"Almas perdidas não voltam atrás..."
"A vida não é tão injusta quanto parece,e quase sempre oferece a possibilidade de redenção.O problema é que as pessoas criaram para si mesmas conceitos de injustiça que são para elas justificáveis.Helena e Philip por exemplo,cresceram cercados de todo amor do mundo.Não lhes faltou atenção ou cuidado e os detalhes mais banais eram notados principalmente por sua mãe,que sempre estava disposta a lutar pelos dois.Foram educados da mesma maneira,e a única distinção existente era relacionada a seus cuidados pessoais,afinal eram um menino e uma menina em casa.Além disso,passaram maior parte de sua infância num lugar lindo,tranquilo e conservado pela natureza,onde puderam desfrutar das brincadeiras,risos e emoções infantis.Isso até o primeiro assassinato cometido por Philip.Depois daquela noite no lago,foi demarcado um limite entre ele e sua irmã,e principalmente entre ele e o mundo como um todo.Tudo o que veio depois daquela noite tornou-se um ciclo de dor e tristeza para Helena,enquanto para ele era algo ainda banal."
O desfile da agencia de Helena se aproximava e com ele a apreensão.Desde o último encontro com Philip,sentia-se temorosa,com a leve sensação de aquela noite seria mais que o esperado;e ela tinha razão.Alguns editores chegaram mais cedo para organizar todos os detalhes do evento.Helena cuidava das modelos e da programação da noite,verificando cada mínima possibilidade de falha para corrigir de imediato.As horas passavam rápido como de costume e,após a chegada de alguns fotógrafos e convidados,o desfile finalmente teria início.As modelos estavam terminado de colocar as últimas peças,e no fundo da sala uma delas,morena e alta conversava com um homem.Ninguém sabia quem era,mas parecia jovem e com uma barba ainda por fazer.Estava vestido à rigor,com um terno preto e gravata cinza.Parecia mais um agente de novas modelos que qualquer outra coisa...
Depois de alguns minutos de atraso já programados,pois dois fotógrafos demoraram a chegar,o desfile podia começar.Helena,por ser responsável pelo evento e por grande maioria das modelos,foi a anfitriã da noite:
-Sejam todos bem vindos ao nosso segundo desfile.A noite de hoje será uma amostra do que estamos preparando para o grande evento do dia 22,espero que todos possam sentir a felicidade de contemplar as mais belas mulheres da região,que trazem para nossa agencias a essência do povo brasileiro.Espero que todos aproveitem,e vamos começar!
Depois de uma cessão de aplausos,o desfile teve início.Helena estava particularmente bela naquela noite,com um vestido azul de tom sereno.Seus cabelos negros eram acolhidos pela doce brisa noturna e eram como um marco de simplicidade e leveza.As modelos,uma à uma traziam a passarela o trabalho desenvolvido por estilistas de todas as parte do Brasil,entre eles Clebersonn Vicctório,que aos poucos se tornava grande representante de uma nova geração de peças únicas e desejadas por todos.Ao todo seriam 20 modelos naquela noite,e tudo parecia correr bem.Nenhuma delas parecia desconfortável e o púbico presente,cerca de 500 pessoas estava realmente entusiasmado.Para cada nova entrada,aplausos acalorados e milhares de fotos;tudo isso fez Helena esquecer por alguns instantes sua preocupação em relação ao irmão.A noite aproximava-se de seu clímax,onde Isabella,modelo paulista seria a chave do desfile.Era uma jovem de vinte e seis anos e com uma beleza magnífica;alta,pele morena e olhos negros,era uma das modelos mais procuradas por agencias especializadas,por representar justamente o que queriam:a beleza da mulher brasileira.
Os fotógrafos já se preparavam para as fotos quando Helena resolveu ir ao camarim verificar se estava tudo bem com sua modelo.Os convidados nem perceberam sua saída,enquanto comentavam sobre cada peça e modelo que viam.Ao chegar no camarim,Helena cumprimentou as outras mulheres,agradeceu por seu empenho e procurou por Isabella. Ela não estava lá como o esperado,o vestido escolhido para ela ainda estava no cabide e Helena começou a ficar nervosa.Perguntou as modelos onde ela poderia estar;nenhuma delas sabia responder,exceto uma que lembrou-se de tê-la visto mais cedo conversando com um homem.Depois de ouvir a discrição do homem,Helena quase desmaiou.Imaginou a quela figura ali ao seu lado,com sua modelo e o que ele poderia ter feito.Um enjoo tomou-lhe e a preocupação só aumentava.Helena foi até os seguranças e segundo eles,ninguém com aquelas características entrou sem que percebessem.Helena inda estava na portaria quando ouviu um tumulto em seu desfile.Correu até o local e,antes de chegar sentiu seu coração acelerar mais depressa do que podia imaginar.As pessoas gritavam,algumas com o medo estampado nos olhos e os fotógrafos com suas lentes focadas no centro da passarela registrando cada detalhe do que seria a cena mais cruel dos últimos tempos.
Helena chegou até a passarela e,antes que pudesse decifrar o que via,desabou de joelhos.Poucos metros à sua frente,havia um corpo semi nu pendurado numa cortina que pendia do teto do evento.Era Isabella,que apresentava furos por todo o abdômen e um corte no rosto.Os convidados estavam perplexos e os fotógrafos como urubus registravam tudo sem parar.Helena ficou por alguns minutos ali,de joelhos e com o olhar fixo em Isabella. Seu coração estava dilacerado,como se todos os medos da infância voltassem mil vezes mais fortes.Ela não conseguia chorar;estava ali diante mais uma vez de uma cena cruel.Ela sabia exatamente quem era o homem de terno preto com quem sua modelo conversava,sabia sim...
Um dos convidados chamou a polícia e o evento terminou da pior forma possível;as pessoas estavam aterrorizadas e só comentavam o ocorrido.E seria assim por um tempo,já era de se esperar.Na delegacia,pouca gente sabia dizer ao certo o que realmente aconteceu.Todos esperavam a entrada da última modelo quando o corpo caiu de forma abrupta e ficou ali,pendurado com uma peça no varal.Cerca de 40 pessoas foram ouvidas naquela noite e Helena foi liberada para prestar depoimento no dia seguinte,estava ainda em estado de choque.Pelos indícios registrados pelos policiais no local do evento,forma deixados alguns vestígios que poderiam indicar o assassino.Uma gravata cinza foi encontrada onde o corpo havia sido dependurado e a marcas de sangue com o formato de um sapato social foram recolhidos para investigação.
Helena passou o resto da noite acordada,deitada em seu quarto escuro.Sentia uma mistura intensa de medo,ódio e revolta.Sentia-se culpada pelo ocorrido,na verdade por todos os crimes que testemunhou,pois não havia contado para ninguém.Ela sabia quem era o responsável por tudo,sabia também seu nome:
Philip Mendel
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Os Irmãos Mendel
General FictionAté onde a loucura pode levar alguém?Existem limites?