um bom relacionamento nos últimos meses,tanto com os médicos quanto com si mesmo.As conversas isoladas e sem sentido começaram a cessar,e durante as noites parecia uma criança dormindo,muitas vezes sem a necessidade de remédios.

Sua mãe o aguardava com ansiedade,afinal ela sempre soube que seu filho logo iria mostrar que estava bem,apenas precisava de um tempo para descobrir isso.Arrumou seu quarto com carinho e preparou um belo almoço para sua chegada;era como se alguém de grande importância estivesse prestes à entrar pela varanda e encher a casa de alegria novamente.Ele chegou num carro branco,tal qual uma ambulância,vestido com um casaco feito pela mãe tempos atrás e uma calça de couro leve.Ela o esperava na varanda com as mãos repousadas sobre a poltrona de linho que estava ali;seu olhar de mãe o analisava de cada ângulo possível para que não perdesse nenhum detalhe.

Philip parecia feliz por estar de volta aquele lugar,onde cresceu e viu as árvores mudarem conforme as estações do ano.Admirou um pouco a casa quando viu sua mãe;seus olhos se encontraram em silêncio e ele caminhou mais depressa até ela.Os dois se abraçaram sem pressa exata,apenas um vontade de estar dentro de um conforto que preenche a ausência de palavras:o abraço.Ele sentiu seu perfume de jasmim e soube que a amava,sem dúvida.Os dois conversaram e sua mãe percebeu que estava realmente melhor,não só o jeito de falar,mas o de agir também.Nos dias que se seguiram os dois realizavam passeios no parque ou simplesmente ficavam na sala de casa conversando sobre o passado,o único problema era quando o nome de Robert era mencionado.Nessas situações,Philip demonstrava um evidente desconforto e logo mudavam de assunto.

Sua mente estava ciente do que fazer,seus objetivos estavam traçados e numa manhã resolveu dar início à seu plano.Avisou a mãe que iria sair um pouco,dar uma volta na cidade e que voltaria mais tarde naquele dia.Ela confiava no filho e por isso não viu por quê dizer não.Philip foi até alguns bares da cidade em busca de informações sobre o pai,e apesar de não ter sucesso no início como imaginava,continuou procurando.Em um dos bares,uma mulher o viu procurando por Robert e o perguntou que era.

-O que você quer com aquele bêbado rapaz?-Questionou a mulher

-Eu sou filho dele e estava em viagem,gostaria de revê-lo...Sabe onde posso encontrá-lo? 

A mulher teve certo receio pois ninguém queria saber sobre aquele homem,era só mais um bêbado da cidade que gostava de ficar com jovens moças da região,mas como era seu filho podia falar:

-Ele está no albergue de Lourdes,está passando um tempo lá...

-Obrigado senhorita.-Agradeceu Philip despedindo-se

No caminho em direção ao albergue,todas as lembranças sobre o pai voltaram para sua mente como uma neblina,desde os dias em que iam para  floresta em busca de lenha até sua despedida da família.Tais memórias só fortaleciam Philip para o que iria fazer e antes que percebesse,se aproximava do local onde o encontraria.Era um tipo de pensão barata,oferecida para viajantes e em sua maioria pessoas que deixavam tudo de lado para se entregar a vida sem normas.Ali moravam usuários de drogas e prostitutas,local perfeito para um homem miserável como Robert,pensou ele.Na recepção um senhor o recebeu e indicou onde poderia encontrar o homem.Philip percorreu um corredor lúgubre e mal iluminado até uma pequena área de lazer (ou algo parecido com isso) onde finalmente encontrou Robert.Ao perceber que aquele era o homem quem tinha o abandonado ainda criança,o ódio surgiu como uma fagulha insana,mas se conteve no momento em que admirou aquele velho sentado com um cigarro na boca.Nem de longe lembrava seu pai;era agora um velho com roupas sujas e sem ninguém para amar.

Philip se aproximou com calma e começou uma conversa com ele:

-Se lembra de mim pai?Eu sou o Philip,seu filho mais velho...

O homem o observou por um instante mais não reconheceu de imediato,afinal seu filho era mais novo quando se separou anos atrás.Mas de repente,aqueles traços o lembraram de Lúcia,a mulher a quem amou mas não soube cuidar como deveria.Viu em seus olhos um brilho semelhante àquele olhar que cultivou por um longo tempo,mas que perdeu pela inconsequência de suas atitudes.

-Sim,meu filho.Como você cresceu,é um homem agora,olhe só você!Está tão bonito e forte,já tem até barba!-Disse Robert admirado com o que via

Philip o olhou e fingiu gostar de tais elogios,mas o que sentiu foi um misto de nojo e pena daquele ser tão medíocre.Como uma pessoa pode fazer aquilo consigo mesma quando poderia estar feliz com uma vida cercada de amor?.Ele não conseguia entender tal situação,mas estava firme para o que iria fazer à seguir.Depois de uma breve conversa ali mesmo com o homem que um dia fora seu pai,Philip pediu para conhecer o quarto onde dormia,afinal segundo ele mesmo,gostaria de visitá-lo agora com maior frequência.Os dois subiram a escada que levava ao segundo andar da pensão,uma área também mal iluminada e com forte cheiro de mofo.No quarto de número 45,Robert abriu a porta e convidou o filho a entrar.Lá dentro,uma cama de solteiro,um espelho grande na parede,um guarda-roupa e uma comoda completavam o ambiente de coloração esverdeada.Philip esperou que o pai ficasse à vontade no quarto e sem que ele percebesse trancou a porta atrás de si.

Philip mudou imediatamente e num tom de ira começou a falar:

-Seu velho imundo,achou mesmo que ia abandonar nossa família e sair como se nada tivesse acontecido não é???

Robert não entendeu o por que de tais acusações,pois minutos atrás estavam conversando como pai e filho.além disso ele nunca os abandonou,a vida os separou e foi melhor assim.Resolveu não discutir e só ouvir o que aquele rapaz tinha para falar.

-Bem,eu não vim até aqui para falar muito pai,ou devo dizer Robert...Vim acertar contas,então diga adeus!

Num movimento rápido,Philip o acertou com um chute violento que atingiu sua barriga.O home caiu no chão sem defesa e ficou ali.Logo em seguida,tirou um dos travesseiros da cama e o colocou no rosto do pai ainda em agonia.Os olhos do homem se arregalaram enquanto seu ar se tornava escasso nos pulmões,mas não conseguia pedir ajuda.Seus pés se debatiam mas ninguém parecia ouvir já que o quarto era distante dos outros.Philip esperou que finalmente parasse de resistir e quando o fez,sentiu-se satisfeito e completo.Admirou por alguns minutos aquele velho morto a seus pés e entendeu em sua mente movida pela loucura que havia feito justiça,não só a ele mesmo mas a sua família.Saiu e trancou a porta novamente,e depois de colocar a chave no bolso saiu do local.A morte de Robert Mendel só foi descoberta três dias depois quando o cheiro de seu corpo começou a incomodar.Philip já estava de volta a clínica e,de uma maneira sinistra e sem sentido,sentiu-se plenamente feliz...


Os Irmãos MendelOnde histórias criam vida. Descubra agora