Amanheceu. Era uma quinta-feira de mais um dia desse verão escaldante. Dia este hiper salvo pelos ar-condicionados instalados na casa. Como sou do inverno super agradeci. Então a manhã transcorreu de forma pacífica e sem incidentes.
Uma coisa que eu ainda não havia pensado: eu teria que passar meu aniversário ali. Seria dia 16 de janeiro. Minha mãe com certeza também não tinha pensado nisso.
Será o pior aniversário. Pensei, derrotada, sentada na escada em frente à casa, após ter almoçado.
Eu passaria o tal dia longe da mamãe e de Emili, que eram, naquele momento, as únicas pessoas importantes na minha vida. Meu aniversário de 18 anos. Eu já estava querendo gritar e sair correndo pelas ruas. Mas seria melhor não pensar no assunto, pelo menos por enquanto. Eu ainda poderia fugir dali antes disso.
- Leninha! - Lu chamou, aparecendo à minha frente e levemente me assustando. - Desculpa.
- Tudo bem - falei, abrindo um sorriso quase imperceptível.
Ana, a babá, estava do lado dela.
- Você quer brincar? - Luíza indagou.
- Eu? Brincar?
- É. Ali atrás da minha casa. Lá tem um jardim.
- Eu vi. Mas você quer brincar de quê?
- De bola - ela disse, apontando para o objeto redondo que eu não havia reparado nas mãos de Ana.- Ela prefere bola do que qualquer outra coisa - a babá falou, sorrindo.
Tínhamos mais uma coisa em comum. Na infância, sempre que eu podia, trocava as bonecas por uma bola de futebol. Não que eu fosse fã de exercícios nem nada, mas a brincadeira era divertida e tudo ficava melhor quando eu via a cara dos garotos que não aceitavam o fato de eu ser melhor do que eles nisso.
- Pois fique sabendo que eu sou craque de bola. Vamos lá? - eu disse, desafiando-a.
- Coitada! - ela falou, com jeito de adulta e as mãos nos quadris. Depois saiu correndo na frente.
Sempre fui do tipo que gostava de crianças, só que bem longe de mim, já que eram barulhentas, birrentas, choronas e melequentas. Mas aquele pedaço de gente estava me conquistando cada vez mais.
Eu e Ana fomos atrás dela, rindo.
Nós três passamos a tarde toda jogando bola, de um jeito bem irregular e infantil, porém muito divertido. Ficamos correndo pra lá e pra cá às gargalhadas, só parávamos em alguns momentos para tomar ar e descansar. Até que Maria, que também trabalhava na casa, apareceu trazendo um lanche para nós.
Ela era uma mulher morena, baixa, magra, de idade aproximada a de Ana e seu cabelo crespo estava preso em um coque alto. Maria veio com uma cesta enorme nos braços, cheia de guloseimas maravilhosas.
- Só faltou a toalha xadrez pra ser um piquenique completo - Ana disse.
- Não falta mais - Maria falou isso mostrando a toalha que havia trazido numa sacola.
- Uau, você pensou em tudo! - dessa vez fui eu quem exclamou. - Senta aqui com a gente, Maria.
- Acho que não posso.
- Pode sim - Lu e Ana falaram ao mesmo tempo.
Imediatamente perceberam o que haviam dito e pularam em cima de mim, tocando na minha blusa e gritando:
- Peguei no verde!
- Toquei primeiro - Lu disse.
- Não senhora - Ana negou.
![](https://img.wattpad.com/cover/53927460-288-k549450.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Verão de HELENA
Teen Fiction"Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo uma maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas be...