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- Bom dia dorminhoca - ele disse risonho assim que abri os olhos.

- O que aconteceu? - encostei as costas na cabeceira da cama, enquanto meus olhos tentavam acostumar com a luz que entrava pela janela, agora aberta.

- Você dormiu, aliás, você e Chloe.

Foi até o closet.

- E porque você não me chamou? Já são nove da manhã! Thomas vai me matar - levantei apressada, calçando os chinelos.

- Sua casa estava sem energia, você não conseguiria fazer nada por la mesmo - deu de ombros justificando - E você e Chloe estavam lindas dormindo juntas, seria um desperdício acorda-las - sorriu.

- Eu acho melhor ir pra casa - me enrrolei no hobbie - Ainda tenho um belo trânsito até o trabalho.

Caminhei até a porta, seguida por ela.
- Obrigada por ontem, me ajudou muito. Mesmo.

- Talvez você possa me agradecer...

- Como?

- Um beijo, talvez - sugeriu, na maior cara de pau - Já estou com saudade dos seus lábios sobre os meus e ainda mais agora assim, pela manhã, não seria nada mal.

Eu ri.

- Alfonso! Para com isso - resmunguei corada.

- Tudo bem - ele riu erguendo as mãos na defensiva - Mas você poderia mesmo me fazer um favor, me ajudaria muito.

- Pode falar, se estiver ao meu alcance...

- Eu estou mais do que atrasado, ja deveria estar no Fred Mandison repassando o cardápio com o Chef e a equipe - Você poderia levar Chloe para a escola? Fica a duas quadras daqui... juro que me ajudaria muito mesmo.

- Tudo bem - asenti mordendo o lábio inferior - Provavelmente eu não vá para o trabalho hoje, pelo menos não sem antes resolver o problema da energia..bem, você sabe.

- Eu posso ajudar quando voltar.

- Não se preocupe com isso - dei de ombros - Christian lá do escritório deve conhecer alguém que possa resolver isso.

- Espero mesmo, digo, não que eu tenha me importado em você vir até aqui enrolada naquela toalha ontem, definitivamente.....

- Você é um cara de pau - ri - Eu vou me vestir, pode deixar a Chloe aqui em casa, eu a levo pra você.

- Obrigada Annie, me faz um imenso favor.

- Do que você me chamou? - sorri.

- Annie - riu - Acho que combina com você.

- Lembrarei de te arranjar um apelidinho também - gritei ja da porta do meu apartamento.

- Vou adorar ser o motivo dos seus pensamentos - o ouvi gritar, segundos antes que eu fechasse a porta.

Um sorriso bobo escapou dos meus lábios. As coisas estavam tomando um rumo completamente improvável, mas era tudo muito gostoso.



- Eu vou assim que der, eu não tenho como ficar mais uma noite sem energia Thomas, tente entender - Eu ja andava de um lado para o outro do quarto irritada. Chloe me observava atenta, enquanto remexia os cabelos da boneca que eu havia lhe dado de presente em seu aniversário - Tudo bem, vou ver o que posso fazer.

E desliguei, atirando o celular sobre a cama.

- Tia Annie, você está zangada?

- Não estou não, é só o meu trabalho que é um pouco chato as vezes - desconversei.

- Minha escola também é chata as vezes - deu de ombros.

- E porque sua escola é chata? - dei-lhe a mão, ajudando-a a descer da cama - Cuidado pra não cair.

- Porque os meus coleguinhas dizem que eu não tenho mamãe, e ai eu fico triste - fungou, enquanto caminhávamos pelo corredor, rumo ao elevador.

- Mas porque eles dizem isso? Você tem uma mãe...

- Mas ela não gosta de mim.

Silenciei. Pela primeira vez na vida, eu, acostumada a encontrar argumentos até mesmo embaixo de pedras, não tinha um sequer para lidar com aquela confissão.

- É claro que a sua mãe gosta de você!

- Mas ela não penteia meu cabelo, ela não vê filmes comigo como o meu papai faz, e nem brinca de bonecas. Ela diz que isso é coisa de menina boba. Você também acha isso tia Annie?

Os pequenos olhos esverdeados se voltaram pra mim, e eu pigarreei buscando palavras enquanto apertava o térreo.

- É claro que não - neguei - Quando eu era pequena, quase do seu tamanho, eu adorava brincar de bonecas. Eu tinha várias!

- Eu também queria ter várias - abaixou o olhar - Mas o papai disse que assim que ele for Chef, vai me dar muitas e muitas - sorriu novamente, empolgada.

- Eu tenho certeza que sim - sorri para ela.

Então, ela segurou minha mão e caminhamos até chegarmos a pequena escola de fachada colorida e cheia de flores.

- É aqui tia - ela disse empolgada, como se tivesse sido ela a me guiar até ali.

- Chegamos sim - entrei com ela até a recepção - Então você pode ir - soltei sua mão a incentivando a encontrar suas colegas que a esperavam perto dali.

- Você não vai me dar um beijo? - pediu com os olhos brilhando.

- Um beijo?

- É, meu papai sempre me da um beijinho para que eu tenha uma boa aula. Sempre da certo - ela piscou. Eu ri, Chloe certamente havia herdado aquilo do pai, sem dúvidas.

- Tudo bem - abaixou até que ficasse na altura dela - Uma boa aula pra você - beijei sua bochecha e senti ela envolver os pequenos braços no meu pescoço, apertando com carinho. Sorri involuntariamente com aquele gesto.

- Obrigada tia Annie!

E lá se foi, correndo até encontrar o pequeno grupo de meninas com mochilas de rodinha e lancheiras cor-de-rosa. Um sentimento bom preencheu meu coração imediatamente, era algo novo, que eu nunca havia sentido antes.

Muitas coisas estavam mudando, ou era apenas o medo de vivê-las que estava me impedindo de tê-las saboreado antes?

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