As pessoas caminhavam despreocupadamente pela rua naquela noite, com sorvetes ou batatas fritas nas mãos e sorrisos nos rostos. Era inevitável não reparar em seus olhos, que brilhavam de excitação. Talvez aquele céu estrelado tivesse algum efeito sobre todos. Ou talvez tenha sido só o fato de eles estarem comendo. Mais provável.
Eu já estava cansada de esperar meus amigos sozinha na frente daquele hostel. Pedro havia chegado da empresa há pouco tempo e correu para se arrumar, os meninos estavam com ele. Eu fiquei esperando com as gurias, mas elas acabaram entrando também.
- Que saco! - suspirei e encostei meu ombro em um poste.
Olhei as horas no meu celular de tela rachada e o guardei dentro da calcinha que eu vestia por baixo da saia preta de couro. Acabei esquecendo qual a hora que eu havia visto, então peguei o celular novamente. Já eram 20h35.
- VAAAMOS! - Pedro gritou bem no pé do meu ouvido e eu dei dois pulos.
- SEU MISERÁVEL! - gritei de volta e nesse momento uma criança começou a chorar em algum lugar por ali.
- Olha o que você fez - Pedro falou, olhando sério para mim e indo em direção a uma mulher que segurava um bebê enrolado nos braços. A criaturinha berrava descontroladamente. - Desculpe, senhora. A minha amiga aqui sofre de um transtorno neuropsiquiátrico muito grave, é uma síndrome bastante bizarra e sabemos que pelo seu descontrole emocional ela não deveria sair de casa. Mas acabou fugindo. Por isso mil perdões.
Ele fazia gestos e usava expressões sérias ao relatar. Eu só deixei meu queixo cair de leve. Pedro veio em minha direção e segurou meu braço, querendo me puxar para dentro, como se eu fosse uma doente mesmo.
- ME SOLTA, SEU IDIOTA. Você sabe que eu vou te matar por isso, não é? - puxei meu braço e bati nele, depois me aproximei da senhora e tentei explicar que aquilo era uma brincadeira. - Moça, meu amigo não está falando sério.
Ela arregalou os olhos quando eu cheguei perto e agarrou o bebê mais contra si.
- Gina, você está assustando a mulher. Vamos pra casa que você precisa tomar seu remédio urgente - Pedro continuou tentando me arrastar ao falar aquilo, então eu gritei mais uma vez e a mulher saiu correndo em desespero.
Bati no garoto até minhas mãos começarem a doer. Ele agora gargalhava sem controle, enquanto tentava se defender dos meus golpes. Reassumi minha postura pouco tempo depois e tirei os cabelos da minha testa suada.
- Eu te odeio! - exclamei e respirei fundo, foi quando eu vi as meninas se acabando de rir bem atrás de nós. - Ei, suas falsianes, vocês estavam aí o tempo todo?
Elas iam correr para dentro, mas André e Cabeça estavam saindo e interromperam a passagem.
- Nós perdemos alguma coisa? - o loiro perguntou, levantando uma sobrancelha e colocando o braço em volta da namorada que ainda tentava parar de rir.
- Gina está totalmente descontrolada. Não sei o que está acontecendo - Pedro disse com cinismo e eu só o fuzilei, literalmente, pois eu tinha uma metralhadora ali. Brincadeira.
- Já deu disso - decretei revirando os olhos e seguindo na frente deles, em direção a qualquer lugar.
Paramos em um barzinho muito bonitinho e legalzinho. Tocava música ao vivo e, pela arquitetura, parecia ter saído de algum filme americano de faroeste. Havia uma quantidade considerável de pessoas e foi difícil encontrar uma mesa vazia. No fim, só vimos cinco cadeiras desocupadas, então Bia fez questão de sentar no colo de Carabino, nem precisamos pedir. Que coisa!
- Hoje vamos todos dançar - ela afirmou.
- Eu não vou - me neguei. Eu já estava com sono e cansada do tempo que esperei aqueles vermes.
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O Verão de HELENA
Teen Fiction"Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo uma maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas be...