Anahí Portilla é uma garota nova-iorquina de 27 anos. Moderna e bem-sucedida, ela só quer uma coisa da vida: ser feliz! No entanto, quando não está tentando salvar o mundo - ela é advogada de uma ONG que trata de assuntos ambientais - ela está lutan...
- Querida, tente entender, a sorte parecia estar ao meu lado, foi inevitável pensar que....
A interrompi passando as mãos pelos cabelos, da raiz até a extensão dos fios. Era impossível acreditar no que ela acabava de me contar.
- Mamãe, eu não posso conceber! Desculpe mas é inexplicável - ralhei, andando de um lado para outro do quarto como se pudesse furar o chão a qualquer momento - O divórcio com o papai, sua tara por homens, o excesso de bebidas, até ai, tudo bem. Mas perder o único bem da nossa família em uma mesa de cassino? Você jogou tudo em uma rodada de pocker? - pedi indignada.
- Não foi uma única rodada.
Soltei o ar pelas narinas de uma só vez. Ela realmente acreditava que algo seria capaz de amenizar esse estrago?
- E o que você pensa em fazer agora? - cruzei os braços na altura do peito, enquanto a encarava com cara de poucos amigos.
- Bom, eu pensei, aonde mais eu seria compreendida e aceita do que junto aos meus? É óbvio que eu vou ficar aqui - sorriu, com uma empolgação ímpar que foi por ralo abaixo assim que ela percebeu que não era bem vinda.
- Deixa eu ver se eu entendi, você está me dizendo que vai ficar morando aqui? Na minha casa?
- Aonde mais seria, querida?
- Vejamos - caminhei novamente, dessa vez em círculos, sobre o tapete marsala do quarto - Vocês só podem estar pensando que a minha casa é alguma espécie de albergue ou hotel quem sabe? - ela me olhou indignada - Primeiro Christopher, que terminou com a namorada e simplesmente se auto-convidou a invadir o meu apartamento, agora você? Isso aqui não é nenhuma ONG de desabrigados.
- Eu sou sua mãe! Eu não carreguei você por nove meses pra ser tratada dessa forma...
- Não foram nove meses - fechei a porta do closet, enquanto apanhava minha bolsa e meu casaco - Foram sete. A tia Marie me contou. Fazem mais de três meses que você não liga sequer pra pedir se eu o Christopher precisamos de algo, se não fomos contaminados com algum vírus, ou até mesmo se ainda conseguimos respirar.
- Eu estive fora...
Eu ri, sarcástica e dolorosamente.
- Em um Cruzeiro pela Costa de Palm Springs - rolei os olhos, cansada - Francamente mamãe, você me dá tédio.
- Anahí eu não tenho pra onde ir! - quase gritou, voltando a sussurrar depois - Você tem que entender isso!
- Eu não tenho que entender absolutamente nada - vesti o casaco, arrumando a bolsa sobre o ombro - Eu estou de saída, e é melhor você procurar um hotel, ou uma pensão, pois quando eu voltar, quero todas essas coisas - apontei as malas - Fora daqui. Inclusive você.
- Anahí eu não posso acreditar que - interrompi respondendo do batente da porta.
- Porque você não liga pra alguma daquelas suas amigas com quem você passou os últimos meses tornando tudo o que o vovô e a vovó levaram anos para construir? Amigas são pra essas coisas mãe.
E sem mais delongas virei as costas e sai. Eu sabia que quando chegasse do coquetel de Alfonso, ela ainda estaria ali, muito provavelmente chorando as pitangas no colo de Christopher sobre o quanto a vida dela era difícil por ter uma filha ingrata como eu, e ai Christopher me convenceria - ele sabe que no fundo tenho coração mais mole que o dele - a deixar ela ficar pelo menos dois ou três dias ali, até que arranjasse um lugar digno de receber a Ex-Senhora Puente. Mas isso tudo era assunto para mais tarde.
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Chloe e eu chegamos ao mais novo bistrô do bairro: o Bistrô Herrera. Era um lugar muito aconchegante, com ladrilhos coloridos do lado de fora, juntamente com a bela placa luminosa, que segundo Alfonso, era ainda mais bonita a noite, quando as luzes se apagavam e ela era acesa. Dentro os móveis eram de madeira, com delicadas toalhas quadriculadas e pequenos vasos com flores. Estar ali, era como estar em Veneza, em uma tarde de quinta-feira sentindo o cheiro de lavanda enquanto se espera anciosamente pelos melhores brownies ja existentes.
Alfonso se aproximou. Ele estava lindo naquele avental azul. O sorriso era tão radiante que era impossível não acabar contagiando qualquer um que estivesse ali. Só Deus sabia o quão eu estava orgulhosa dele por aquele momento se concretizar.
- E ai? Teve muito trabalho com essa princesa? - baguncou os cabelos da filha que fez uma cara emburrada, por ele a despentear.
- Imagina, Chloe jamais da trabalho. Ela se comportou direitinho, e deixou até com que eu arrumasse seus cabelos...
Assim que avistou Maite entrar pela porta, animada. Chloe foi até ela, praticamente tropeçando nas próprias pernas. Com os braços estendidos abraçou a morena que a pegou no colo. Alfonso então aproveitou a deixa, mas não antes de selar seus lábios aos meus.
- O que houve? - pediu curioso.
- Como assim? - banquei a desentendida
- Você está tensa... O que aconteceu Anahí?
Mordi os lábios, apreensiva, pensando se estragava ou não aquele momento. Mas Alfonso não me deixaria em paz até que eu o fizesse. Estava escrito em sua testa em letras garrafais.
- Minha mãe está lá em casa.
- Mas Annie - respondeu empolgado - Isso é ótimo! Você mesmo comentou que sentia falta dela....
- Não, não amor, entenda que isso não é ótimo, isso é péssimo. Definitivamente péssimo - disse exasperada.
- Mas o que - o interrompi.
- Acho melhor falarmos disso depois sim? - sugeri, suspirando - Hoje é seu grande dia e aposto que tem muita gente querendo cumprimenta-lo, Chef Herrera!
Mordi o lábio inferior dele, prendendo minhas mãos ao seu pescoço. Eu até me juntaria à Maite e Chloe, caso Alfonso conseguisse me soltar por alguns minutos, mas os lábios dele estavam tão convidativos junto aos meus que era impossível acreditar que aquele não era o melhor lugar do mundo para se estar no bistrô todo: nos braços do Chef.