004

2K 148 9
                                    

Assim que cheguei em casa fui recepcionada por longos cabelos vermelhos, o que a primeira vista me deixou confusa, visto que Dulce tinha longos e belos fios negros antes de partir pra Londres. O piercing no nariz também era novidade.

Depois de nos cumprimentarmos ela sentiu-a na poltrona do canto, bastante afastada de Christopher, como se quisesse manter certa distância do passado que tinham. Mas a realidade é que os olhos de ambos denunciavam que poderiam entrar em chamas a qualquer momento.

Fomos para o meu quarto e ela me contou sobre Londres: sobre o mestrado, os gatos londrinos e principalmente sobre os presentes qua a haviam feito estourar o cartão de crédito.

A verdade é que eu estava feliz por ela estar de volta e até tentava me concentrar naquilo que ela me contava eufórica, mas meu pensamento estava distante. Mais precisamente no apartamento da frente. Alfonso não havia ligado pra mim, e bem, até que era muita pretensão minha querer que ele ligasse. Era bastante provável que tivesse uma fila de mulheres desesperadas pra tomar conta dele.

- Ei, terra chamando Anahí! - Dulce brincou enquanto rolava os olhos - Eu estou falando com você.

- Desculpa, eu tenho andado meio aérea nos últimos dias - menti - Fiquei com todo o trabalho na sua ausência.

- Na minha terra, lá em Orange County, isso tem outro nome - afinetou - E você sabe bem como se chama.

Eu ri. Ri ao constatar que Dulce avia voltado ainda mais terrível do que havia partido. Tirei meus sapatos jogando-os no canto do quarto e liguei o ar-condicionado. Quando me dei conta a gata de Christopher ja estava no colo de Dulce que a acariciava enquanto ela ronronava para ela, folgada. Despertei assim que meu BlackBerry vibrou sobre o criado mudo.

Acho que tenho que agradecer por hoje cedo. Você está livre amanhã a noite?

O número era desconhecido. Mas só podia ser Alfonso. Ele devia ter esquecido que eu não tinha o número dele entre os meus contatos. Esbocei um sorrisinho tímido e agradeci por Dulce estar bem entretida com a felina do meu irmão ao ponto de ver essa cena. Então fui até o closet e sentei sobre a banqueta digitando freneticamente.

Talvez eu esteja.

Mordi o lábio inferior. Não podia ser fácil de mais ou dar na cara so tipo - estou-loucamente-obcecada-por-transar-com-você. Não demorou até o aparelho vibrar de novo sobre o meu colo.

Então, já que você descobriu minha identidade secreta, gostaria de te convidar pra jantar aqui em casa.

P.S. Eu cozinho!

Eu ri da brincadeira. Um pouco alto demais do que gostaria. Eu não estava cogitando jantar sozinha com ele, ainda mais no apartamento dele. Mesmo que isso significasse atravessar o corredor. Mas subitamente me correu a ideia de que talvez provar os dotes culinários do meu vizinho de porta talvez não fosse uma idéia tão ruim assim (ainda mais quando o vizinho em questão é definitivamente o meu número, of course).

Amanhã as oito.

P.S. É claro que você cozinha!

- Que raios você está fazendo ai com esse sorrisinho idiota? - levantou uma das sobrancelhas escorada na entrada do closet.

- Ai Dulce, que susto - voltei a fingir procurar algo dentro do closet - Nada demais, só estava procurando algo pra vestir.

- Uhum, eu vou fingir que acredito - murmurou cheia de gracinha e eu rolei os olhos - Maite acabou de me mandar uma mensagem, disse que chegou de Jersey e que vai rolar uma social na casa do Chace - comentou.

- E é bem provável que Ed Westwick vai estar lá.

- Sim - ela concordou - Ele e Chace são tipo Batiman e Robin.

- Pra ser bem sincera, dar de cara com Edward hoje não estava lá nos meus planos - fiz uma careta.

- E o que você sugere?

