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Droga. Droga. Mil vezes droga.

Era a quinta calça que eu tentava vestir, o contorcionismo era de dar inveja a qualquer artista circense. Simplesmente não fechava.

- O que houve? - Maite pediu, vindo até meu quarto, mascando um chiclete com desespero - Da pra ouvir os seus gritos lá da sala!

- Minhas calças não fecham - dei um moxoxo - Eu acho que algumas calorias entraram no meu gaarda-roupa e fizeram esse trabalho sujo - resmunguei. Ela riu.

- No seu guarda-roupa eu não sei, mas no seu traseiro, com certeza.

Areegalei os olhos.

- Você acha que eu engordei? - fitei meu corpo em frente ao espelho, analisando meu corpo. Maite negou, manejando a cabeça.

- Você está apenas mais curvilínea.

- Ai meu Deus Maite, eu estou gorda - choraminguei - Você só está tentado ser gentil...

- Anahí, você não está gorda - rolou os olhos - Devem ser os efeitos da academia - justificou.

- Fazem mais de dois meses que eu não vou a academia - a encarei, com os braços cruzados.

- Eu disse que esse lance de namorar um cara com talentos culinários era arriscado - brincou, mordiacando a unha do polegar.

Só podia ser! Alfonso me mimava demais, ainda mais depois que nos tornamos noivos. Eram donuts na segunda, brownies na terça, tortinhas de limão na quarta....

- Anda logo Maite, vamos agora pra academia - gritei, revirando o closet atrás de algo pra vestir. Ela ria, folheando uma revista sobre a minha cama.

- Eu não vou a lugar algum - respondeu - Ainda estou entrando no meu jeans 38. Esse problema definitivamente não é meu - piscou pra mim, enquanto eu voltava pro quarto tentado vestir uma malha escura de ginástica.

- Cadê aquele lance de melhores amigas se apoiam em tudo? - arqueei as sobrancelhas.

- Você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

- Eu só estou sendo - respirei fundo, segurando na penteadeira - Droga.

- Esta tudo bem? - correu até mim - An, você está pálida.

Maite balançou a revista de cima pra baixo, enquanto eu me sentava, completamente tonta.

- Eu estou bem, foi só uma queda de pressão.

- Queda de pressão? - franziu o cenho - Já é a segunda vez...

- Eu vou procurar um médico ok?

- Quando? Você disse a mesma coisa na semana passada...

- Você está parecendo a minha avó - girei os olhos.

- Oh, desculpe se me preocupo com você, princesa!

- Mai, eu estou bem.

- A quanto tempo você não menstrua? Porque não vejo você reclamar do quanto é desconfortável andar por aí com um tampão pendurado entre as pernas...

- Isso é pateticamente impossível. Sei bem o que você está tentando insinuar.

- Se sabe o que quero insinuar, então sabe que é perfeitamente possível - disse despretensiosa.

- Maite eu não estou grávida.

- Eu não estou dizendo que está, só estou dizendo que pode estar. Há uma possibilidade - explicou - Você tem enjoado, engordou, anda com quedas de pressão, são sintomas, você já passou por isso e sabe melhor do que eu.

Suspirei, soltando o ar todo de uma vez. Eu definitivamente não estava pronta pra passar por tudo de novo. Mas Maite tinha razão. Eram muitos sintomas, muitas mudanças. Como Alfonso reagiria se isso acontecesse.

- O que você sugere? - suspirei.

- Vem, vamos - apanhou minha mão, me arrastando pra fora do apartamento.

- Aonde nós vamos Maite? - pedi, procurando a bolsa no sofá.

- Nós vamos a farmácia. Vamos comprar um teste de gravidez.




- Eu já disse que é uma ideia absurda - neguei veemente, enquanto andávamos pelas prateleiras. Apanhei uma escova de dentes nova e um esmalte azul, com gliter. Havia prometido pintar as unhas de Chloe quando ela chegasse da escola.

- Você sabe que não.

- Não, é sim. E parece que está fazendo isso apenas pra me machucar - quase gritei, enquanto nós encaravamos, já no caixa.

- Eu sou sua melhor amiga. A única coisa que estou tentando fazer é te ajudar - estendeu a nota de dez dólares a garota do caixa - Se você não consegue perceber isso é porque talvez o problema da tudo esteja em você. Nessa sua mania de sofrer antecipadamente. Alfonso não é Rodrigo Anahí, a história não vai se repetir. Acho que ja passou da hora de você entender isso - jogou a sacola com o teste em mim, virando as costas.

- Aonde você vai? - gritei da porta.

- Eu vou embora. Faça o que você quiser - e sem mais entrou no táxi, que prestarivamente parou para ela, assim que estendeu o braço acenando.

Eu paguei minhas compras e segui até o carro. Estendi as mãos no volante relaxando sobre elas, enquanto tentava refletir sobre qual seria a melhor coisa a fazer no momento. Eu sabia que Maite tinha razão em tudo que havia acabado de dizer. Talvez ela fosse capaz de me conhecer infinitas vezes melhor do que eu mesma. Eu tinha medo. Eu estava insegura. Não queria perder tudo outra vez. Eu não estava nem um pouco preparada pra reviver tudo outra vez. Não daquela forma.

Cheguei em casa jogando as chaves sobre o aparador. Guardei as compras no armário do banheiro, e tirei o teste que Maite havia comprado da sacola. O olhei por intermináveis minutos enquanto mordia os lábios. Era impossível, o médico havia deixado bem claro. "Uma chance em um milhão Anahí, não quero decepciona-la, mas deveria começar a se acostumar com essa idéia".

Respirei fundo.

O que poderia acontecer de ruim? Eu estava prestes a fazer um teste de gravidez e me perguntando o que poderia acontecer de ruim? Eu só posso ter caído do berço e batido a cabeça gravemente quando era criança. Só pode ser isso. E a descabeçada da minha mãe nunca me contou para não me dar a certeza de que algum dia terei mesmo um aneurisma. Ai minha Santa Channel do Pretinho Básico, não me desampara!

- Tá bem - coloquei o potinho sobre a bancada do banheiro enquanto vestia as calças - São só 5 minutos Anahí, você tem que..

Ding Dong.

Quem seria a uma hora dessas?

- Tiaaaa Annie! - Chloe pulou enlaçando as pernas na minha cintura. Eu a peguei desconcertada.

- Amor - selei os lábios com os de Alfonso - Pensei que fossem vir mais tarde - comentei, dando espaço para que entrassem.

- E quem disse que essa garota consegue esperar? - brincou.

- Tia você prometeu que - Chloe concluiria a frase, não fosse mamãe entrar na sala com meu teste em mãos, aos prantos e gritando para quem quisesse ouvir.

- Anahí! Porque é que você não me contou que estava esperando um bebê?

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