Dúvida

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"O que consome mais que a dúvida são as consequências dela."


"As razões que levam alguém ao extremo são variadas,isso quando tais razões podem ser notadas.Algumas pessoas seguem seus instintos para manter as aparências,outras fazem isso simplesmente em busca de propósito.As possibilidades são infinitas e as razões em alguns casos são apenas detalhes;reflexos de existências que se perderam ou abandonaram a si mesmas..."

Pouco tempo depois de sair da clínica onde estava internado por mais de cinco anos,Philip decidiu que não iria mais morar na mesma casa que sua mãe.Na verdade só foi para lá pois era um desejo particular dela,ter  o filho por perto para cuidar de seu tratamento.Desde os primeiros sinais de transtorno apresentados por ele,sua mãe soube que sua atenção e amor seriam o principal incentivo para sua melhora.Nunca deixou de visitá-lo na clínica,mesmo quando sentia que seu filho estava ali por engano e,que à qualquer momento aquele menino tímido e doce voltaria para lhe abraçar e pedir desculpas.Philip entendia a vontade da mãe,mas durante todo esse tempo internado,longe do mundo exterior e de seus acontecimentos,desenvolveu algo de doentio em sua mente.Queria ver sua mãe bem,mas sabia que era impossível se estivesse ao seu lado.Sentia um ódio profundo da família;culpava-os pelo internamento e os olhares de pena,tudo isso movido por um olhar passivo de sentimentos reais.Ao contrário do esperado,nunca manifestou esse ódio através de palavras,pois com o tempo aprendeu a ser frio e cruel de outras maneiras.

Movido por interesses sombrios que pouco à pouco seriam revelados,alugou uma casa próxima a pequena floresta na região norte da cidade.Sua mãe desaprovou o local em sua primeira visita logo após a mudança.Era uma casa afastada de tudo,que tinha apenas uma rodoviária como ponto de referencia.O local trazia consigo um clima pesado,com tons de tinta avulsos e desbotados,além de janelas com grades reforçadas,o que conferia a casa uma imagem de prisão abandonada.Philip não se incomodou com a opinião da mãe,pelo contrário,demonstrava afeição pelo novo lar.Longe de notícias sobre o irmão,Helena estava agora com a maior dúvida de sua vida:entregar o nome de Philip como o responsável pela morte de Isabella e de outras vítimas,ou mais uma vez mergulhar no silêncio que a atormentava constantemente.Depois do crime cometido em seu desfile,colaborou com a polícia dando um longo depoimento sobre aquela noite e tudo o que havia ocorrido;na verdade,quase tudo.

Não revelou ao delegado detalhes sobre o homem que esteve no camarim conversando com Isabella. Nenhuma outra testemunha mencionou o estranho,com exceção de duas outras modelos que o haviam visto,entretanto a polícia descartou qualquer hipótese logo depois de ouvir a descrição do homem,pois vários dos convidados apresentavam as mesmas características.Helena tinha certeza de que Philip era esse homem,mas por razões desconhecidas até pra ela mesma,omitiu qualquer informação nesse sentido.Estava disposta a buscar respostas para sua suspeita e já imaginava que o resultado não seria uma surpresa,já que conhecia o irmão e suas atitudes perversas.Deu início a uma investigação particular,recolhendo imagens das câmeras de segurança do evento naquela noite e comentários dos convidados que de alguma maneira tiveram contato com o estranho.Durante duas semanas buscou nos mínimos detalhes provas de que seu irmão era culpado,pois nem mesmo as investigações da polícia pareciam avançar.Depois de quase desistir,foi surpreendida com as imagens de uma das câmeras.Na posição em que estava,a máquina capturou um homem de terno preto e gravata cinza saindo pela lateral dos assentos do evento.De acordo com a câmera,a imagem foi registrada cerca de 20 minutos antes do crime e do terror da passarela e o homem parecia tranquilo,porém apressado e com passos confiantes.

Helena repetiu a imagem tempo suficiente para ter certeza absoluta de que era Philip.Sentia algo próximo de medo e nojo ao mesmo tempo.Era ele mesmo,com sua barba ainda por fazer e olhos escuros.Depois de alguns dias pensando no que fazer,Helena decidiu-se.Saber que seu irmão havia feito mais uma vítima lhe deu coragem para falar,para dar fim aquele ciclo vicioso de dor e sofrimento que a perseguia desde a infância.Por telefone,solicitou ao delegado um novo depoimento:

-Senhor delegado,gostaria de revelar outros detalhes sobre a noite do crime,garanto ser de grande importância para a investigação... 

Depois da confirmação,Helena sentiu-se um pouco mais leve e ciente de que era o correto a fazer.Enquanto isso,sentado na poltrona próxima a janela de sua nova casa,Philip observava atentamente um grupo de crianças jogando bola na beira da floresta.Seus olhos estavam focado ali como um microscópio vasculhando cada centímetro das crianças,enquanto sua mente planejava naquele momento o que viria a ser seu ato mais cruel até hoje.


Os Irmãos MendelOnde histórias criam vida. Descubra agora