"Até mesmo diante da insanidade,para alguns existe sentido."
"A finalidade de atos coerentes é só um pretexto;uma forma sensata de fazer justiça mesmo se ela não for a solução imediata.A percepção de cada um define isso,e mesmo que opiniões externas possam atuar nisso,só a alma de cada um sabe o momento de parar..."
Era preciso mais que uma certeza para agir,mais que uma intuição leviana.Ele sabia que suas próximas ações poderiam implicar em algo não esperado,e por isso respirou fundo.A sala era banhada por um luz alaranjada que entrava pela janela lateral,tomando a parede e parte do armário,onde louças faziam uma composição entre porcelana e madeira.
Olivetti estava ciente de que não podia entrar naquela casa apenas por uma suspeita particular,talvez ainda sem fundamentos mais que lhe garantia certa autonomia por ser um delegado.O proprietário parecia determinado em impedir sua entrada de qualquer forma e isso lhe deixava mais desconfiado e decidido à tentar.Ele sabia que de alguma maneira,aquela casa lhe traria respostas sobre Philip,e se sua intuição estivesse correta,a busca por aquele assassino iria valer a pena.
-Senhor,isso é apenas uma averiguação e se não tem nada à esconder,por que não permite que eu entre na casa?-Questionou Olivetti.
-Eu sei que está fazendo seu trabalho doutor delegado,mas garanto que não tem ninguém nessa casa além de mim e minha filha...-Respondeu Carlos sem hesitar.
Os dois permaneciam num impasse notável,mas logo isso iria acabar.Caroline estava no quarto cuidando de Philip quando ouviu a conversa do pai com alguém desconhecido.Philip estava melhorando rapidamente e depois de quase três semanas deitado numa cama,começava a caminhar pelo quarto com a ajuda da jovem.Seus passos ainda eram lentos e Caroline servia de apoio para que não caísse ou esbarrasse na cama.Depois de retirar as balas e ministrar os devidos antibióticos e remédios,a jovem precisou recorrer aos seus livros de medicina para criar uma proteção para os ferimentos de forma mais adequada,principalmente na região lombar e nas pernas.Ela estava ainda no segundo semestre da faculdade e por isso não tinha total domínio de algumas técnicas,mas para orgulho de seu pai e satisfação pessoal,tudo saiu bem naquele que foi considerado seu primeiro teste real.
Caroline ajudou Philip a sentar-se na cama e com calma,foi até o corredor para ver o que estava acontecendo.Na sala,seu pai estava diante da porta conversando com um home de aparência marcante e olhar forte,quando de repente ele a viu.
-Quem é aquela moça?-Perguntou Olivetti
-É minha filha senhor,Caroline.Está no quarto estudando...-Respondeu Carlos olhando para a filha
O delegado lembrou-se rapidamente da conversa que ouviu ainda no bar,e algo em sua mente se acendeu.No diálogo com o amigo,Carlos havia dito que sua filha estudava medicina e estava cuidando de um homem ferido;foi quando sua intuição lhe disse exatamente o que fazer.
-Senhorita,poderia descer até aqui por favor?-Disse Olivetti de forma seca.
Os olhos de Carlos se direcionaram para a filha num sinal de total desaprovação,e ela sempre entendia aquele olhar.Era um código entre eles,caso um dos dois fizesse algo errado,o que a fez entender que não deveria descer.Carlos mais uma vez pediu que o homem fosse embora,numa tentativa definitiva de impedir que descobrisse Philip ali.
-Delegado,já está anoitecendo e já disse que não tem ninguém nesta casa além de nós dois,é melhor que vá embora...
Olivetti começou a se irritar e sabia que se estivesse errado quanto à sua suspeita,teria muito o que explicar aquele homem,mas se estivesse certo ele seria acusado de esconder um assassino frio e cruel,e a justiça iria ser firme quanto a isso.Decidiu seguir seus instintos e,nem mesmo as palavras do homem à sua frente impediram que entrasse.
-Não vou sair até fazer meu trabalho senhor,com licença.-Disse já entrando
Caroline entrou imediatamente no quarto e trancou a porta.Seu coração estava acelerado pois sabia que suas próximas ações seriam arriscadas e precisava ser rápida.Pouco tempo depois da chegada de Philip,seu pai decidiu ter uma conversa séria com ela.Realmente estava disposto à ajudar o rapaz para que encontrasse um caminho melhor do que aquele que havia construído ao longo de sua vida.Carlos era um homem religioso e sua fé lhe dizia que cada ser humano tem a possibilidade de emergir em luz,mesmo depois de mergulhar fundo na escuridão da vida.Ele sabia que Philip Mendel era um homem cruel e que suas atitudes o levaram ao fundo do poço,mas que se tivesse a ajuda correta,se tornaria alguém melhor.
-Filha,ele vai ficar aqui por um tempo e vamos mostrar à ele que existe mais coisas além do ódio.Depois que ele se recuperar dos ferimentos e estiver pronto pra seguir sua vida,ele pode ir embora e fazer o que achar certo,mas até lá quero que me ajude a mostra à ele as coisas boas de estar vivo.Mas acho que vai chegar um momento em que ele vai ser procurado por tudo o que fez,e nesse dia você deve levá-lo daqui e ir para nossa casa do norte,depois podemos ver o que fazer...-Disse Carlos naquele dia.
E eis que tal momento havia chegado e Caroline estava nervosa o suficiente para que Philip percebesse suas expressões.Ele era bom nisso afinal,perceber as reações das pessoas em momentos aflitivos. Olivetti estava subindo a escada quando,num ímpeto o dono da casa se colocou à sua frente,uma última tentativa de impedir sua subida.
-O senhor não vai subir delegado,um distintivo não representa nada pra mim sem uma justificativa mais séria.-Disse com a voz firme
Olivetti sentiu uma raiva até então desconhecida quando viu o homem ali,e sem perceber que seu ato pudesse ser impensado,deu-lhe um empurrão.Carlos se desequilibrou e caiu no meio da sala.A queda foi de uma altura média,mas o suficiente para causar um forte barulho que assustou Philip dentro do quarto.Ele tentou se levantar rapidamente mas Caroline o impediu.
-Temos que ir embora agora!-Disse a jovem
-Como assim,e seu pai?-Respondeu Philip atônito
Na sala,ainda surpreendido pela dor da queda,Carlos viu que o delegado já estava na porta do quarto quando gritou:
-Caroline,agora!!!
A jovem abriu uma porta atrás do armário,situado do lado oposto do quarto e com dificuldade recolheu alguns remédios e roupas.Philip não estava entendo nada,mas sabia que era uma situação de perigo e por isso obrigou o corpo a reagir rápido.Apoiado no ombro de Caroline,entrou no corredor escuro que não sabia onde ia terminar,e esperou que ela colocasse o armário novamente no lugar.Antes que conseguisse,a porta de seu quarto foi derrubada pelo homem que viu na sala,e isso serviu apenas para ter certeza de que precisava sair dali agora.
Philip estava no corredor quando ouviu uma voz familiar e seu coração acelerou ainda mais.
-Parada,eu sou da polícia!-Exclamou num tom agressivo
A voz daquele homem nuca sairia da cabeça de Philip,e naquele momento ele soube que seu passado ainda iria persegui-lo sem piedade,mas agora existia um motivo para fugir,uma razão que estava movendo sua alma por um outro caminho.A caçada estava começando,e nada poderia impedir isso...

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Os Irmãos Mendel
Aktuelle LiteraturAté onde a loucura pode levar alguém?Existem limites?