Nada surge completo,desde o homem à suas atitudes,desde os atos e suas consequências.
Philip era uma criança diferente dos outros de sua cidade,mas uma diferença tão peculiar e banal que nunca foi percebida com atenção por seus pais,nem mesmo por sua mãe que estava sempre presente e disposta a estar na vida dos filhos.Ele sempre foi mais reservado que a irmã Helena,que apesar de ser tranquila,sempre teve interesse por vários assuntos e possibilidades.Sua peculiaridade era só dele,não gostava que os outros estivessem em contato com isso,e afinal,era algo que poucos realmente poderiam notar.
Depois que sua mãe o colocava na cama e saia do quarto,esperava que ela estivesse dormindo e pulava a janela.Ia direto pra o lago próximo a sua casa e lá,começava a observar a água e absorver o silencio.Não dormia,apenas ficava ali,sentado e olhando fixamente para a água,seu movimento tranquilo e despreocupado,sua leveza sem pressa de existir.Fez isso até meados dos 10 anos de idade,quando foi pego de surpresa por Helena numa noite.Ao acordar e não encontrá-lo no quarto,Helena imaginou onde teria ido,pois era realmente o único lugar que mais gostava.
Saiu em silencio e foi atrás do irmão.Ao chegar,o encontrou em pé,olhando em direção ao lago.Mas pra seu espanto,tinha algo diferente no irmão.Ele parecia estar chorando,arqueava seu corpo como num soluço repetitivo.Helena se aproximou mais,e antes que pudesse alcançá-lo,ouviu a voz do irmão:
-Por que a vida é tão cruel irmã?
Helena se assustou,tinha apenas 7 anos e não sabia como reagir a pergunta.Ficou ali,à alguns metros do irmão de costas para ela e tentou entender o que ele queria expressar.
-Philip,nós temos uma vida justa,nossos pais nos amam e temos uma casa próxima ao lago mais bonito da região.Do que está falando?
Ele não respondeu de imediato,na verdade nem se mexeu.Helena começou a caminhar em sua direção quando viu algo estranho.Philip não estava sozinho ali,tinha na frente do seu corpo uma criança menor em pé,escurecido pela sombra noturna.Só percebeu isso ao ver de relance suas pernas,já que apesar da pouca idade,Philip já mostrava que iria ser como o pai,um homem alto.Antes que Helena pudesse dizer algo,o irmão continuou:
-Existem pessoas tristes Helena,que não sabem como ficar bem,e acho que posso ajudar.
A voz de Philip parecia cada vez mais embargada pelo choro e isso começou a assustar sua irmã.Quando Helena chegou mais perto,sentiu um terror intenso invadir seus olhos.Philip virou-se e estava segurando a criança pelos ombros.O menino estava com a cabeça pendendo para frente de maneira anormal,e seu irmão com um olhar vazio e tão escuro quanto o lago.De repente,puxou com força a cabeça do garoto,levantando-a e revelando o crime.Tinha matado o garoto.Helena não conseguia se mover,sentiu seu coração acelerar tão rápido quanto os carros da cidade grande e em seguida,recuou.Começou a correr desesperadamente de volta pra casa,mas ainda no ponto de visão do irmão,ouviu sua última frase:
-"Não se preocupe Helena,ele está bem agora!"