Insanidade ou Justiça?

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"A definição de certo ou errado não ocorre  por impulso,apenas por decisão pessoal."


"Talvez seja só um pretexto maior para algumas pessoas,mas a justiça em si não define muito do que é certo ou errado.Essas noções transbordam mais que as normas criadas pelo ser humano para alcançar algum tipo de controle;são invariáveis e mutáveis também..."

Os eventos passageiros são constantes na vida;ciclos que ocorrem apenas para alterar nossa atenção em alguns momentos.Cada acontecimento se torna história no momento em que o deixamos passar e com ele um pouco de nós mesmos.Algumas pessoas contribuem de forma mais involuntária com isso,enquanto outras tornam esses momentos sempre mais notáveis.Não se pode definir como justo o que ainda não ocorreu como o desejado.

O destino realmente estava disposto à oferecer uma oportunidade para a família Mendel;era como se tudo pudesse fluir bem novamente,e era isso que estava ocorrendo.Lúcia tinha encontrado na creche em que trabalhava uma razão para existir,a leveza que encontrava no olhar daquelas crianças era algo inexplicável e que a alimentava diariamente.Era conhecida pelos pequenos como "Tia Lú",e sempre que eram servidos por ela na hora do lanche era uma festa de sorrisos e alegria.Lúcia os admirava e queria estar cada vez mais perto,para saber como estavam na sala de aula e para brincar também.

Enquanto isso,Helena também desfrutava de uma alegria nova em sua vida.Seus amigos mais próximos sempre diziam que era uma mulher totalmente entregue ao trabalho,deixando de lado a vida pessoal e a possibilidade de um amor.Helena não tinha mais tempo para namorar alguém;para ela a empresa era seu maior objetivo sempre,mas as coisas estavam mudando.Na viagem à Paris,onde foi homenageada,conheceu um homem que parecia diferente de todos os outros.Os dois saíram por algum tempo,mas Helena não deixava indícios de que queria um relacionamento,até o dia em que ele foi corajoso e a pediu em namoro.Ela contou a mãe e,aos poucos,sentiu uma nova sensação que a tempos não conhecia.

A vida estava traçando suas conexões com determinação e paciência,mas nem todos estavam felizes com isso.A falta de informações sobre Philip Mendel era a maior perda de um caso policial que Olivetti já havia testemunhado.Depois da fatídica noite no apartamento de Helena,mais nada se ouviu sobre o assassino implacável que era aquele homem,e isso não era aceito por ele. Olivetti sempre fui um dos melhores de sua corporação,responsável por comandar as melhores investigações nos últimos anos,mas esse caso tornou-se um incomodo particular.A situação estava tirando seu sono e até sua esposa notou a diferença com o passar do tempo.

Chegava em casa sempre de madrugada,tentando encontrar pistas que levassem à Philip,mesmo sem a certeza de que estivesse vivo.Mas algo dizia que sim,como se seu sexto sentido estivesse mais alerta do que nunca.O homem estava sempre exausto,mas apesar disso fazia do trabalho sua forma de manter-se firme.Todas as informações do relatório do caso estavam sendo organizadas para que o inquérito fosse finalmente concluído,mas para ele isso era pouco satisfatório,por isso dedicou-se à um tipo de investigação pessoal.

Faltavam apenas alguns dias para que todos os papéis fossem enviados para seu supervisor,então resolveu rever tudo com atenção aos mínimos detalhes.Depois de horas em sua sala,sentado e com uma xícara de café já frio ao seu lado,encontrou algo que podia ser útil.Desde o começo das investigações,foi registrado que Philip Mendel tinha algum tipo de conexão com o lago que ficava próximo a casa de sua família. Olivetti também nunca entendeu muito bem o porque,mas sabia que era uma característica peculiar daquele homem sombrio visitar o lago durante a noite e ali fazer algumas de suas vítimas.

Mas o que ele percebeu é que talvez não precisasse de uma explicação mais lógica naquele momento,e sim de pistas que pudessem ser a conexão que procurava.Seu raciocínio foi rápido e prático:se Philip tinha determinado prazer em cometer assassinatos naquele lago,talvez o lugar pudesse revelar detalhes que as buscas da polícia ainda não tinham encontrado anteriormente.Como era uma busca pessoal,decidiu não relatar nada ao companheiros de trabalho,mas no dia seguinte iria iniciar mais uma tentativa de fazer justiça.

Infelizmente sua esposa já estava se acostumando com sua falta de carinho e atenção,estava perdendo seu marido para as leis e normas policiais.Na manhã seguinte,tomou um café rápido na cozinha de casa e,com a mulher ainda na cama,saiu em seu carro.O relatório da delegacia indicava que o lago atualmente era parte de uma fazenda,comprado para abastecer o local e também servir de área de controle ambiental. Olivetti sabia das normas e por isso levou consigo o distintivo e uma pistola,caso houvesse alguma eventualidade.Sabia que provavelmente não encontraria Philip em um lugar tão simples,mas não custava nada ir até lá afinal.

Depois de chegar até a fazenda,descobriu que o lago na verdade já não existia mais.A água foi drenada para tanques e depois tratada para os animais da fazenda,e na área foi criado uma instalação de colheita. Olivetti fez questão de vistoriar cada canto da fazenda,mas como o esperado não encontrou nenhum sinal de Philip.Mas não iria desistir assim,por isso pensou mais um pouco.O assassino realmente gostava daquele lago,porém talvez sua conexão fosse mais diversificada,e outros locais parecidos com aquele pudessem servir de referência.

Olivetti seguiu sua busca até fazenda próximas,mas nenhuma informação o agradava.Depois de passar quase o dia todo nessa empreitada,decidiu voltar para casa,mas antes parou em um bar.Sentou-se ali visivelmente desapontado e pediu uma cerveja.O balcão era velho e parecia uma obra de arte abstrata com tantos riscos,mas a cerveja estava gelada e isso parecia bom.Entre um gole e outro,ouviu algo que chamou sua atenção na mesa à sua frente:

"-Pois é amigo,eu achava que o rapaz ia morrer,mas minha filha está cuidando dele e parece que vai ficar bem.Ver Caroline tão dedicada dá um orgulho amigo...O rapaz tinha balas no corpo sabe,e ela tratou ele com se já fosse médica profissional,precisava ver.."-Disse o homem ao companheiro de bebida

Olivetti prestou mais atenção na conversa quando soube que a pessoa de quem falavam estava baleada,e sua mente já estava traçando conexões rápidas.Decidiu ouvir mais de perto,sentando-se na mesa ao lado e pedindo mais uma cerveja.O diálogo ainda não oferecia muitos detalhes,como o nome do rapaz mas Olivetti tinha a leve impressão de que finalmente havia encontrado Philip.

"-(...)Ele não é muito de falar,mas até entendo sabe amigo,fez muitas coisas ruins e isso deve doer nele."-Disse o homem

"-Mas ele falou o nome dele pelo menos amigo?"-Questionou o companheiro

"-Disse sim,apesar da Caroline ter dito que não queria falar.É Philip,não sei o sobrenome mas é assim mesmo;Philip..."

Aquelas palavras atingiram Olivetti em cheio e uma mistura de satisfação e apreensão tomou conta de seu rosto.Algumas pessoas podem ir além do que se conhece para alcançar sua justiça,e isso nem sempre é o correto.A alma humana não tem limites,e isso é apenas uma conclusão simples.O fato é que depois de ouvir aquela conversa,Olivetti abriria uma nova rota envolvendo seu destino e o de Philip Mendel,e o resultado disso não seria bom...


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