Capítulo 15 - Pegação

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A rotina já havia sido reestabelecida na casa, com a volta das meninas ao trabalho e a despedida de Glória. O clima parecia estar bastante agradável, apesar de eu ter certeza de que todas já sabiam sobre o que rolou no Natal. Mas o fato de a casa estar em paz, pode muito bem ter se dado pela ausência de Marcos ali. Maria e Ana pareciam sempre confortáveis diante dele, mas quando o homem ficava irritado, eu via as garotas se encolherem de medo a cada palavra proferida por ele. Agradeci por elas não terem presenciado a cena da ceia.

Desci até a sala pela manhã, com receio de que Marcos se encontrasse sentado à mesa, se ele estivesse lá, eu certamente iria tomar meu café-da-manhã na cozinha, de bom grado. Porém, o pai de Luíza já tinha viajado bem cedo naquele dia, para a minha alegria.

Não vi vestígios de mal-estar no modo que Luíza se comportou quando sentei à mesa. Isso fez eu sentir-me menos culpada. Até tentei procurar a menina no dia anterior para conversar sobre o ocorrido, mas não a vi em lugar algum. Fiquei sabendo depois que ela tinha passado o dia na casa de um coleguinha.

- Samanta, mais tarde tem uma festa pra eu ir com meus amigos. Tem algum problema se eu for? - me senti na obrigação de perguntar, já que a mulher estava sendo bem legal comigo.

- Já que nem seu pai, nem sua mãe estão aqui, você sabe que eu estou com a responsabilidade de estar de olho em você, não é? - ela começou. -Então vamos combinar um horário certinho pra não haver problemas?

- Por mim tudo bem. Mas não se preocupe.

- Vou tentar não me preocupar - Samanta sorriu. - E onde será essa festa?

- Em um clube com piscina - Bia me passou essas informações logo cedo. E eu fiz uma nota mental de não entrar na água.

- Não se meta em encrenca.

- Eu nunca me meto em encrencas - sorri para tranquilizá-la.

O dia correu tão rápido quanto o Usain Bolt e quando eu percebi já estávamos no final da tarde. Foi quando Hugo me ligou, dizendo que estava na frente da casa de Marcos, me esperando. Fui pega de surpresa, já que não tínhamos marcado nada, mas peguei o livro de fotografia que eu tinha comprado para o garoto e fui lá falar com ele.

A gente não havia se falado desde a madrugada em que ele me deixou sozinha com meus problemas. Eu estava certa de que não iríamos mais nos ver.

Hugo estava de bermuda e camisa e parecia aqueles astros de filme californiano. Sempre apresentável.

- E aí? - falei com a maior naturalidade do mundo.

- Oi, Lena - ele se aproximou para dar um beijo em meus lábios, mas eu virei e o beijo acabou sendo na bochecha mesmo. - Desculpa eu não ter podido ficar falando com você naquela noite. Você está bem?

- Estou ótima. Meu amigo cuidou de mim. Acho que foi o único que se interessou de verdade em saber como eu estava - eu disse, com um sorriso no rosto que chegou a ser robótico de tão falso. Ele pareceu ficar sem graça.

- Eu estava tão ocupado. Desculpa.

- E o que estava fazendo?

- An... - ele pareceu estar sendo pego de surpresa com a pergunta. - Fotografia. É. Eu estava resolvendo algumas coisas do trabalho com o pessoal de São Paulo. Era urgente.

Eu olhei para ele desconfiada, então ele chegou perto de mim novamente e colocou a mão em meu pescoço.

- Prometo que não vou te deixar mais sozinha quando estiver mal, tá? - ele continuou falando. - Quer me falar o que houve?

- Já passou - eu disse, enquanto ele levantava meu queixo e encostava sua boca na minha. Eu não senti que precisava me afastar, apenas retribuí.

O Verão de HELENAOnde histórias criam vida. Descubra agora