009

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Alguns dias se passaram, eu sempre compenetrada nos assuntos do trabalho e evitando todo e qualquer convite de Dulce e Maite pra festas. Alfonso havia me ligado apenas na noite anterior, terminamos combinando um encontro na casa de festas infantis no fim da tarde. Eu havia prometido ajudá-lo e assim o faria.

- Eu não sei que tema escolher....aqui tem várias opções - ele riu enquanto folheava o portfólio no balcão da recepção.

- Se você me disser do que ela gosta  dei de ombros - Talvez eu possa ajudar você a escolher.

- Hmmmm...ela gosta de princesas, essas dos filmes da Disney, aquela com vestido azul, é a preferida.

- Cinderela - eu sorri - Então vamos precisar de um belo vestido, podemos escolher arranjos de mesa, bastante flores....ela vai adorar - disse empolgada enquanto me equilibrava sobre os sapatos, andando pelo corredor.

- Ei, vai com calma - ele riu seguindo atrás de mim.

- Moço, você consegue alcançar aquela coroa pra mim? - pedi ao vendedor que prontamente me estendeu a pequena coroa cheia de brilho e pedras - Obrigada! Olha - mostrei a Alfonso - Vai ficar lindo, tenho certeza - o puxei pela mão -Vem, ainda temos que escolher os balões, os painéis, as toalhas....


- Acho que já tá bom né? - ele olhava pra mim com uma cara cansada. Nós dois já estávamos sentados no chão, enquanto tentávamos escolher as lembrancinhas. Eu com pernas da índio e ele com as pernas esticadas.

- Acho que sim - olhei ao meu redor - Caso a gente esqueça alguma coisa ainda vai ter tempo pra você comprar...a festa é só na semana que vem - aceitei a mão que ele me estendia, e levantei ajeitando a minha roupa. Meus cabelos estavam presos em um coque frouxo.

- Está super tarde, o que acha de irmos comer algo? 

- Seria ótimo, eu estou morrendo de fome - dei uma risadinha sem graça.

Assim que ele pagou a conta e acertou os últimos detalhes como o horário da festa e o contrato de prestação de serviço, nos saímos da loja. Ele olhou pra mim, e entregou-me um capacete. Ok, ele só podia estar louco a ponto de acreditar que eu iria a algum lugar naquela moto.

- Ei, do que está rindo? - pedi furiosa. Ele me olhou com um meio sorriso.

- Sobe, anda.

- Eu não vou subir nisso não - neguei - Não mesmo.

- Vai ser divertido....e eu prometo que vou devagar, não precisa ficar com medo.

- Eu não estou com medo - rolei os olhos.

- Tá sim - riu.

- Não estou não.

- Tudo bem, se preferir, você pode ir apé....arranjar um táxi esse horário aqui nesse bairro é praticamente impossível.

Mordi os lábios fitando o chão.

- Ok, você venceu - ajeitei o capacete meio contrariada e ele fechou-o pra mim.

Sentei na moto meio insegura, não era o tipo de coisa que eu costumava fazer. Então ele conduziu minhas mãos até a própria cintura e eu segurei firme, sentindo o medo e ao mesmo tempo o calor que aquela aproximação toda me causava.

Andamos por vários restaurantes e todos, absolutamente todos estavam lotados, também pudera, eram nove horas da noite de uma sexta-feira, conseguir jantar em um lugar decente sem uma reserva prévia era como achar uma agulha em um palheiro: praticamente impossível.

- Droga - resmunguei assim que recebemos mais uma resposta negativa do manobrista. Realmente não era meu dia.

- Eu sei de um lugar em que a gente pode comer - ele disse meio incerto - Não é o tipo de lugar que você deve frequentar....mas eu juro que o sabor é magnífico.

- Qualquer coisa...eu estou realmente com fome, e meu humor fica péssimo quando estou assim.

Ele riu e arrancou com a moto sem muitas explicações. Andamos mais uns dois quarteirões e ele estacionou em frente ao Museu de Arte. Eu franzi o cenho confusa, até que me deparei com uma carrocinha de cachorro quente. Franzi o cenho, mas preferi não contrariar. Meu lado hipocondríaco dizia que comer comida de rua era o mesmo que implorar por bactérias no meu estômago, mas meu lado faminto dizia que estava desesperado para ingerir qualquer coisa.

- E então Seu José, como está a noite? - ele cumprimentou o velho senhor, de boina e avental branco. eu apenas observei.

- Ah, olá Poncho, nem vi você chegar - lhe cumprimentou - Está meio calma, mas hoje é seta-feira não é? É comum....E o que vai pedir hoje?

- Pra mim o mesmo de sempre, e você Anahí - se voltou pra mim - O que vai querer?

- Eu como o mesmo que você - disse sem graça.

- Dois tradicionais então, Seu José.

Não demorou muito até que o senhor entregasse os lanches a ele. Então eu me sentei de lado na moto dele, enquanto ele parava em pé, logo ao lado.

- Hmmm - murmurei engolindo - Tenho que confessar que esta divino.

- Eu sabia que a falta de luxo seria compensada - ele deu um meio sorriso me observando. Eu corei, sem graça.

- O que te faz pensar que eu frequento apenas lugares luxuosos? - arqueei uma sobrancelha.

- A forma como se veste, as pessoas com quem anda...aquele cara, o herdeiro do Hilton - o interrompi.

- Como você sabe quem ele é?

- Ele sempre almoça no restaurante em que eu trabalho, aliás, sempre faz questão de frisar a sua posição social.

- Não quero que entenda que eu - ele me interrompeu.

- Você é completamente diferente como ser humano...nunca deixe essas pessoas te influenciarem, nesse mundo de futilidades. Esse Edward, com certeza é um idiota, que não merece estar com você.

- Alfonso, se pudermos não tocar mais nesse assunto.

- Obrigada por me ajudar com as compras da festa...foi uma verdadeira mão na roda - sorri.

- Foi divertido, uma ótima oportunidade de distração.

- Eu pude perceber...se Chloe estivesse junto, não sei de qual das duas crianças eu teria que tomar conta - brincou me deixando morta de vergonha. Alfonso era a única pessoa que conseguia me deixar tímida, e isso era extremamente estranho - Aliás, está sujo aqui - ele apontou o próprio rosto.

- Aonde? - tentei limpar em vão - Saiu?

Ele negou se aproximando, até parar na minha frente.

- Aqui - levou o polegar à minha bochecha, limpando com um carinho suave ali.

E ele sorriu, encostando os lábios em um beijo carinhoso, no lugar onde havia acabado de limpar.

- Pronto - sorriu se afastando - Agora está limpo.

Senti meu corpo fraquejar quase denunciando o quanto eu estava afim de que ele movimentasse a boca um pouco mais para a lateral e tomasse meus lábios como se fossem seus. O fato é que eu não podia, e essa aproximação toda já estava indo longe demais.





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