Eu havia passado a semana ocupada demais com o caso dos Nichols. Sequer havia tido tempo pra pensar em Alfonso durante esse tempo, e no quanto, de certa forma, eu me senti decepcionada por ele ter uma filha pequena.
Até porque, aquilo significava três coisas: 1. Ele havia tido uma relação recente, 2. Essa relação provavelmente havia sido forte o suficiente para que os dois decidissem ter um filho e 3. Aquilo significava um elo eterno com outra mulher. Não que eu estivesse interessada nele, obviamente.
Eu estava absorta na mesa do tribunal. A primeira audiência havia acabado de uma forma totalmente vergonhosa e desfavorável. Todos ja haviam saído, e o policial ja me olhava com um semblante feio de que era hora de eu vazar caso não quisse ser expulsa dali a pontapés.
Apanhei minha bolsa e as chaves do carro e dirigi até o Central Park. Então caminhei um pouco (já que meus pés estavam esmagados dentro dos meus malditos scarpins de bico fino) e sentei-me em um banquinho vazio que tinha ali.
Prendo os cabelos em um coque frouxo e tirei o blazer, dobrando os pulsos da camisa branca. Que diabos estava acontecendo comigo? Justo eu que não me permitia fraquejar, ou falhar em nada, estava perdendo um caso. Talvez um dos mais importantes dentre todos os que Thomas ja havia me delegado. Eu estava chateada, me sentia imponente. Chace me ligo pedindo pra que eu não ficasse assim, mas eu estava bastante resignada.
Ouvi o barulho dos pássaros que brincavam entre o céu e a água do lago. Era um dia lindo, realmente. Quando baixei o olhar fitando minhas unhas que começavam a descascar, uma voz infantil e doce soou aos meus ouvidos.
- Oi tia Annie!
Era quase inaudível, ela tinha a boca cheia de algodão-doce cor-de-rosa, e o rosto estava completamente lambuzando.
- Chloe - olhei pra ela surpresa - O que você está fazendo aqui?
- Passeando, né tia Annie! - ela disse como se fosse óbvio e eu quase ri.
- Onde está o seu pai? - estranhei
Ela deu de ombros.
- Eu não sei.
- Ai meu Deus, como você não sabe? Ele deve estar preocupado...atrás de você.
- Tia, você está triste? - olhou-me com compaixão e eu neguei com a cabeça. Mais alguns minutos fitando aqueles pequenos olhos verdes e eu seria capaz de deixar meu pânico infantil de lado.
- Deixa isso pra lá está bem? Vem, me dá a mão....vamos encontrar o seu pai.
Nós demos algumas voltas pelo parque até que encontramos Alfonso desesperado enquanto conversava com algumas pessoas que haviam por ali. Assim que nos viu, imediatamente correu em nossa direção.
- Chloe - ele a abraçou forte, com preocupação - Quantas vezes o papai já disse que não pode ir pra longe? Heim meu amor?
- Mas eu estava com a Tia Annie.
- Não importa - salientes - É perigoso andar sozinha por ai.
- Obrigada Anahí - ele levantou de supetão me envolvendo em um abraço.
A princípio me assustei, mas foi inevitável não me sentir envolvida pela colônia que ele usava misturada com a loção pós barba. As mãos firmes abraçando meu corpo, fazendo com que eu sentisse arrepiar todas as fibras do meu ser.
- Esta tudo bem....só tome cuidado da próxima vez - murmurei sem graça - Qualquer outro poderia a ter encontrado e sabe-se la o que poderia ter acontecido.
- Você tem razão...redobrarei minha atenção a partir de agora.
- Papai, sabia que a tua Annie está triste? - ela contou ao pai e eu praguejei em pensamento. Tudo o que eu não queria era ficar ali e ter que dar explicações.
- É mesmo? É que tal se nós fizéssemos algo pra deixa-la feliz? - olhou pra mim sugestivo e eu começava a cogitar a ideia de sair correndo rumo ao meu apartamento.
- Tipo o que? - ela levou o dedo lambuzado até a boca, tímida.
- O que faz você ficar feliz?
- Tomar bastante sorvete de morango com calda de chocolate - ela disse empolgada batendo palmas.
- Sorvete é uma ótima idéia - sorriu - E então Anahí, aceita o nosso convite pra tomar um sorvete?
- Eu acho que não é uma boa idéia, eu tenho mesmo que ir pra casa.
- Só alguns minutos, vamos? - ele me olhou com aquela cara de cachorro-que-caiu-do-caminhao-da-mudança que eu costumava fazer quando precisava convencer.
- Sério Alfonso, eu estou super cansada e além do mais - fui interrompida por Chloe.
- Vamos tia Annie? O papai deixa a gente por bastante cobertura - olhou pra ele sapeca.
Suspirei com as mãos na cintura. Parece que aquela era uma batalha perdida.
- Tudo bem, eu aceito....Mas não vou demorar, sim?
Não demorou até que chegássemos a sorveteria. Eu pedi uma salada de frutas com sorvete enquanto Alfonso dividia com Chloe uma taça de sorvete cheia de calda de chocolate e confeitos, até que ela deixou o sorvete de lado e foi até o playground, sempre sob a supervisão atenta de Alfonso.
- O que foi?
- Oi? - tirei minha concentração da taça de sorvete e voltei os olhos pra ele.
- Você está calada...tem algo te incomodando? - olhou-me ternamente. Soltei o ar de uma vez pelas narinas.
- Na verdade....Sim, tem sim.
- Quer me contar? As vezes desabafar ajuda - deu de ombros.
- Não é nada demais....São coisas do trabalho...não quero te incomodar com isso - voltei a olhar pra colher na minha frente. Eu definitivamente não estava em um bom dia.
- Bom, qualquer coisa que precisar, estamos aí - disse gentilmente - Eu tenho andado um pouco ocupado - coçou a nuca - Mas quando quiser pode me ligar, ou tocar a companhia - nos rimos.
- É algo em que eu possa ajudar? - devolvo a gentileza.
- É que na semana que vem vai ser o aniversário da Chloe na escolinha e bem...Eu não entendo muito sobre princesas, fadas e essas coisas de meninas - rolou os olhos e eu achei graça.
- Homens! - brinquei - Tudo bem, e no que mais precisamente tem dúvida?
- Cores, decoração...seria bacana ter uma opinião feminina, se não fosse atrapalhar você, é claro.
Eu pensei por um momento. Aquela aproximação toda era perigosa demais, ainda mais quando resultava de uma festa infantil. Mas talvez fosse uma boa forma de mudar um pouco o foco dos meus pensamentos, deixar um pouco de lado o trabalho, além do mais eu era expert em decorar festas. É, talvez fosse mesmo uma boa idéia.
- Eu posso ajudar você sim...basta me dizer quando.
E então o que eu mais temia aconteceu. A voz grave e excêntrica soou aos nossos ouvidos. É ao me virar me deparei com o terno Armani, alinhadissimo e os cabelos irritantemente penteados.
- Annie! Que bom que encontrei você....Chace me disse que estava..Hmmm..meio chateada?

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O Antídoto
RandomAnahí Portilla é uma garota nova-iorquina de 27 anos. Moderna e bem-sucedida, ela só quer uma coisa da vida: ser feliz! No entanto, quando não está tentando salvar o mundo - ela é advogada de uma ONG que trata de assuntos ambientais - ela está lutan...