- Podíamos ver algum filme, aqui mesmo - sugeri no maior sentido da palavra terceira-idade - Eu posso fazer pipoca.

- De micro-ondas - ela riu.

- Ainda sim - dei a língua.

- Christopher não me parece querer abrir mão do jogo dos Yankes pra gente ver A culpa é das estrelas enquanto nós entupidos com brigadeiro de panela.

Na verdade ela tinha razão. Com certeza, Christopher iria bufar e jogar na minha cara que praticamente o obriguei a buscar Dulce pra mim é que por isso eu devia parar de encher o seu saco, mesmo eu sabendo que pra ele não foi nenhum sacrifício me fazer esse favor. No íntimo, acho até que ele adorou.

- Podíamos sair pra comer - tentei encontrar outra solução que não fosse ir parar na casa do Chance em plena quinta-feira e dar de cara com o meu admirador-nada-secreto herdeiro do Hilton.

- Você sabe que a Maite vai beber e provavelmente vai querer dar uma olhada lá depois - riu - Ela sempre faz isso depois de alguns copos de Martini.

- É melhor do que irmos pra lá logo de cara - dei de ombros - Assim pelo menos existe a possibilidade de eu conseguir convence-la a ser uma boa menina e ir direto pra casa.

- Maite sendo boa menina? Vejamos, que remédio maluco você andou tomando dessa vez? - franziu o cenho risonha.

- Isso porque você ainda não está por dentro da paixão remota dela pelo Koko - alertei.

- Koko?

- Stambuks - ela arregalou os olhos - Isso mesmo. É esse mesmo que você está pensando.

Eu e Dulce tratamos de nos arrumar. Coloquei um vestido floral, com fundo azul e sandálias de salto fino com alguns cristais na parte de trás. Dulce vestia um jeans extremamente rasgado, um cropedd escuro com um kimono de franjas. Nos pés, os Jimmy Choo preto que ela havia tratado de confiscar do meu closet mais cedo.

Christopher parecia ter empedrado quando nos viu. Quer dizer, quando viu Dulce, porque a minha presença não era notada por ele a mais de semanas.

- Vão sair?

Oi? Ele interessado no que iríamos fazer? DESDE QUANDO? Ah lembrei, desde que a ex-namorada-de-adolescencia-com-quem-ele-transou-loucamente estava ali.

- Sim, vamos jantar fora.

- Hmmmm - murmurou, arrisco dizer meio enciumando.

- Então tá, tchau Christopher - ela disse sem graça.

- Tchau, divirtam-se.

Eu ja estava prestes a mexer com Dulce assim que a porta do apartamento se fechou a nossas costas quando tive a incrível visão do apartamento da frente. Uma mulher alta, loira e bonita, pegava uma garotinha que não deveria ter mais do que uns quatro o ou cinco anos do colo de Alfonso. Os dois se despediram e se não fosse Dulce ficar de boca aberta enquanto admirava o peitoral dele sem camisa, poderíamos ter pegado o elevador sem que fossemos vistas. Assim que a loira colocou a pequena mochila da Barbie nas costas e virou-se afim de pegar as escadas (juro que a invejei por isso, eu mau conseguia subir por obrigação quando a energia faltava e ela no entanto fazia aquilo por opção), ele se deu conta de que estávamos ali paradas, como duas estátuas egípcias.

- Olá - sorriu - Vão aproveitar a noite?

- Vamos sair pra comer alguma coisa.

- Ah sim - ele coçou a nuca com um daqueles sorrisos e eu posso jurar que ouvi Dulce soltar um suspiro. A olhei com cara de poucos amigos - Não vá esquecer do nosso jantar amanhã - brincou - Não aceito levar bolo.

- Fica tranquilo - sorri - Vamos? Maite já está buzinando la embaixo -olhei pra Dulce que parecia querer entender o que acontecia ali. Eu no entanto só queria entender quem era aquela mulher e aquela criança e o que as duas faziam ali, na casa dele.




O Antídoto Onde histórias criam vida. Descubra agora