- Alfonso, me desculpa eu - ele me interrompeu ainda com os olhos fechados.
- Não se desculpe, por favor.
- O que?
- Não tem porque se desculpar - disse finalmente abrindo os olhos e refletindo aquele verde oliva espetacular - Nós dois gostamos, isso basta.
- Olha, eu agi no calor do momento...Eu não quero que entenda que - me enrrolei nas palavras - Bom, isso nem era pra ter acontecido.
Ele me olhou intrigado e até um pouco cômico.
- Foi tão ruim assim me beijar? - riu com as sobrancelha arqueadas.
- Ai meu Deus - levei as mãos ralando o rosto totalmente corado - Não é nada disso é só que eu - ele tirou as mãos do meu rosto colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- Eu gosto de você, não sei exemplificar porque nem como, mas eu simplesmente gosto de você - sorriu e eu o olhei atenta, ainda envergonhada pela maneira intensa como ele me olhava - A forma como você mexe os quadris enquanto anda, a mania de passar a mão pelos cabelos quando esta nervosa, exatamente como esta fazendo agora - riu e eu tirei a mão imediatamente.- Você me conhece a pouquíssimo tempo...
- É verdade - concordou - Mas o suficiente pra saber que quero te conhecer um pouco mais, e que qeuro que você me conheça mais também, se você quiser é claro.
- Ai, eu não sei - murmurei mordendo o lábio inferior.
A verdade é que envolver-me com alguém estava ligeiramente longe dos meus planos.
- Vamos, eu prometo que se não der certo, ao fim, pelo menos teremos uma experiência divertida.
Eu ri. Ele era tão bom com argumentos que eu quase esquecia que era eu a advogada por ali.
- Tudo bem vai, você não vai desistir mesmo.
- Como você sabe que não vou desistir? - brincou me observando prender os cabelos novamente já que haviam soltado durante o beijo.
- Porque eu sou simplesmente irresistível - tentei parecer séria mas acabei rindo. E ele enlaçou minha cintura com uma das mãos e sussurrou no meu ouvido.
- Em algo eu tenho que concordar: você aqui com essa roupa e o cabelo preso dessa forma estão completamente irresistíveis pra mim.
E então ele tornou a me beijar. E assim ficamos. Alfonso arrumou um colchão fofo e algumas cobertas, vimos um filme de terror deitados na sala e eu acabei pegando no sono, ali, no peito dele. Quando despertei, ouvi pequenos murmúrios vindos da cozinha. Alfonso devia estar ouvindo rádio ou algo assim. Fui até o banheiro procurando uma escova de dentes má minha bolsa quando fui barrada por duas pequenas mãos manchadas de canetinha.- Tia Annie - ela disse animada - Olha o desenho que eu fiz pra você!
Era Chloe, e ela acabara de me ver na casa dela cedo da manhã, usando as roupas do pai dela e eu sabia o quanto isso poderia parecer confuso a uma criança da idade dela. Eu havia passado exatamente por isso quando meus pais resolveram se divorciar. E esse era um dos motivos que me faziam evitar relacionamento com pais: a decepção nos olhos de uma pobre criança, caso um dia, não desse certo e eu tivesse que partir.
- Olha só - sorri acanhada - Você é uma ótima desenhista.
Ela me olhou convencida e me pediu para que abaixasse na altura dela. Então as mãozinhas se fecharam no meu ouvido em forma de concha.
- Esse desenho é pra você, mas não conta pro papai não...senão ele vai ficar com ciúme - Ela sussurrou. Eu ri e prometi que não o faria. Ela então esperou pacientemente até que eu escovasse os dentes e me vestisse.
- Você pode me levar no colo?
- Eu preciso mesmo levar você? - pedi.
- Por favorzinho...- Tudo bem, vem - passei os meus braços em baixo dos braços dela e ela emlaçou as pernas na minha cintura enquanto falava sem parar sobre a semana que passou na casa da avó. Eu ria de algumas coisas enquanto outras me faziam sentir pena. Ela parecia ser uma criança bastante carente.
- Ual, ja vi que alguém acordou você - ele sorriu enquanto nós entrávamos na cozinha. Eu coloquei Chloe sentada sobre a bancada enquanto Alfonso terminava de virar as panquecas depois de abaixar o volume do rádio.
- Na verdade, nós nos encontramos no banheiro - ri.
- Sabia que amanhã é o meu aniversário?
- Sim.
- Você vai na minha festa né tia Annie?
- Se você quiser que eu vá, eu posso ir.
- E o que você vai me dar de presente? - pediu curiosa e eu ri. Alfonso a recriminou.- Chloe! Eu já disse que é feio pedir presentes assim as pessoas...
- Deixa ela Alfonso, é apenas uma criança.
- Mesmo assim, não é educado.
Então enquanto Chloe se entretia com uma boneca que achou perdida por ali, eu me aproximei do fogão, afim de bisbilhotar a que se devia o cheiro maravilhoso que adentrava a cozinha.
- Hummmm parece bom.
- Modéstia parte, eu sou um expert quando o assunto são panquecas - riu.
- Stones? - apontei o radio e ele assentiu, sem tirar os olhos da frigideira - Excelente gosto - voltei a sentar na bancada, ao lado de Chloe.
- Você já foi ao show deles?
- Não, mas com certeza está na minha lista de trinta coisas malucas pra se fazer antes dos tinta, sem dúvidas.
- Você é o máximo - brincou e eu fingi cara de tédio olhando minhas unhas com descaso.
- É eu sei - rimos - Seria muito abuso da minha parte me convidar... assim pra comer algumas panquecas? La em casa o máximo que eu vou conseguir é um cereal matinal com leite.
- Até pode ser, mas com uma condição.
- Qual? - arregalei os olhos.
- Que eu ganhe um beijo de despedida, ja que o de bom dia você esqueceu de me dar - falou baixinho e eu dei-lhe um tapinha no ombro.
- Você é um abusado.
Tomamos o breakfast no maior clima família de comercial de margarina. Não que eu não gostasse da companhia de Alfonso, mas Chloe gostava tanto de mim, que eu chegava a sofrer ao lembrar que o pai dela nunca levaria a sério uma mulher como eu. E isso a magoaria profundamente quando acabasse.
Alfonso me levou até a porta de casa, selou meus lábios e depois de muita insistência me deixou entrar. Por sorte Christopher dormia, babando com a boca aberta no sofá da sala. As garrafas de cerveja vazias espalhadas justificavam isso.
Tomei um banho demorado e me joguei na cama. Peguei o celular discando o número de Maite.
- A não ser que você esteja morrendo, eu desejo que você vá pro quinto dos infernos - ela murmurou rouca do outro lado da linha.
- É uma emergência. Do tipo A!
- O que necessariamente aconteceu?
- Eu preciso que vá comigo até o shopping. Eu preciso comprar um presente...
- Anahí, vai se danar! São nove da manhã de sábado.
- Eu sei, mas você tem que me ajudar, eu não faço ideia do que comprar... é uma festa infantil.
- Ok, você realmente bateu com a cabeça.
- Não Maite, eu não bati com a cabeça, digamos que eu esteja apenas apaixonada.
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O Antídoto
RandomAnahí Portilla é uma garota nova-iorquina de 27 anos. Moderna e bem-sucedida, ela só quer uma coisa da vida: ser feliz! No entanto, quando não está tentando salvar o mundo - ela é advogada de uma ONG que trata de assuntos ambientais - ela está lutan...