- Alô? - Hugo atendeu quando eu estava quase desistindo.
- Você está ocupado? - perguntei.
- Um pouco. Mas Feliz Natal! - ele disse, soltando uma risadinha.
- Pra você também. É que não estou muito legal, problemas em casa e tal, então eu queria falar com alguém - eu disse com melancolia na voz e completei em seguida: - Mas já que está ocupado, a gente se fala outra hora.
Naquele segundo, achei que Hugo fosse deixar de lado qualquer coisa que estivesse fazendo, para ficar mais alguns minutos falando comigo.
- Tá bom. Espero que fique bem. Não gosto de saber que você está triste. Promete que vai ficar legal?
- Claro - falei. Ele não iria desligar e me deixar sozinha assim.
- Tchau. Um beijo - e deixou, encerrando a ligação antes de ouvir minha resposta.
- Tchau pra você também - sussurrei, com o celular já longe do ouvido.
Suspirei de frustração e virei para o lado. Por que dou ibope pra ele? Não se ouvia som nenhum na casa depois do acontecido e aquele silêncio estava martelando no meu cérebro e me enlouquecendo.
00:48 A.M.
Liguei para André. Não adiantava fingir que outra pessoa, que não fosse ele, poderia sossegar meu coração. E eu não queria incomodar as meninas àquela hora.
No começo eu só conseguia sentir uma raiva extrema por esse garoto, mas é incrível pensar que tão rapidamente, meus sentimentos por ele se transformaram em uma amizade imensamente forte, embora misturada a algo que eu não conseguia nomear no momento.
- Feliz Natal - falei, depois de seu alô, tentando manter a voz firme e fracassando miseravelmente.
- O que houve? - ele perguntou, com um quê de preocupação na voz.
Fiz um breve resumo da situação e perguntei:
- Você está ocupado?
- Que pergunta! Se eu tivesse ocupado, desocuparia imediatamente. Chego aí em oito minutos e meio, no máximo nove.
- O quê? Você vem me ver? Essa hora? - perguntei, meio abismada.
- Claro que sim. E não adianta dizer não. Meu tempo está correndo. Quando eu chegar, você vai saber.
- Brigada - sussurrei, com a voz falha.
Minha distração até o meu amigo aparecer, foi ver os segundos diminuindo. Mas eu já estava feliz só por saber que ele se importava mesmo comigo. Meu coração se encheu de enternecimento.
Oito minutos e quarenta e cinco segundos depois, eu contei, ouvi o barulho de uma pedrinha batendo na janela de vidro do quarto, corri até ela. Abri as janelas e ele estava lá embaixo. Eu sorri levemente.
- Pedrinhas na janela, é? Bastante clichê - falei baixo, mas de modo que ele pudesse ouvir.
Mesmo escuro, vi que André estava usando calça jeans, camisa de manga e sapato, e trazia consigo uma sacola. Mas o que mais me chamou atenção foi que a metade de seu cabelo estava presa em um coque samurai. Ele estava incrivelmente bonito daquele jeito.
- Você não viu nada. Ei, Rapunzel, jogue seus cabelos! - exclamou, abrindo os braços, e eu ri baixinho. - Tudo bem, vamos pelo método comum. Volto já.
- Aonde vai? - perguntei, mas ele só indicou com a mão para eu esperar, colocando a sacola no chão e sumindo de vista.
Alguns segundos depois, ele aparece com uma escada enorme nos ombros.
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O Verão de HELENA
Novela Juvenil"Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo uma maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas be...