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- Alfonso, Alfonso - Maite maneou a cabeça negativamente debruçando os braços sobre a mesa - O que eu faço com você?

- Você veio até aqui pra me ajudar, ou pra me julgar? - pediu irritado.

- Eu te contei tudo, até os menores detalhes do que a Annie passou com o Rodrigo, arriscando até perder minha amizade de anos com ela, e você me da uma bola fora dessas? Pensei que você fosse diferente.

- Eu só fui sincero...

- Você foi um idiota, isso sim.

Alfonso suspirou, encarando as próprias mãos.

- O que eu faço agora Maite?

- Se eu bem conheço a Annie - deu um gole no café - Ela não deve estar querendo te ver nem pintado de ouro.

- Obrigada por me dar esperanças - rolou os olhos, em ironia.

- De nada manézão - deu um tapa na nuca dele - Tudo bem - suspirou - Eu vou te ajudar, mas saiba que se você pisar na bola com a Annie outra vez, eu não por intervir, nem que você me peça de joelhos. Só estou fazendo isso porque sei que ela te ama, e sei o quando está sofrendo longe de você.

- Mai, eu só quero mais uma oportunidade. É tudo o que eu preciso.




Eu estava sentada na sala com Christopher. Nós dois olhávamos as imagens da primeira ultrassonografia que havia feito três dias atrás, com Dul e Mai. Christopher insistia em me convencer a colocar os nomes mais improváveis no bebê, como Egypt pra menino e Summer Rain pra menina. Quem em santa consciência chamaria a filha de "chuva de verão"? Tá legal, a Christina Aguilera, mas definitivamente meu bebê não teria um nome desse nem nos meus piores pesadelos.

De repente, me peguei pensando no quanto gostaria de estar fazendo isso com Alfonso. Nós dois sentados no tapete da sala, ele com a cabeça no meu colo como sempre gostava de fazer. Tomaríamos chocolate quente, enquanto conversaríamos e faríamos diversos planos sobre nosso filho que estava por vir. Eu acariciaria seus cabelos, e daria um sorriso bobo, assim que as sugestões dele fossem completamente inconcebíveis e imaginárias. Era típico dele: voar com os pés no chão.

- An, está me ouvindo? - escutei Christopher, despertando do transe de segundos atrás.

- Estou, do que você falava mesmo? - franzi o cenho e ele riu. De repente ficou sério.

- Você sente falta dele não é? 

- Lá vem você com essa história outra vez...- resmunguei.

- Eu sei que o que ele disse foi completamente idiota, mas será que não há nenhuma possibilidade de você, digamos perdoá-lo? Ele ama você. Tenho certeza disso.

- Ucker, não vamos falar disso agora está bem? Eu não estou preparada pra encarar isso.

- Já reparou que você sempre está fugindo dos seus problemas?

- O que você está querendo dizer com isso? - o fitei, irritada.

- Que você sempre deixa as coisas pra serem resolvidas depois, sempre prefere deixar as coisas estáticas quando elas tem de ser resolvidas. Uma hora ou outra você vai ter que encontrar com ele, vocês vão ter um filho juntos, independentemente da sua vontade ou da dele. Acho que o mínimo que você deve fazer é encarar as consequências dessa escolha e se resolver com ele, de uma vez por todas - suspirou.

- Alfonso não parece estar querendo se resolver comigo - disse sarcástica, com a mágoa rasgando a voz - Fazem dois  dias que ele se quer liga pra saber como estamos.

- Ele esta sofrendo, pode não parecer, mas ele está desolado. Eu o vi saindo, ontem a tarde - mordi os lábios, aflita - A roupa surrada, a barba por fazer. Alfonso esta desolado longe de você.

- Você - suspirei - Você acha mesmo que ele está sofrendo?

- Sem dúvidas.

- Ucker - o chamei, chorosa, depois de um longo período de silêncio.

- O que foi? - me olhou, com pena.

- Porque as coisas tem que ser sempre tão difíceis pra mim? - chorei, um choro doído. Christopher me abraçou com carinho, afagando meus cabelos com a mão livre. Eu me aninhei no peito dele, me sentindo protegida. Ali eu não precisava fingir pra ninguém que tudo estava bem quando não estava. Ali eu podia ser eu mesma, podia ser Anahi, sem muralhas ou armaduras.

- Aonde você vai? - pediu assim que me levantei.

- Vou ligar pra Mai, ver se ela quer dar uma volta, tomar um sorvete - dei de ombros, enxugando as lágrimas - Preciso mesmo espairecer, tomar um ar.



- Alô?

- Até quem enfim você atendeu! Seu afilhado não para de implorar por um sorvete de chocolate com bastante calda de morango, será que você pode ser uma madrinha competente e acompanhar a mãe dele até a sorveteria? - brinquei. Ela riu, do outro lado da linha.

- Ai amiga, eu adoraria, mas hoje não vai rolar.

- O que você está fazendo? - franzi o cenho, brava.

- Eu, eu - suplicou a ajuda de Alfonso, que prendia mais uma bexiga ao teto - Eu, eu...

- Você o que Maite? Está tudo bem? - pedi preocupada.

- Eu estou com o Koko. É isso, eu estou com o Koko, vamos sair pra jantar, só vou chegar em casa tarde. Desculpa, não vou poder te acompanhar....Mas podemos combinar algo amanhã.

- Tudo bem - respondi meio contrariada - Divirtam-se

- Amo você, bye!



- Aonde você vai? - pedi a minha mãe, assim que entrou no meu quarto, com um vestido sensual, e sapatos de salto alto. Estava maquiada também.

- Vou a uma festa - girou, fazendo pose - Como estou?

- Como uma periguete da terceira idade - rolei os olhos, voltando a atenção a revista que lia.

- Ótimo - conferiu o próprio reflexo - É isso mesmo! Bom, comportem-se - beijou-me e eu balancei a cabeça negativamente.

- Você já está pronta? - Christopher pediu, totalmente perfumado e arrumado.

- Vai sair também? - o olhei curiosa.

- Sim, vou levar a Dulce pra jantar no Meet - coçou a nuca. Eu o encarei raivosa.

- Ah mas você não vai não.

- Vou sim, aliás ela já deve estar me esperando - conferiu o relógio - Já estamos atrasados mãe.

- Vocês vão mesmo me deixar aqui sozinha? - supliquei chorosa.

- São apenas algumas horas querida, você sabe se virar.

- Qualquer coisa me liga - Christopher despediu-se com um beijo na minha testa - Cuide-se.

Então era assim que ia ser? Todos tinham programas interessantes menos eu? Vesti uma roupa de frio, calcei as botas e fui pra sala atrás das minhas chaves. Quem disse que eu precisava deles pra tomar um sorvete de chocolate estava bem enganado. Girei as chaves na maçaneta, enrolando um cachecol ametista da Marc Jacobs no pescoço. Assim que cruzei a porta dei de cara com um pequeno envelope dourado ao chão. O abri com curiosidade, talvez o Sr. Joseph, o porteiro, tivesse esquecido de junta-lo à nossa correspondência. A folha branca tinha uma caligrafia perfeitamente reconhecível aos meus olhos. Era de Alfonso. E era um convite.  

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